Deco Bancillon
Bras�lia – As turbul�ncias nos mercados do globo e os efeitos dessa crise sobre moedas de pa�ses emergentes despertam uma d�vida que preocupa especialistas em finan�as e turistas com viagem marcada para o exterior: afinal, para onde vai o d�lar?. A resposta n�o � simples. Mas, a julgar pelo comportamento recente da divisa, tudo leva a crer que o c�mbio ainda dever� ser um problema para quem pensa em sair do pa�s neste ano.
T�cnicos do governo evitam se arriscar em previs�es, mas os especialistas s�o un�nimes em apontar a escalada da moeda como a trajet�ria mais prov�vel em 2014. “At� o fim de mar�o, o d�lar deve bater em R$ 2,50. Depois, mesmo que em algum momento ele oscile para baixo, voltar� a subir at� fechar o ano em R$ 2,60”, aposta o economista-chefe da NGO Corretora, Sidnei Nehme, especialista no assunto. O governo teme que a valoriza��o da divisa norte-americana frente ao real possa estimular a remarca��o de pre�os pelo com�rcio, pressionando ainda mais o custo de vida. Isso tornaria mais dif�cil a miss�o do Banco Central (BC) de controlar a infla��o, que h� quatro anos est� acima do centro da meta, de 4,5% ao ano.
Em 2014, as apostas do mercado s�o que a cota��o da moeda fique, em m�dia, em R$ 2,47. Qualquer varia��o acima desse patamar, portanto, poderia elevar a press�o sobre a carestia num ano em que o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) dever� acumular alta de 6%, segundo proje��es dos principais analistas financeiros.
O BC acompanha com lupa as oscila��es do c�mbio e tem atuado para for�ar a queda do d�lar e reduzir as apostas de bancos e corretoras na eleva��o ainda maior dele no mercado futuro – opera��es feitas a prazo. Apenas em 2013, a autoridade monet�ria injetou US$ 100 bilh�es na economia. Neste ano, a autoridade monet�ria optou por manter a carga de interven��es, seja por meio de vendas futuras de moeda (leil�es de swap), seja pelas opera��es de recompra dela (leil�es de linha). Uma terceira arma, ainda n�o utilizada, � vender os d�lares das reservas internacionais diretamente a bancos e corretoras, no mercado � vista.
Uma fonte do mercado financeiro acredita que o BC poder� recorrer a esse expediente se observar a falta da divisa norte-americana a exportadores e empresas. Nesse caso, disporia das reservas apenas para irrigar o mercado, e n�o para for�ar uma queda da moeda abaixo de um patamar espec�fico. Esse analista deu um recado claro: seja qual for o poder de a��o de um banco central, ele poder� at� ganhar uma batalha com os investidores, mas nunca toda a guerra.
O especialista tamb�m lembrou que a a��o do BC sobre o c�mbio tem como objetivo evitar remarca��es de pre�os. Ao mesmo tempo, joga contra a cota��o do d�lar o menor ingresso de recursos no pa�s, em fun��o dos desarranjos econ�micos e da descren�a dos investidores com a pol�tica fiscal do governo federal.
DESCONFIAN�A
Com o capital estrangeiro avesso a riscos, o Brasil deixou de ser visto como porto seguro de investidores. N�o por caso, o pa�s est� sob amea�a de rebaixamento por duas das tr�s maiores ag�ncias de classifica��o de risco do mundo, a Moody’s e a Standard & Poor’s. Uma forma de medir essa pessimismo �, justamente, o fluxo de d�lares que aportaram no pa�s.
Em 2013, houve d�ficit de US$ 12,2 bilh�es nessa conta, e, apenas em quatro meses do ano, o saldo cambial ficou positivo. Em janeiro de 2014, os ingressos da d�vida no Brasil voltaram a superar as remessas em US$ 1,6 bilh�o. Em 2013, apenas em quatro meses essa conta ficou positiva. O bom resultado do m�s, visto com desconfian�a, � a aposta do governo para tentar reverter o hist�rico de desequil�brio no saldo de d�lares.
