Bras�lia – Pela m�trica do �ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), e segundo as observa��es da pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre a desigualdade no pa�s, o Brasil branco tem uma qualidade de vida semelhante � da S�rvia, que n�o tem “caracter�sticas de pa�s de Terceiro Mundo”. O de negros e pardos fica entre as na��es de IDH baixo, como o Turcomenist�o, a Tail�ndia e a China, pa�ses que avan�am rapidamente.
O estudo, elaborado pelo professor Marcelo Paix�o, n�o prega o separatismo. Muito pelo contr�rio, evidencia a desigualdade racial que persiste nos indicadores de educa��o, sa�de, seguran�a e renda. “O Brasil construiu uma naturaliza��o de pap�is sociais, que faz com que uma pessoa esteja condenada a uma posi��o por causa da cor pele”, explica o professor. “Como � considerado normal que os negros ocupem o andar de baixo na sociedade, todos tratam como se fosse natural, como se n�o houvesse necessidade de mudar”, argumenta.
A constru��o da nova classe C, impulsionada pela distribui��o de renda — principalmente por programas como o Bolsa-Fam�lia e os reajustes do sal�rio m�nimo —, apesar de n�o ter sido montada com base em uma pol�tica direcionada para negros, beneficiou essa popula��o e ajudou a amenizar as disparidades entre os brasileiros.
Dados do Data Popular refor�am que 75% das pessoas que ascenderam � classe m�dia na �ltima d�cada s�o pretas e pardas e, hoje, somam 53 milh�es. “A entrada do negro no universo do consumo melhorou a vida individualmente, mas n�o alterou a din�mica das rela��es �tnico-raciais, nem lhes deu total acesso � cidadania”, ressalta Renato Meirelles, do Data Popular.
O mercado de trabalho, no setor p�blico e privado, ainda abre mais possibilidades � popula��o n�o negra. Dados do Departamento Intersindical de Estat�sticas e Estudos Socioecon�micos (Dieese) revelam que o desemprego entre brasileiros pretos e pardos � maior que o registrado entre os brancos: 11,9%, contra 9,2%. Entre as mulheres negras, o �ndice � ainda pior, de 14,1%. “Elas sofrem o que chamamos de m�ltiplo preconceito por serem mulheres e negras”, explica M�nica Oliveira, da Secretaria Especial de Promo��o da Igualdade Racial. No funcionalismo p�blico federal, a situa��o � semelhante: os negros s�o 33% do contigente de servidores e ocupam as vagas com menor sal�rio, justamente porque n�o tiveram acesso a uma boa educa��o para disputar postos mais bem remunerados. Cerca de 90% dos negros est�o em escolas p�blicas.
Com op��es limitadas de acesso � educa��o formal, os pretos e pardos s�o tamb�m os mais empurrados para a informalidade. “O n�mero de empreendedores negros tem crescido, mas o problema � que ter o pr�prio neg�cio n�o foi uma escolha para boa parte deles”, afirma M�nica. “� diferente da pessoa branca, que vai por esse caminho porque enxerga uma oportunidade.”