Documento do governo mais confi�vel sobre a economia, o relat�rio trimestral do Banco Central, divulgado como um balan�o do ano que acaba e ensaio prospectivo sobre o que chega, indica infla��o acima da meta at� 2015 e crescimento econ�mico bem abaixo do considerado necess�rio para acomodar o gasto p�blico e o custeio federativo.
A infla��o acumulada em 12 meses tende a virar o ano com alta de 5,8%, pr�xima � varia��o de 5,84% cravada em 2012, recuando em 2014 para 5,4% – ainda acima da meta anual (4,5%), mas abaixo da teto de toler�ncia reservado para momentos excepcionais, 6,5%. A presidente Dilma Rousseff acha diferente. Ela afirmou pelo Twitter que, “pelo d�cimo ano, a infla��o fechar� abaixo do objetivo de 6,5%”. Sei...
O cen�rio de refer�ncia do BC assume algumas premissas, como Selic no n�vel de 10% e taxa de c�mbio de
R$ 2,35. Fica claro que, para o BC, moeda fraca � condi��o necess�ria para a economia se ajustar.
N�o h� meta para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), mas simula��es estimam que qualquer evolu��o abaixo de 3% n�o agasalha a massa de compromissos bancados pelo governo no or�amento federal, financiados ou com arrecada��o de impostos (fun��o da temperatura dos neg�cios) ou com d�vida do Tesouro vendida no mercado. � o que explica o papel destacado dos investidores, especialmente externos, e das ag�ncias de rating no debate sobre as tend�ncias da economia.
E ent�o? Bem, o BC rebaixou (entre o anterior e o atual relat�rio de cen�rios) de 2,5% para 2,3% a proje��o de crescimento do PIB em 2013 e a manteve at� os quatro trimestres encerrados em setembro de 2014. O BC se revela c�tico (coincidindo com nossa avalia��o) com a retomada forte do crescimento. Mas, apesar de engripada, a economia tem chance de cruzar 2014 sem surpresas. Isso deve ficar para 2015.
Importa��o reduz o PIB
Por ora, segundo o BC, o consumo de fam�lias tende a avan�ar 2,3% este ano, e o do governo, 2,1%. O aumento da taxa de investimento foi estimado em 6,8%; das exporta��es, 2,4%, e importa��es, 8,4%, estando nestes dois movimentos discrepantes parte do crescimento baixo do PIB. Importa��es expressam vazamento da demanda interna, “consumindo” nacos do PIB conforme a apura��o das contas nacionais.
Pela �tica da oferta, a outra forma de apura��o do PIB, a produ��o industrial deve ter crescido 1,3% em 2013 (como somat�ria entre a queda de 2,4% do setor extrativo e aumentos de 1,6% de manufaturas e 2,4% da constru��o civil), contra retra��o de 0,8% em 2012.
Para a agropecu�ria, o BC estima alta de 7,3%, recuperando-se da queda de 2,1% no ano passado. E, finalmente, servi�os (a categoria com maior peso no PIB) tende a avan�ar de 1,8% em 2012 para 2%, muito pouco para compensar a longa perda do dinamismo industrial.
Ac�mulo de contradi��es
N�o � nada f�cil dirigir as contradi��es acumuladas pela pol�tica econ�mica, ainda mais sob o enorme e crescente peso do contingente de dependentes do Estado, 76 milh�es apenas entre os benefici�rios de pol�ticas sociais (afora os agregados). O governo chamou para si incumb�ncias demais e plantou armadilhas que ter� de desarmar.
O BC alerta para a defasagem entre pre�os administrados e livres, formados no mercado, o que leva ao “natural e esperado”, segundo o relat�rio de infla��o, ajuste � realidade – um processo “complexo”, acrescenta, devido ao desalinhamento em “patamares baixos”. � mais uma dificuldade para o cen�rio de moeda depreciada, um anabolizante para a competitividade da ind�stria e consequ�ncia do fim gradativo da liquidez encharcada do d�lar pelo Federal Reserve.
H� muito jogo para jogar
O governo queimou cartuchos, sobretudo com o esgar�amento do gasto p�blico e a indu��o ao consumo para for�ar o crescimento, e hoje, a rigor, n�o lhe restam muitas op��es a n�o ser entregar um super�vit prim�rio de 1,8% a 2% do PIB, seco. Ou seja, totalmente extra�do de corte de gasto e aumento de receita do or�amento fiscal, afastando o risco de downgrade da nota de cr�dito do pa�s (implicando alta de juro e menos liquidez para cobrir o d�ficit das contas externas).
� um quadro apertado, mas favorecido pelo maior crescimento global e por a��es que Dilma deve tomar para tentar renovar a confian�a na economia, inclusive com novos nomes. Ainda h� muito jogo a jogar.
Parada t�cnica
Vamos para a parada t�cnica habitual, agradecendo o apoio de voc�s ao longo de quase 13 anos neste espa�o e desejando a todos que 2014 seja venturoso. De prefer�ncia com a m�o no caneco. At� a volta.