O pa�s que foi apontado como queridinho dos mercados durante o governo Lula tornou-se alvo da desconfian�a global na gest�o Dilma Rousseff. Com a m�o pesada sobre a economia, o Brasil passou a ser visto como uma na��o que n�o inspira confian�a, seja porque a infla��o est� persistentemente acima do centro da meta de 4,5% ao ano, mesmo com todas as interven��es do Pal�cio do Planalto, seja porque n�o tem conseguido repetir os bons n�meros de crescimento que faziam a cabe�a dos investidores. Essas fragilidades entraram com tudo no debate eleitoral.
Desde que Dilma tomou posse, em janeiro de 2011, o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a carestia oficial, roda pr�ximo de 6,5%, no limite da toler�ncia. E por uma raz�o simples. A institui��o que deveria combater a infla��o, o Banco Central, deixou a t�cnica de lado para assumir uma postura pol�tica com o objetivo de dar um trof�u � chefe do Executivo: a menor taxa de juros da hist�ria, de 7,25%, que durou apenas cinco meses. Diante do estrago que a disparada dos pre�os fez no or�amento das fam�lias, a presidente foi obrigada a liberar o BC para combater a praga que poderia destruir o sonho da reelei��o em 2014.
Mas, independentemente do aumento da taxa b�sica de juros (Selic), que j� est� em 9,50% e deve atingir 10% em novembro, as perspectivas s�o desanimadoras no que se refere � infla��o. At� pelo menos a metade de 2015, o IPCA continuar� muito acima de 4,5%, conforme proje��o do pr�prio BC. O Pal�cio do Planalto acreditou que, ao estimular a leni�ncia da autoridade monet�ria, o crescimento econ�mico ganharia vigor. Houve exatamente o inverso. O Produto Interno Bruto (PIB), que havia decolado 7,5% em 2010, �ltimo ano do governo Lula, despencou para 2,7% em 2011 e 0,9% em 2012. Com rela��o a este ano, a proje��o do mercado financeiro e do BC � de alta de 2,5%. Em 2014, o desempenho ser� pior: 2,20%.
Or�amento paralelo
Quem olha para o Brasil atual n�o o reconhece na fotografia de cinco anos atr�s, quando, em abril de 2008, recebeu o t�o sonhado grau de investimento da ag�ncia de classifica��o de riscos Standard & Poor’s (S&P). “O que mudou desde ent�o”, observa a economista Monica Baumgarten de Bolle, PhD em Economia pela London School of Economics, da Inglaterra, “foi que o pa�s passou a ter um dos governos mais intervencionistas dos �ltimos anos”. N�o � toa, o Brasil corre o risco de ser rebaixado nos pr�ximos meses pela mesma ag�ncia.
A gest�o Dilma produziu efeitos colaterais em diversas �reas da economia. Sob a avalia��o de que faltava dinheiro para as empresas investirem, o Tesouro Nacional autorizou repasses monstruosos aos bancos p�blicos. S� o Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) recebeu mais de R$ 400 bilh�es. Essa medida provocou um descolamento assustador na d�vida bruta, que, pelas contas do governo, chega a 60% do PIB e, do Fundo Monet�rio Internacional (FMI), bate nos 70%, n�vel de pa�ses em crise.
O que agiganta o assunto � o fato de esses repasses terem se tornado um or�amento paralelo sobre o qual a sociedade n�o tem a menor no��o. O governo se recusa a dar transpar�ncia aos n�meros. E mais: j� avisou que, por enquanto, os repasses aos bancos p�blicos, em especial ao BNDES, continuar�o, mesmo estando claro que a maior parte do dinheiro dos contribuintes usado pelo banco foi repassada a fracassadas empresas eleitas como campe�s nacionais. Os casos mais not�rios s�o os das companhias do grupo EBX, de Eike Batista, que est� se esfacelando. A lista inclui ainda o frigor�fico Independ�ncia, que quebrou. Isso, por sinal, pode ser uma das raz�es de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizer que n�o sabe quando o BNDES ressarcir� o Tesouro Nacional.
Os especialistas ressaltam que essa � apenas uma das pontas da desastrosa gest�o fiscal do governo. Na tentativa de mostrar uma sa�de que as contas p�blicas n�o t�m, o Tesouro, capitaneado por Arno Augustin, se especializou em manobras que minaram a confian�a do capital e, por tabela, o crescimento econ�mico. A maquiagem do superavit prim�rio (economia para o pagamento de juros da d�vida) deixou o empresariado arredio, sobretudo porque, por tr�s da contabilidade criativa, estava uma gastan�a desenfreada, que estimulava a infla��o. Para o economista Felipe Salto, da Consultoria Tend�ncias, essas opera��es s�o “a face mais obscura da economia brasileira”.
A destrui��o do superavit prim�rio, na avalia��o dos economistas, seria aceit�vel se o governo tivesse como �nico objetivo ampliar os investimentos em infraestrutura para modernizar a log�stica do pa�s. A op��o de Dilma, por�m, foi aumentar a m�quina p�blica para acomodar os aliados pol�ticos dos quais ela espera apoio para garantir o maior tempo poss�vel na televis�o durante a campanha � reelei��o em 2014. Pelas contas do Instituto Ilos de Log�stica e Supply Chain, o custo da log�stica no Brasil ficou maior entre 2010 e 2012, o primeiro aumento desde 2004. Os gastos das empresas com transporte, armazenamento, administra��o e estoques subiram de 10,6% do PIB para 11,5%, ou de R$ 391 bilh�es para R$ 507 bilh�es ao ano.
Vulnerabilidades
Diante desse quadro desolador, a ag�ncia de classifica��o de risco Moody’s p�s em xeque o modelo econ�mico adotado pelo Brasil. No relat�rio em que reduziu de “positiva” para “est�vel” a perspectiva da nota de cr�dito do pa�s, a empresa expressou preocupa��o com uma s�rie de problemas brasileiros: baixo crescimento, investimentos produtivos insuficientes, infla��o alta, contas p�blicas em processo de destrui��o. Esse mesmo retrato foi tra�ado — e desaprovado, com veem�ncia — pelo Fundo Monet�rio Internacional (FMI).
O organismo multilateral, inclusive, alertou que a d�vida bruta brasileira atingiu 68,5% do PIB em 2012. Por esse c�lculo, que � questionado pelo governo brasileiro, o pa�s det�m o quarto maior endividamento entre economias em desenvolvimento, ficando atr�s apenas do Egito, da Jord�nia e da Hungria (veja quadro).
O Brasil tamb�m est� no grupo das cinco na��es mais vulner�veis � mudan�a na pol�tica monet�ria do Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos. Motivo: o rombo crescente nas contas externas. A previs�o � de que, na melhor das hip�teses, esse buraco feche o ano em US$ 79 bilh�es. Para cobrir esse deficit, o pa�s ficou mais dependente de capital especulativo, que tender� a secar quando o Fed reduzir a inje��o mensal de US$ 85 bilh�es � economia norte-americana.