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Estado de Minas DINHEIRO E F�

Lucro sem divis�o � crime no islamismo

Religi�o impede aplica��o no mercado financeiro se ganho n�o for repartido com os pobres


postado em 28/01/2014 06:00 / atualizado em 28/01/2014 07:38

Segunda maior religi�o do mundo e a que mais cresce em n�mero de fi�is, o islamismo ainda est� distante do cotidiano da maioria dos brasileiros. � tamb�m a segunda religi�o cuja rela��o com as finan�as � abordada na s�rie “Dinheiro e f�”, que o Estado de Minas publica desde domingo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) mostram que, num pa�s de quase 200 milh�es de habitantes, apenas 40 mil se declaram mu�ulmanos, apesar de as entidades isl�micas assegurarem a exist�ncia de 1,7 milh�o de seguidores em terras nacionais.

Tamanha diverg�ncia d� a dimens�o da disparidade nas informa��es em torno do islamismo no Brasil, sobretudo quando o assunto � dinheiro – um tabu entre os seguidores. Por princ�pio, a economia da f� mu�ulmana � bem distinta das demais religi�es. O pressuposto b�sico da comunidade isl�mica (Ummah) diz que os bens n�o s�o apenas para o conforto pr�prio, mas para o de todos. A pr�tica inclui a divis�o das riquezas, criminaliza a usura — ganhar dinheiro com juros, por exemplo, � proibido — e obriga o pagamento de tributos para a distribui��o de recursos aos necessitados.

A despeito de valorizar o desprendimento material, dificilmente l�deres religiosos, praticantes ou mesmo especialistas divulgam valores que envolvam a gest�o administrativa e financeira do islamismo, que recebe muito apoio internacional de pa�ses mu�ulmanos, sobretudo do Oriente M�dio e do Norte da �frica. Para a Sociedade Beneficente Mu�ulmana do Rio de Janeiro (SBMRJ), � dif�cil apontar n�meros, pois cada mesquita e institui��o isl�mica � mantida de acordo com as doa��es de seus frequentadores e colaboradores.

“Em comunidades isl�micas grandes, como as de S�o Paulo, por exemplo, as contribui��es, evidentemente, s�o maiores do que em mussalas (salas de ora��o) de cidades do interior. E cada entidade cuida de sua situa��o econ�mica, de modo que n�o temos como falar em valores arrecadados e gastos”, afirma a SBMRJ. Que ressalta: no Brasil, os �nicos bens materiais do isl� s�o as mesquitas, os centros, as mussalas, as escolas e os cemit�rios.

Na avalia��o de Eduardo Santana, aluno do Instituto Latino-Americano de Estudos Isl�micos (Ilaei) e ex-presidente do Centro Isl�mico do Recife (CIR), a comunidade mu�ulmana no pa�s movimenta cifras consider�veis. “Mas ter um controle sobre os recursos n�o � f�cil. Algumas entidades preferem manter costumes tradicionais, que envolvam a arrecada��o direta. Assim, na ora��o da sexta-feira (Salatul’Jumuah), as ofertas s�o colocadas de forma vis�vel. O que � arrecadado, na maior parte das vezes, � destinado �s obras sociais e � manuten��o dos templos”, explica.

PRINC�PIOS Todas as verbas para manter uma mesquita v�m dos pr�prios fi�is e de doa��es nacionais e internacionais, diz Santana. O Centro Isl�mico do Brasil, a maior mesquita da Am�rica Latina, instalada em Bras�lia (DF) desde 1990, � totalmente financiada pela Embaixada da Ar�bia Saudita no pa�s. No terreno com 2,8 mil metros quadrados est�o dispostos tr�s pr�dios nos quais funcionam a escola, que oferece aulas de �rabe, a mesquita, com capacidade para mil pessoas, e a casa do sheikh Mohammed, l�der religioso.

O sheikh explica que o isl� permite a seus fi�is trabalharem para sustentar suas fam�lias, mas, como a religi�o prega a caridade, � proibido guardar dinheiro em bancos enquanto outros mu�ulmanos est�o passando por necessidades. “Um dos nossos pilares � dar 2,5% da renda anual para caridade”, explica. A pr�tica isl�mica, ou a Sharia, estabelece cinco princ�pios e define a vida dos fi�is, com rela��o ao comportamento, dinheiro, atitudes e alimenta��o (veja quadro).

