
Neste Natal, os brasileiros que foram �s compras podem at� n�o saber, mas arcaram com uma pesada carga tribut�ria sobre todos os produtos adquiridos para presentear a fam�lia, amigos, afilhados ou colegas de trabalho. De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributa��o (IBPT), no Brasil os impostos incidentes sobre o consumo s�o de 62%. Segundo mostra um levantamento da entidade, os tributos pagos pelos consumidores sobre os pre�os das mercadorias vendidas nas lojas podem variar entre 11,22% e 81,86%. � o que vem pesando no bolso dos cidad�os, n�o s� no Natal, mas durante o ano inteiro – e cada vez mais. Em 1986, a carga tribut�ria do pa�s era de 22,39% do Produto Interno Bruto (PIB). Este ano dever� bater em 36,42%. Desde ent�o, o tamanho da mordida cresceu 62,66%.
Alguns dos itens mais procurados para presentear nesta �poca do ano s�o os eletr�nicos, produtos sobre os quais incidem o Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) e Imposto sobre Importa��o, no caso de produ��o a partir de itens importados. Segundo o IPBT, o pre�o desses artigos pode conter tributos que representam boa parte do valor da mercadoria oferecida na prateleira das lojas. � o caso da carga tribut�ria de uma c�mera fotogr�fica (44,75%), de um DVD (44,2%) ou de um telefone celular (39,8%). “J� no pre�o de um videogame 72% do valor s�o impostos”, alerta o presidente-executivo do o instituto, Jo�o Eloi Olenike.
Ontem, a cuidadora de idosos Fabiana Colares Pereira comprou um notebook para dar a si mesma de presente de Natal por R$ 1.499 divididos em 10 vezes. “Trabalho cuidando de uma senhora que dorme muito. O computador vai ajudar a passar o tempo. � um jeito de distrair por causa do Facebook e da internet”, explica. Ela reconhece, por�m, que n�o faz a menor ideia de quanto paga de imposto sobre o produto, no caso 24,30%, ou R$ 340. O mesmo acontece com a designer Iris Rams�s, que acaba de adquirir um celular novo por R$ 570 no qual incide uma carga tribut�ria de 39,8%, o que significa que do pre�o que ela pagou quase metade foram impostos. “Eu tinha que comprar porque o aparelho antigo j� estava falhando, basicamente foi um presente que eu me dei”, disse.
J� a enfemeira Renata Carvalho Olivera Tanure e seu marido, o engenheiro Alysson Tanure, gastaram R$ 740 num passeio a um shopping para fazer as compras de Natal – uma bicicleta para a filha de cinco anos, Laura Tanure; um bichinho de pel�cia para Isabela Tanure, de dois meses; um livro para o amigo oculto; uma sand�lia para o vov� e outra para a vov�. A bicicleta custou R$ 409, dos quais R$ 187,85, ou 45,93%, foram pagos a t�tulo de imposto. O ursinho de pel�cia saiu por R$ 89, R$ 35,33 dos quais em tributos (39,70%). O livrou foi comprado por R$ 39,90 e teve carga de 15,2% em impostos (R$ 6,06). J� as sand�lias sa�ram por R$ 198, mas 36,17% desse valor (ou R$ R$ 71,61) s�o tributos. “Na hora de comprar penso no imposto e vejo que pode aumentar bastante o pre�o do produdo”, afirma Renata.
MUITA DIFEREN�A
Para se ter ideia, com impostos inclu�dos, o pre�o do videogame XBox One no Brasil – R$ 2.299 –, � o mais alto do mundo. Na Inglaterra � de R$ 1.573,00, na Uni�o Europeia R$ 1.524, no M�xico R$ 1.480, na Nova Zel�ndia R$ 1.428, na Austr�lia R$ 1.297, nos Estados Unidos R$ 1.141e no Canad� R$ 1.093. Sem os impostos, de acordo com o IBPT, ele sairia por aproximadamente R$ 1.100.
No fechamento deste ano, pela quarta vez consecutiva, o Brasil dever� ocupar a 15ª posi��o entre as 30 na��es com as maiores cargas tribut�rias, diz Olenike. E nem mesmo a decora��o natalina escapa da alta tributa��o. Os impostos respondem por 39,23% do pre�o da �rvore de Natal, 48,07% dos enfeites e 35,93% do pres�pio.
Nos EUA, a realidade � outraRenata Barros � empres�ria e na semana passada j� tinha feito praticamente todas as suas compras de Natal. S� em brinquedos e sapatos ela gastou R$ 500, arcando com impostos que ficam, em m�dia, na casa de 37,8%. “Quando compro, nem penso no imposto. Acredito que ningu�m pensa. A n�o ser quando a gente compara com os pre�os cobrados fora do Brasil, que s�o muito mais baratos”, reconhece. Nos Estados Unidos, considerando a tributa��o de toda a cadeia, a incid�ncia nos produtos destinados ao mercado de consumo fica em 20%, 42 pontos percentuais abaixo da realidade brasileira, afirma o IBPT.
Por aqui, no caso das bebidas que acompanham a ceia ou servem para presentear amigos e parentes, os tributos podem equivaler a 59,49% do valor da garrafa de espumante, 54,63% do vinho e 48,24% da sidra. Dos alimentos que n�o podem faltar na ceia, o contribuinte desembolsar�, somente para pagar tributos, 29,32% do pre�o do peru, chester ou pernil; 34,63% do panetone; 36,45% das nozes e 11,78% das frutas frescas.
Nem a capirinha, o mais tradicional e popular drinque brasileiro, conhecido internacionalmente e encontrado em nove entre 10 bares existentes no pa�s – e muito consumido na virada do ano –, escapa dessa realidade. Ao tomar a mistura de lim�o fatiado amassado com a��car refinado com gelo e cacha�a, o que o brasileiro n�o desconfia � que est� pagando 76,66% de imposto sobre o pre�o final do produto. Isso quer dizer que num copo de caipirinha que custa de R$ 10 existe uma carga tribut�ria de nada menos que R$ 7,66. (ZF)