
Apesar de quem desdenha do poder dessas pequenas marcas, de refrigerantes a caf�, doces, queijos e iogurtes, elas j� respondem por at� metade das vendas de todo o grupo de concorrentes, segundo estimativas da Associa��o Mineira de Supermercados (Amis). Mais agressivos, os fabricantes come�am a virar o jogo tamb�m nos bares e restaurantes por meio da venda direta, que d� ao dono do estabelecimento maior seguran�a para manter a op��o no card�pio, informa a se��o mineira da Associa��o Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG).
Levadas pela liga��o que estabeleceram com os consumidores nos locais de produ��o, os refrigerantes regionais foram incorporados � estrat�gia de forma��o dos estoques dos supermercados e refor�am os card�pios dos restaurantes at� mesmo na disputa que parecia inating�vel na capital mineira. As empresas que erraram na estrat�gia, ignorando as marcas regionais, tiveram de voltar atr�s. O setor aprendeu, se aproximou da cultura regional e fala a l�ngua do consumidor local, destaca T�lio Fernandes Martins, vice-presidente de Opera��es, Marketing e Com�rcio Exterior da rede de supermercados ABC, com 25 lojas em 13 munic�pios das regi�es Centro-Oeste Sul, Alto Parana�ba e no Tri�ngulo Mineiro.
“O crescimento das marcas regionais j� � bem proporcional ao dos grandes concorrentes. Como temos a cren�a de ouvir sempre o consumidor, nos encostamos nesses fornecedores que s�o pequenas empresas e negociamos a entrega da produ��o deles at� mesmo diariamente na loja”, afirma T�lio Martins. Nos bares e restaurantes, da mesma forma, elas conquistam frequ�ncia maior, embora dif�cil de ser quantificada, de acordo com o presidente da Abrasel-MG, Jos� Fernando de Almeida J�nior. “As pessoas buscam experi�ncias novas no restaurante e elas est�o cada dia mais frequentes. O gargalo ainda � a log�stica de distribui��o, ante o complicado acesso dos pequenos produtores”, diz.
Concorda com ele Juliano Caldeira, dono do restaurante de carnes e bebidas ex�ticas Rima dos Sabores, que incluiu os refrigerantes regionais h� dois anos no card�pio. Depois de garimpar marcas no interior de Minas Gerais, o comerciante passou a oferecer Mate Cola, de Te�filo Otoni, no Vale do Mucuri; Pon-Chic, de Divin�polis, no Centro-Oeste ; Abacatinho, de Ub�, na Zona da Mata; al�m do famoso guaran� Jesus, de S�o Lu�s do Maranh�o, e de outras tuba�nas encontradas em S�o Paulo. O grande desafio � articular a entrega da mercadoria na casa, instalada no Bairro Prado, na Regi�o Oeste de BH.
H� casos em que a espera pelo produto chega a uma semana e situa��es como a encomenda feita a parentes que moram no interior, mas o resultado do trabalho compensa. S� neste ano, as vendas subiram 15%, no embalo das restri��es impostas aos motoristas pela Lei Seca e de consumidores mais exigentes. “As pessoas querem algo que fuja do tradicional, uma tend�ncia que vejo do consumo”, diz. O restaurante vende cerca de 800 refrigerantes por m�s.
Hist�rias e ra�zes Se o consumidor ficou mais exigente e rejeita a imposi��o dos grandes fabricantes, o crescimento das marcas regionais � prova, ainda, da necessidade que as redes varejistas t�m de se diferenciar numa concorr�ncia apertada, lembra Nuno Fouto, coordenador de Estudos e Pesquisas do Programa de Administra��o do Varejo (Provar) da Funda��o Instituto de Administra��o da Universidade de S�o Paulo (USP). “Vejo esse fen�meno como um movimento de busca de oportunidades pelas redes, baseado nas ra�zes regionais”, avalia.
A corrida atr�s dessas pequenas marcas relevantes ocorre n�o s� entre os supermercados e bares, mas passa por v�rios setores, como o do turismo, em que os clientes e os prestadores de servi�os est�o mais preocupados em resgatar a hist�ria dos lugares e reconstruir esses locais. O crescimento dos rendimentos dos brasileiros desde meados dos anos 2000 contribuiu para dar visibilidade a esses produtos, apesar da baixa escala de produ��o deles.
Origens do interior
Provocados pela demanda crescente de empresas como o emp�rio Sabores e Ideias, aberto h� tr�s anos no Mercado Central de BH, pequenos fabricantes se fortalecem sem abandonar as origens. Produzido desde o fim da d�cada de 40 em Divin�polis, o guaran� Pon-Chic � um bom exemplo de hist�ria bem-sucedida e registra aumento da produ��o de 20% no �ltimo ano. O refrigerante � comercializado nos munic�pios de Divin�polis, Nova Serrana, S�o Gon�alo do Par�, Perdig�o, Carmo do Cajuru, Pitangui, Pomp�u, Angel�ndia, Pedras do Indai�, Santo Ant�nio do Monte, Capelinha, Ara�jo e mais recentemente em BH.
Na Zona da Mata, o refrigerante de abacate Abacatinho segue firme na prefer�ncia do consumidor, sem pretens�es de crescer fora da estrat�gia de presen�a regional, a partir de Ub�, onde a f�brica est� instalada, como destaca o propriet�rio da empresa, J�lio Carona. “Existe mercado para todo mundo desde que o produto seja feito com qualidade e padr�es de higiene. Somos uma ind�stria pequena que tem o seu nicho de mercado”, afirma.
Atenta ao comportamento dos clientes, a dona do emp�rio Sabores e Ideias, B�rbara Vieira, escolheu 10 op��es de refrigerantes – entre eles Mate Cola, Artemis, de Patos de Minas, no Alto Parana�ba; Frutty, de S�o Gon�alo do Sapuca�, no Sul de Minas; e Abacatinho – para refor�ar o card�pio, que, at� ent�o s� oferecia Coca-Cola e Mate-Couro. A proposta de valoriza��o das marcas regionais vale para a bebida e os alimentos servidos na casa, atendendo um apelo que eles despertam no consumidor, ao remeterem � inf�ncia, � vida e aos h�bitos t�picos do interior do estado.
“O planejamento das compras � que tem de ser muito benfeito. O transporte � dif�cil e a validade desses produtos mais curta. H� casos em que os refrigerantes demoram at� dois meses para ser entregues”, afirma B�rbara. Como com outros produtos feitos por pequenas empresas, os fabricantes dependem da pol�tica das transportadoras de acumular cargas at� alcan�arem a capacidade total dos caminh�es para, ent�o, liberarem a viagem. Outro fator que estimula as marcas regionais, para T�lio Martins, da rede de supermercados ABC, � o bairrismo dos mineiros, que associam o sucesso de produtos locais ao desenvolvimento das cidades onde moram.