Estrelas da pauta das exporta��es de Minas Gerais e do Brasil, as chamadas commodities – produtos agr�colas, minerais e semimanufaturados com pre�os cotados no mercado internacional – ganham mais espa�o nas pol�ticas de inova��o e aperfei�oamento tecnol�gico da ind�stria, pressionada pela concorr�ncia apertada que a crise econ�mica mundial imp�e. Pouco restou do conceito cl�ssico de commodity, associado a itens fabricados em larga escala e de baixo valor. Min�rio de ferro, celulose e a�os s�o bons exemplos desse grupo de mercadorias que entraram na era moderna da personaliza��o, contando com a garantia de or�amentos anuais de investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Grandes empresas desses setores chegaram � sofistica��o de definir quase sob encomenda o produto que apresenta o melhor rendimento e a adequa��o perfeita � aplica��o desejada na f�brica do cliente. � a que se dedicam os pesquisadores da mineradora Vale no Centro de Tecnologia de Ferrosos, instalado em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, empreendimento em processo de amplia��o como parte de um aporte de recursos da companhia estimado em US$ 1,1 bilh�o neste ano em pesquisa e desenvolvimento.
Nas novas instala��es ser� testado, analisado e simulado todo o processo de transforma��o em coque metal�rgico do carv�o que a Vale come�ou a explorar na mina de Moatize, em Tete, Mo�ambique. A equipe do centro tecnol�gico j� trabalha com min�rio de ferro extra�do das reservas da Vale no mundo e tamb�m com os tipos considerados ex�ticos da mat�ria-prima, encontrados da Austr�lia � �ndia. Com o carv�o, a ideia � refor�ar o trabalho que se tornou refer�ncia mundial da Vale, entendendo e atendendo as necessidades dos clientes, informa Rog�rio Silva Carneiro, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento e Assist�ncia T�cnica da Vale.
“Fazemos uma abordagem personalizada do cliente, oferecendo solu��es espec�ficas. N�o se trata do simples fornecimento de min�rio. A tarefa � desenvolver produtos, o que envolve desde a qualidade qu�mica e mec�nica do nosso min�rio � estampagem do a�o”, afirma Silva Carneiro. Os primeiros equipamentos adquiridos pela mineradora para a expans�o do centro de tecnologia de Nova Lima come�aram a entrar em teste. Os objetivos n�o s�o diferentes da pol�tica conduzida pelo grupo Usiminas para o desenvolvimento de a�os especiais e sofisticados.
A sider�rgica anunciou no m�s passado ter sido certificada pela Petrobras para o fornecimento de chapas com alto conte�do tecnol�gico e caracter�sticas espec�ficas para aplica��o em tubula��es para transporte de �leo e g�s origin�rios dos campos de petr�leo do pr�-sal. Produzido em poucas sider�rgicas no mundo, de acordo com a Usiminas, o novo a�o resiste � trincas induzidas pelo hidrog�nio, que s�o cr�ticas nesse tipo de uso.
Fronteira tecnol�gica O presidente da Usiminas, Juli�n Eguren, diz que a chapa especial desenvolvida para a explora��o da cama do pr�-sal resultou da estrat�gia de transformar a empresa em fornecedora de solu��es que levem competitividade ind�stria de �leo e g�s. “� como atuar numa fronteira tecnol�gica. A Usiminas � refer�ncia na Am�rica Latina em patentes, registros e estudos e temos equipamentos, know-how e pessoal treinado para oferecer a�os mais sofisticados. Essa � uma das nossas prioridades”, diz Eguren.
Para o executivo, est� bem claro no Brasil o cen�rio de um pa�s que precisa de grandes investimentos, sin�nimos de a�os de maior valor. Com 17 laborat�rios e uma equipe de 145 profissionais, dos quais 63% s�o pesquisadores p�s-graduados, o Centro de Tecnologia da sider�rgica, instalado em Ipatinga, no Vale do A�o mineiro, investiu R$ 22 milh�es de janeiro a outubro em atividades de pesquisa e desenvolvimento.
Em Belo Oriente, no Vale do Rio Doce, a Cenibra, grande exportadora de celulose branqueada de eucalipto, mant�m investimentos constantes do desenvolvimento dos clones na floresta �s melhorias constantes no processo produtivo, passando pela pesquisa de novas aplica��es. O presidente da companhia, Paulo Eduardo Rocha Brant, destaca os campos novos de estudo da nanocelulose e de biocombust�veis a partir da madeira. “H� muita ci�ncia e tecnologia, inclusive na �rea de engenharia gen�tica, envolvidas na produ��o de celulose. Trabalhamos com tipos diferentes de produtos e um monitoramento de desempenho que n�o para”, diz o executivo.
Aten��o voltada � sustentabilidade
Quando a disputa pelos clientes ocorre no com�rcio internacional e com a caracter�stica da produ��o de grandes volumes, as empresas se veem obrigadas a buscar o diferencial de seus produtos � custa de inova��o constante. O novo ingrediente nessa briga � a dimens�o da sustentabilidade do neg�cio, que come�a a ser considerada na mesma esfera de import�ncia dos resultados econ�micos e financeiros, como observa a professora de inova��o da Funda��o Getulio Vargas Ingrid Paola Stoeckicht, presidente do Instituto Nacional de Empreendedorismo e Inova��o (Inei).
A busca pela diferencia��o inclui a oferta de servi�os agregados �s commodities, em geral ligados � forma de comercializa��o e ao acesso do cliente � mat�ria-prima, ao design e ao marketing. � como buscar a personaliza��o do produto. Com o aumento da competi��o, surge no pa�s a tend�ncia de as empresas investirem em tecnologias inovadoras que abarcam tamb�m os resultados sociais e ambientais da atividade produtiva. “Elas est�o despertando para essa necessidade de repensar o modelo de neg�cios, com um terceiro foco que incorpora a quest�o da sustentabilidade. N�o adianta inovar a qualquer custo, deixando passivos social e ambiental, do contr�rio o pa�s � que ter� de pagar essa conta”, afirma Ingrid Stoeckicht.
Sob press�o dos concorrentes internacionais, a ind�stria sider�rgica brasileira � um dos setores que mais t�m trabalhado em investimentos nas �reas de processos de produ��o, desenvolvimento de produtos e qualidade, avalia Fernando Matos, gerente de Qualidade do Instituto A�o Brasil e gerente-executivo do Centro Brasileiro de Constru��o em A�o (CBCA). O segmento de estruturas de a�o para a constru��o exemplifica bem o espa�o que as empresas no pa�s podem ocupar.
Pesquisa que acaba de ser divulgada pelo CBCA e a Associa��o Brasileira da Constru��o Met�lica (Abcem) indica crescimento de 10% da produ��o de estruturas met�licas neste ano. Foram considerados no estudo os n�meros de 157 empresas, com volume total produzido em 2012 de 1,062 milh�o de toneladas. A expectativa de expans�o dos fabricantes leva em conta a demanda de a�o das grandes obras previstas no Brasil, principalmente na �rea de infraestrutura. “Tecnologia n�o falta �s empresas fabricantes de estruturas em a�o. Elas t�m processos automotizados e est�o capacitadas”, diz Fernando Matos. As perspectivas s�o positivas ainda, tendo em vista as possibilidades de crescimento do uso do a�o na constru��o. O setor responde por 37,7% do consumo aparente de a�o no Brasil, superando a participa��o da ind�stria automobil�stica.