PROIBI��O A economia isl�mica � bastante peculiar. N�o � permitido aos mu�ulmanos lucrar e gastar de qualquer jeito. Devem seguir as regras do Alcor�o. Quaisquer lucros de produ��o, vendas e distribui��o de bebidas alco�licas s�o il�citos, assim como os ganhos proveninentes de jogos, loterias e de transa��es envolvendo juros. O ganho que adv�m de falsidade, fraude, trapa�a, roubo, furto, arrombamento tamb�m � proibido.

Para entender como fazer investimentos no isl�, Ahmed El Helw, presidente do Banco Isl�mico Makaseb, a maior institui��o financeira privada entre 22 pa�ses �rabes, explica, em palestra traduzida pelo professor Samir El’Hayek, que os bancos do isl� ou ganham ou perdem junto com seus clientes. “O foco n�o � o lucro, mas o bem que o investimento vai fazer � comunidade”, diz.

O imposto, ou Zakat, � uma obriga��o que for�a os fi�is a n�o multiplicarem seus ganhos, optando por dividi-los com os outros. “Se o mu�ulmano guardar dinheiro, o lucro vai aumentar e o Zakat tamb�m. Isso for�a os investimentos no bem comum”, ressalta o banqueiro. Para descrever como os juros s�o prejudiciais � economia, ele lembra que, em 2008, quando mergulharam em uma grave crise, os Estados Unidos decidiram zerar suas taxas. “Adotaram a pr�tica do isl�, porque juro � algo muito, muito ruim”, destaca.

O membro da comunidade islâmica em BH Daniel Yussuf:
O membro da comunidade isl�mica em BH Daniel Yussuf: " O sheikh � o nosso l�der provis�rio e pode ser substitu�do se n�o cumprir seu papel" (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
�nica mesquita de MG fica em BH

O integrante da comunidade isl�mica em Belo Horizonte Daniel Yussuf conta que a �nica mesquita do estado fica na capital, onde se re�nem brasileiros convertidos, libaneses, marroquinos, eg�pcios, s�rios, mais diversos africanos, indianos, paquistaneses, todos residentes ou em temporada na capital. Fundada em 1991, a mesquita segue o modelo marroquino e conta com mais de 200 membros registrados. No entanto, Yussuf afirma que somente cerca de 40 s�o ass�duos.

A mesquita n�o tem um fundador �nico, mas uma comunidade que se juntou para erguer a sede. Hoje ela � dirigida pelo sheikh Mokhtar, marroquino e comerciante em Belo Horizonte que orienta e administra a mesquita espiritualmente. A figura do Sheikh � provis�ria e o l�der pode ser retirado do cargo se a comunidade achar que ele est� descumprindo o seu papel. “N�o � como na religi�o cat�lica, que um padre � para sempre padre. O sheikh � o nosso l�der provis�rio e pode ser substitu�do se n�o cumprir seu papel”, afirma Yussuf.

Sobre as cifras movimentadas pela comunidade na capital, Yussuf afirma n�o ser poss�vel mensurar o montante, uma vez que a mesquita vive de doa��es. “Funciona de acordo com a necessidade. Se precisamos fazer uma obra, os membros que t�m mais condi��es � que fazem as doa��es”, revela. Ele explica ainda que h� outras formas de ajudar, como comparecendo � mesquita e fazendo as ora��es. De acordo com ele, � proibido tirar o sustento da fam�lia, coloc�-la em dificuldade para doar � igreja. Doa-se apenas quando se pode.

Algumas mesquitas brasileiras aceitam doa��es vultuosas de pa�ses como Ar�bia Saudita e Paquist�o e acabam presas � pol�tica do Estado em quest�o. Em Belo Horizonte, a pr�tica n�o � bem-vinda. “O oferecimento � dos membros da comunidade isl� de Minas ou dos que j� viveram aqui e hoje moram em outros pa�ses. Dessas doa��es � que pagamos o sal�rio do sheikh e todas as despesas da mesquita”, diz Yussuf.


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