Ao Estado de Minas, um interlocutor do alto escal�o do governo Dilma Rousseff contou que espera ver uma “normalidade” nos ingressos de divisas, apesar das turbul�ncias externas, como a revers�o dos est�mulos nos Estados Unidos e a desacelera��o da economia chinesa. “Em janeiro, houve muitos d�lares entrando pela conta de com�rcio exterior, o que j� era esperado. Mas o que nos surpreendeu foi que o fluxo financeiro deixou de ser negativo, o que � muito bom”, lembra o governista. A l�gica � simples: com mais d�lares aportando no pa�s, a demanda pela moeda diminuiria, levando a uma queda da cota��o.
O mesmo entendimento tem o ex-secret�rio do Tesouro Nacional e atual economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall. “Mesmo com a balan�a comercial apresentando d�ficit em janeiro, houve mais d�lares entrando do que saindo no m�s, e justamente pela conta de importa��es e exporta��es”, diz. “Isso pode levar a v�rias interpreta��es, e uma delas � que talvez os exportadores tenham decidido trazer ao Brasil o dinheiro com vendas de anos anteriores. Isso pode ser um indicativo da mudan�a do fluxo para o campo positivo. Mas ainda � preciso esperar. � um jogo de 90 minutos e ainda estamos nos 10 minutos do primeiro tempo”, afirma.
Aposta contra o real
Apesar das dificuldades de previs�o sobre o comportamento do d�lar, o mercado tem renovado as compras dessa moeda, num sinal claro de que ainda aposta na valoriza��o dela em 2014. “O real ainda � caro se levarmos em conta a produtividade do Brasil e a infla��o dos �ltimos anos”, observa o diretor de Investimentos de Renda Fixa da gestora de recursos Franklin Templeton, Marco Freire. “Por isso, estamos efetuando compras de d�lar contra o real”, completa.
Pesa ainda contra a moeda brasileira a desconfian�a dos investidores estrangeiros com o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o crescente d�ficit nas contas externas e a fragilidade dos resultados fiscais. “Na aus�ncia de confian�a do setor privado na economia, n�o seria uma surpresa se a divisa norte-americana andasse para frente ainda mais”, diz a economista Monica Baumgarten de Bolle, professora de Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e s�cia da Galanto Consultoria.
De todos os desarranjos econ�micos que afetam o pa�s, lembra o gerente de C�mbio da Fair Corretora, M�rio Battistel, o descontrole da infla��o � o mais perigoso. “Se os pre�os continuarem subindo muito — e a gente sabe que, em ano eleitoral os governos tendem a gastar mais do que arrecadam —, o Banco Central ter� de continuar atuando forte no c�mbio, vendendo d�lares para evitar uma alta ainda maior da moeda. A�, n�o vai ter jeito. Se faltar muni��o, � poss�vel at� que ele queime reservas, algo que n�o fez at� agora”, avalia.
Reservas O Brasil tinha, at� a �ltima sexta-feira, US$ 376 bilh�es em reservas internacionais. Esse dinheiro � aplicado em ativos no exterior, a uma remunera��o geralmente baixa. Em 2012 — �ltimo dado dispon�vel —, a rentabilidade das reservas foi de 1,84%. Quase nada se comparado ao pr�mio pago pelo Tesouro Nacional aos detentores de t�tulos da d�vida p�blica.
No mesmo ano, o governo pagou, em m�dia, 11,97% para se financiar. “N�o vejo outra raz�o que n�o pol�tica para manter uma posi��o t�o elevada em reservas internacionais a juros �nfimos e pagarmos, aqui dentro, taxas absurdas para os investidores da d�vida p�blica”, critica Battistel. O governo tem uma avalia��o diferente. “As nossas reservas s�o um seguro para tempos dif�ceis, e, mesmo que tenhamos de pagar um custo elevado para mant�-las, vale a pena”, diz uma fonte da equipe econ�mica.