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Estado de Minas A REAL ABOLI��O

Moradores de comunidades quilombolas se organizam em torno de neg�cios que geram renda

Em Minas, a aposta � na avicultura. Em Alagoas, a prosperidade vem do artesanato


postado em 23/11/2013 07:32 / atualizado em 23/11/2013 07:44

Evanice e João Lima visitam um dos galpões para criação de frangos da raça label rouge, emVeloso(foto: Paulo Henrique Lobato / E.M / D . A Press )
Evanice e Jo�o Lima visitam um dos galp�es para cria��o de frangos da ra�a label rouge, emVeloso (foto: Paulo Henrique Lobato / E.M / D . A Press )
Uni�o dos Palmares (AL) e Pitangui (MG) – Quem chega ao Veloso, um povoado a 35 quil�metros do Centro hist�rico de Pitangui, no Centro-Oeste de Minas, logo se depara com seis galp�es rec�m-constru�dos e que devem mudar o perfil econ�mico do lugarejo, onde moram 301 pessoas. De comunidade fornecedora de m�o de obra para fazendas vizinhas, o local pode se transformar em refer�ncia na regi�o em produ��o de carne de frangos da ra�a label rouge. Quem d� mais detalhes sobre o projeto � Evanice Pereira Lima, de 35 anos: “S�o frangos caipiras mais ‘encorpados’ que os comuns, os canelas-secas. H� espa�o para 10 mil aves. Elas ser�o abatidas com 120 dias de vida e peso de 2,3 quilos a 2,6 quilos”.

O Veloso � uma comunidade quilombola que re�ne descendentes de escravos que fugiram das chicotadas em fazendas e minas de ouro na ent�o vila de Pitangui, fundada em 1715. O povoado � carente de emprego e infraestrutura. H� ruas de terra e casas de reboco. Nem todas as moradias t�m televis�o, o que propicia uma cena curiosa: para assistir � TV, moradores se re�nem numa pracinha onde um aparelho � ligado �s 18h. O projeto de criar frangos caipiras “encorpados” � a esperan�a de dias melhores para as fam�lias, que poder�o contar com renda extra.

O empreendedorismo em comunidades quilombolas � o tema da quarta reportagem da s�rie “A real aboli��o”, que o Estado de Minas publica desde quarta-feira. O engenheiro-agr�nomo Jo�o Sebasti�o Viana Neto, da Empresa de Assist�ncia T�cnica e Extens�o Rural de Minas Gerais (Emater-MG), acompanha o projeto no Veloso: “A ra�a label rouge tem carne saborosa e boa aceita��o no mercado. Uma das propostas � comercializar a ave em bandejas de isopor. Para isso � preciso terminar o abatedouro, em acordo com as normas do Instituto Mineiro de Agropecu�ria (IMA)”.

A artesã Irinéia Rosa Nunes (C), a filha, Mônica, e o marido, Antônio Nunes, mostram as peças artesanais(foto: Paulo Henrique Lobato / E.M / D . A Press )
A artes� Irin�ia Rosa Nunes (C), a filha, M�nica, e o marido, Ant�nio Nunes, mostram as pe�as artesanais (foto: Paulo Henrique Lobato / E.M / D . A Press )
O abatedouro ser� instalado em um dos seis galp�es. “Outros quatro ser�o usados para criar os frangos. O �ltimo ser� a casa de ra��o”, explica Evanice, que preside a Associa��o dos Remanescentes de Escravos e Quilombolas do Veloso. Seu Jo�o Francisco de Lima, de 66 anos, est� otimista com rela��o ao futuro: “As coisas v�o mudar por aqui”. O in�cio da cria��o das aves ainda depende de um financiamento em torno de R$ 200 mil. A comunidade negocia a verba com a Funda��o Banco do Brasil. A expectativa dos moradores � de que o recurso seja liberado nos primeiros meses de 2014.

ALAGOAS
Longe de l�, na Zona da Mata de Alagoas, outra comunidade quilombola j� colhe frutos com o empreendedorismo. Trata-se do povoado do Muqu�m, em Uni�o dos Palmares, a 70 quil�metros de Macei� e onde moram cerca de 700 afrodescendentes. “Nossa principal atividade econ�mica � o artesanato feito com barro”, revela Aldo Delmiro Nunes, de 31 anos, presidente da Associa��o dos Remanescentes de Quilombo do S�tio Muqu�m. O artesanato no povoado � um of�cio antigo, mas, h� poucos anos, quando t�cnicos do Sebrae chegaram ao lugarejo, a atividade ganhou status de empreendedorismo.

“Aprendemos a calcular or�amento e lucro. Recebemos orienta��es de novas t�cnicas para retirar o barro e como usar o forno, necess�rio para uma das etapas do acabamento das pe�as. Tamb�m fomos incentivados a participar de feiras em capitais e a colocar nossos trabalhos na internet”, completou Aldo. Foi por causa da internet que dona Irin�ia Rosa Nunes, de 66, negociou uma de suas pe�as com uma fam�lia nos Estados Unidos. Ela sente orgulho em dizer que v�rios de seus trabalhos enfeitam o interior de resid�ncias e empresas em S�o Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Macei� e at� em outros pa�ses.

