A “interfer�ncia” do BNDES no financiamento aos investimentos de empresas e fam�lias no Brasil bateu recorde ao atingir a fatia de 19,7% no segundo trimestre deste ano. Em 2009, em plena ressaca da crise global, o banco chegou a deter 19,5% de participa��o. Sua fatia nesse segmento cresceu de 1% para 3,1% do PIB em uma d�cada.
O movimento, detectado pelo Centro de Estudos do Ibmec (Cemec), tem freado o mercado de capitais e inibido o avan�o de fontes de financiamento privado, como deb�ntures e t�tulos corporativos de d�vida, segundo especialistas. H� dez anos, o BNDES tinha uma fatia de apenas 7,4% nesses financiamentos, de acordo com o Cemec, centro bancado por Anbima, BNDES, Cetip, Fiesp e Fipecafi. No per�odo, o mercado de capitais elevou sua fatia no PIB de 0,3% para 2,3%.
Embora reconhe�a a relev�ncia do banco como fonte financiadora, parte do mercado v� um entrave no forte avan�o dos desembolsos do banco nesse mercado.
“O BNDES compete com o mercado de capitais”, resume o diretor comercial da Cetip, Carlos Ratto. O professor do Ibmec-Rio Jerson Carneiro concorda, mas ressalva: “O BNDES vem, recentemente, procurando contribuir para os mercados de capitais com fundos de investimento de longo prazo, lastreados em sua carteira”.
Na avalia��o do mercado de capitais, o governo federal desloca a poupan�a do setor privado para financiar seu d�ficit corrente e seus investimentos. “Essa circunst�ncia � agravada pelo fato de a poupan�a privada ter ca�do ao seu menor n�vel desde 2000”, mostra o estudo.
O BNDES diz que tem estimulado a abertura de capital das empresas nas quais a BNDESPar � acionista e fomentado o mercado secund�rio de deb�ntures por meio de um programa de R$ 10 bilh�es para aquisi��o desse tipo de t�tulos. “A falta de financiamento privado de longo prazo n�o � fruto da atua��o do BNDES, mas uma defici�ncia macroecon�mica estrutural, que eleva os juros dos financiamentos em moeda nacional, algo que melhorou nos �ltimos dois anos, mas ainda n�o foi resolvido”, disse o banco, em nota.
Queda. A Forma��o Bruta de Capital Fixo (FBCF), principal term�metro dos investimentos, continua muito baixa. Em queda desde 2010, o investimento privado recuou a 15,7% no segundo trimestre, ante 16,9% de 2011. “Isso se reflete num menor volume de recursos pr�prios e num maior endividamento das empresas sem que o investimento total reaja”, avalia o Cemec. A contribui��o do setor p�blico, embora tenha crescido nos �ltimos anos, estabilizou-se em torno de 2,5%.
O Cemec avalia haver o chamado “crowding out”, traduzido em um “esfor�o enorme” do setor p�blico para aumentar os investimentos (PAC, desembolsos do BNDES, redu��o da taxa de juros, desonera��o fiscal, etc.), mas descuidando da sua poupan�a para realizar investimentos. Para desenvolver o segmento e reduzir a “depend�ncia” de sua fonte, o BNDES poderia estimular ida ao mercado via aquisi��o de deb�ntures no mercado prim�rio e a oferta de t�tulos privados no segmento secund�rio.