
O Veloso � uma comunidade quilombola que re�ne descendentes de escravos que fugiram das chicotadas em fazendas e minas de ouro na ent�o vila de Pitangui, fundada em 1715. O povoado � carente de emprego e infraestrutura. H� ruas de terra e casas de reboco. Nem todas as moradias t�m televis�o, o que propicia uma cena curiosa: para assistir � TV, moradores se re�nem numa pracinha onde um aparelho � ligado �s 18h. O projeto de criar frangos caipiras “encorpados” � a esperan�a de dias melhores para as fam�lias, que poder�o contar com renda extra.
O empreendedorismo em comunidades quilombolas � o tema da quarta reportagem da s�rie “A real aboli��o”, que o Estado de Minas publica desde quarta-feira. O engenheiro-agr�nomo Jo�o Sebasti�o Viana Neto, da Empresa de Assist�ncia T�cnica e Extens�o Rural de Minas Gerais (Emater-MG), acompanha o projeto no Veloso: “A ra�a label rouge tem carne saborosa e boa aceita��o no mercado. Uma das propostas � comercializar a ave em bandejas de isopor. Para isso � preciso terminar o abatedouro, em acordo com as normas do Instituto Mineiro de Agropecu�ria (IMA)”.

ALAGOAS
Longe de l�, na Zona da Mata de Alagoas, outra comunidade quilombola j� colhe frutos com o empreendedorismo. Trata-se do povoado do Muqu�m, em Uni�o dos Palmares, a 70 quil�metros de Macei� e onde moram cerca de 700 afrodescendentes. “Nossa principal atividade econ�mica � o artesanato feito com barro”, revela Aldo Delmiro Nunes, de 31 anos, presidente da Associa��o dos Remanescentes de Quilombo do S�tio Muqu�m. O artesanato no povoado � um of�cio antigo, mas, h� poucos anos, quando t�cnicos do Sebrae chegaram ao lugarejo, a atividade ganhou status de empreendedorismo.
“Aprendemos a calcular or�amento e lucro. Recebemos orienta��es de novas t�cnicas para retirar o barro e como usar o forno, necess�rio para uma das etapas do acabamento das pe�as. Tamb�m fomos incentivados a participar de feiras em capitais e a colocar nossos trabalhos na internet”, completou Aldo. Foi por causa da internet que dona Irin�ia Rosa Nunes, de 66, negociou uma de suas pe�as com uma fam�lia nos Estados Unidos. Ela sente orgulho em dizer que v�rios de seus trabalhos enfeitam o interior de resid�ncias e empresas em S�o Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Macei� e at� em outros pa�ses.
Dona Irin�ia conta com a ajuda do marido, Ant�nio Nunes, de 73, para transformar o barro em artesanato. No ateli� da fam�lia h� diferentes pe�as. Algumas homenageiam Zumbi dos Palmares. Outras lembram um triste fato ocorrido na comunidade no fim de 2010. “O Rio Manda� transbordou, inundando tudo. Cinquenta e duas pessoas precisaram subir numa jaqueira para n�o serem levadas pela correnteza. Teve gente que subiu nos galhos com cachorros ou gatos numa das m�os. Foi uma afli��o danada. Minha filha, a M�nica, subiu na �rvore por volta das 18h30, quando (o volume) da �gua estava alto, e s� desceu em torno das 3h30.”

FEIRA
O artesanato produzido no Muqu�m n�o � vendido apenas na comunidade. Nas segundas, quartas e aos s�bados, os artes�os aproveitam a feira que ocorre em Uni�o dos Palmares para negociar suas pe�as. No local tamb�m s�o encontrados trabalhos feitos em outras comunidades quilombolas. Muitas come�aram a apostar no empreendedorismo depois de auxiliados por institui��es criadas para fomentar o desenvolvimento socioecon�mico junto � popula��o de afrodescendentes.
Em junho passado, o Sebrae e outros parceiros, como o Instituto Adolpho Bauer (IAB) e o Instituto Coletivo de Empres�rios Empreendedores Negros de S�o Paulo (Ceabra-SP), lan�aram o programa Desenvolvimento e fortalecimento do empreendedorismo afro-brasileiro, cujo objetivo � estimular o desenvolvimento entre microempreendedores individuais pretos e pardos e em empresas de pequeno porte controladas por negros. Parte do p�blico a ser beneficiado est� em comunidades quilombolas.
A estimativa � beneficiar 1,2 mil empreendedores negros em 12 estados – Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Maranh�o, Para�ba, Goi�s, Amap�, Paran�, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, S�o Paulo e Rio de Janeiro. A partir do pr�ximo ano, os organizadores v�o promover semin�rios estaduais e selecionar 500 modelos de neg�cios para fortalecer a chamada rede nacional de empres�rios microempreendedores individuais afro-brasileiros.