(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas MERCADO DE TRABALHO

Demiss�es e pedidos de dispensa devem chegar a 36 milh�es no pa�s este ano

Cen�rio ilustra a alta rotatividade, entre as maiores do mundo, e pesa nos gastos com o seguro-desemprego


postado em 24/02/2014 06:00 / atualizado em 24/02/2014 07:53

Bras�lia e Belo Horizonte – Trinta e seis milh�es de brasileiros ser�o demitidos em 2014 ou pedir�o as contas, o equivalente a quase metade da for�a de trabalho do pa�s. Apesar do n�mero elevado, o dado n�o reflete uma crise aguda n�o prevista. Esse contingente, em um curto espa�o de tempo, ser� recolocado no mercado, um p�blico que deixou o Brasil entre os pa�ses com as maiores taxas de rotatividade no mundo. Em algumas carreiras, esse �ndice chega a 150% — ou seja, o quadro de funcion�rios de uma empresa, em determinados ramos, pode ser renovado 1,5 vez por ano.

Para a maioria, a recontrata��o ocorre exatamente no m�s em que acaba o benef�cio do seguro-desemprego. No entanto, a coincid�ncia entre o fim da assist�ncia e a recoloca��o no mercado n�o � obra do acaso. “Os aux�lios financeiros transformaram-se em est�mulo � demiss�o”, diz Jos� M�rcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos. Mesmo com a economia vivendo o pleno emprego — quando a maioria da popula��o economicamente ativa tem um posto —, as despesas do governo com o benef�cio a trabalhadores sem ocupa��o dispararam: fecharam o ano passado em R$ 44,2 bilh�es.

“Toda vez que o trabalhador � demitido, recebe uma quantia elevada comparada ao sal�rio. Para algu�m pouco qualificado, ganha-se mais sendo demitido”, explica Camargo. “O n�mero de trabalhadores que consegue um posto no m�s em que acaba o seguro-desemprego � elevad�ssimo. Os dados claramente sustentam essa hip�tese de que os benef�cios t�m responsabilidade direta na alta rotatividade”, observa. Camargo pondera ainda que a maioria das demiss�es ocorre antes de o empregado completar um ano no cargo. “Para demitir depois de 12 meses de contrata��o, fica mais dif�cil. Tem de fazer o processo acompanhado pelo sindicato e a burocracia � maior. O patr�o, percebendo o interesse do trabalhador em sair, faz isso antes de completar um ano”, relata.

Est�mulos


O economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman avalia que o mercado de trabalho aquecido tamb�m favorece a rotatividade. “A pessoa sabe que pode sair, ficar fora e, depois, voltar. Ele pega o seguro-desemprego nesse meio-tempo. Se o mercado n�o est� t�o bom, tem-se medo de perder o posto e a� ningu�m arrisca”, argumenta. Marcio Pochmann, presidente da Funda��o Perseu Abramo, alerta que o n�mero de pessoas demitidas em um ano, o equivalente a aproximadamente 40% da for�a de trabalho, � um n�mero demasiadamente elevado. Nos Estados Unidos, uma economia cujas rela��es trabalhistas est�o entre as mais flex�veis, a taxa � a metade da brasileira.

O pesquisador explica ainda que, de cada tr�s demiss�es no Brasil, duas ocorrem por decis�o da empresa e uma, a pedido do pr�prio empregado. “Em qualquer lugar do mundo a expans�o do emprego � acompanhada da redu��o dos gastos do seguro-desemprego no Brasil � o contr�rio”, diz. Pochmann pondera que a rotatividade permite ainda que as empresas troquem trabalhadores mais caros por outros de sal�rio menor.

Jos� Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de rela��es sindicais do Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos (Dieese), explica que essa troca excessiva de trabalhadores ocorre em fun��o dos baixos sal�rios. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que mais de 60% dos postos gerados s�o para fun��es que pagam at� tr�s sal�rios m�nimos, valor muito pr�ximo do teto do seguro-desemprego. “A rotatividade � um malef�cio para o trabalhador”, defende Oliveira. “Al�m de achatar os sal�rios, impede que as empresas invistam na qualifica��o do funcion�rio”, alerta.

Sistema

Para Pochmann � preciso repensar o sistema de contrata��o. “Com o tempo que o trabalhador fica no posto, fica invi�vel investir em qualifica��o”, ressalta. Ele, no entanto, � contr�rio a projetos que elevam o custo de demiss�o. Se ficar mais caro, argumenta Pochmann, o custo vai ser incorporado aos pre�os e o consumidor, no fim, � quem pagar� a conta dessa eleva��o.

Entre os setores de maior rotatividade, a constru��o civil se destaca. � onde os trabalhadores mais mudam de emprego. No segmento que atua com edif�cios, de cada 10 empregados, nove ser�o demitidos em at� um ano. Em infraestrutura e servi�os especializados, oito.

Fl�vio Gomes, de 23 anos, atua na constru��o civil. Desde 2012, passou por tr�s empregos e, agora, vai parar de trabalhar para terminar os estudos. O cotidiano desgastante como auxiliar de topografia se tornou uma barreira para que ele conclu�sse o 9º ano do ensino fundamental. “Tinha que atender em v�rios lugares. Se vinha algum pedido para a empresa, n�o tinha como deixar de atender. Sempre me atrasava para chegar � aula”, explica. “Entrava na sala por volta das 20h e assim eu perdia praticamente todo o primeiro per�odo. Por sorte, os professores me ajudaram.”

Em 2012, Fl�vio Gomes trabalhou por seis meses em uma empresa de manuten��o e montagem de m�quinas de obra e depois como servente de pedreiro, por oito meses. “Tendo servi�o e conseguindo me sustentar, est� bom para mim. Mas do jeito que as coisas estavam indo n�o estava legal”, conta. “S� tem futuro bom quem estuda. Tudo o que eu quero � crescer e ter um trabalho melhor”, desabafou.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)