Dona Irin�ia conta com a ajuda do marido, Ant�nio Nunes, de 73, para transformar o barro em artesanato. No ateli� da fam�lia h� diferentes pe�as. Algumas homenageiam Zumbi dos Palmares. Outras lembram um triste fato ocorrido na comunidade no fim de 2010. “O Rio Manda� transbordou, inundando tudo. Cinquenta e duas pessoas precisaram subir numa jaqueira para n�o serem levadas pela correnteza. Teve gente que subiu nos galhos com cachorros ou gatos numa das m�os. Foi uma afli��o danada. Minha filha, a M�nica, subiu na �rvore por volta das 18h30, quando (o volume) da �gua estava alto, e s� desceu em torno das 3h30.”

Catas Altas - Praticamente todas as cidades coloniais do país tiveram um poste de madeira na praça principal na época do Brasil colônia e em boa parte do Brasil império. Trata-se do pelourinho, onde escravos que contrariavam ordens dos donos eram acorrentados e chicoteados. Em Catas Altas, no sopé da Serra do Caraça, havia um pelourinho. Ele ficava na Rua Direita - 685 escravos viviam naquele logradouro em 1755, de acordo com documentos da época. No local, em frente à matriz, agora há um chafariz (foto). O lugar, antes marcado pelo sofrimento, é um dos cartões-postais da cidade. Catas Altas é o município mineiro cuja economia mais cresceu, segundo o último estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): o Produto Interno Bruto (PIB) saltou 327%, de R$ 72,5 milhões para R$ 310 milhões,de 2009 para 2010. (foto: Paulo Henrique Lobato / E.M / D . A Press )
Catas Altas - Praticamente todas as cidades coloniais do pa�s tiveram um poste de madeira na pra�a principal na �poca do Brasil col�nia e em boa parte do Brasil imp�rio. Trata-se do pelourinho, onde escravos que contrariavam ordens dos donos eram acorrentados e chicoteados. Em Catas Altas, no sop� da Serra do Cara�a, havia um pelourinho. Ele ficava na Rua Direita - 685 escravos viviam naquele logradouro em 1755, de acordo com documentos da �poca. No local, em frente � matriz, agora h� um chafariz (foto). O lugar, antes marcado pelo sofrimento, � um dos cart�es-postais da cidade. Catas Altas � o munic�pio mineiro cuja economia mais cresceu, segundo o �ltimo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE): o Produto Interno Bruto (PIB) saltou 327%, de R$ 72,5 milh�es para R$ 310 milh�es,de 2009 para 2010. (foto: Paulo Henrique Lobato / E.M / D . A Press )
Dona Irin�ia, uma das artes�s mais experientes do lugar, tem uma clientela boa. Ela ainda recebe R$ 1 mil do poder p�blico para ensinar o of�cio aos mais jovens. Ana Beatriz Bezerra da Silva, de 18, come�ou na atividade h� poucas semanas. E j� faz bonecos, potes, cuscuzeiras e imagens de animais da fauna local. “Vendo as pe�as no galp�o que a comunidade construiu.” No quintal de sua casa, enquanto prepara alguns bonecos de barro, a jovem d� dicas � crian�ada que planeja ganhar a vida, daqui a alguns anos, com o artesanato, como as amigas Samara e Iv�nia, de 7 anos, Vit�ria e Viviane, de 11, e Ana L�cia e Silv�nia, de 10.

FEIRA
O artesanato produzido no Muqu�m n�o � vendido apenas na comunidade. Nas segundas, quartas e aos s�bados, os artes�os aproveitam a feira que ocorre em Uni�o dos Palmares para negociar suas pe�as. No local tamb�m s�o encontrados trabalhos feitos em outras comunidades quilombolas. Muitas come�aram a apostar no empreendedorismo depois de auxiliados por institui��es criadas para fomentar o desenvolvimento socioecon�mico junto � popula��o de afrodescendentes.

Em junho passado, o Sebrae e outros parceiros, como o Instituto Adolpho Bauer (IAB) e o Instituto Coletivo de Empres�rios Empreendedores Negros de S�o Paulo (Ceabra-SP), lan�aram o programa Desenvolvimento e fortalecimento do empreendedorismo afro-brasileiro, cujo objetivo � estimular o desenvolvimento entre microempreendedores individuais pretos e pardos e em empresas de pequeno porte controladas por negros. Parte do p�blico a ser beneficiado est� em comunidades quilombolas.

A estimativa � beneficiar 1,2 mil empreendedores negros em 12 estados – Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Maranh�o, Para�ba, Goi�s, Amap�, Paran�, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, S�o Paulo e Rio de Janeiro. A partir do pr�ximo ano, os organizadores v�o promover semin�rios estaduais e selecionar 500 modelos de neg�cios para fortalecer a chamada rede nacional de empres�rios microempreendedores individuais afro-brasileiros.


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