S�o Paulo, 23 - Os analistas fazem coro ao dizer que a infla��o mensal de junho e julho ter� na Copa do Mundo um forte componente sazonal de alta. Mas a realiza��o do evento em si e o consequente aumento da demanda por bens e servi�os n�o s�o os �nicos fatores para a varia��o de pre�os. A restri��o de oferta em alguns setores e a defici�ncia estrutural do Brasil, que ficar�o mais evidentes durante o Mundial, ser�o um agravante para turbinar a infla��o no per�odo.
O economista-s�nior do Besi Brasil, Fl�vio Serrano, entende que o problema da oferta ficar� mais evidente durante o Mundial. "Se em outros pa�ses a infla��o foi afetada pela Copa, no Brasil vai ser agravada pela restri��o de oferta. Ent�o, aqui vai ser pior", ressaltou Combat.
O professor de Economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Reginaldo Nogueira alerta que � preciso ter cuidado ao se falar em reajuste abusivo de pre�os. "Como o Brasil tem incapacidade de oferecer infraestrutura de servi�os para essa demanda toda, a vari�vel que ajusta isso � o pre�o. � um movimento normal de mercado", diz.
O setor a�reo � um exemplo de oferta pressionada, segundo Nogueira. "N�o se fez os investimentos necess�rios em aeroportos. N�o se conseguiu aumentar a oferta como deveria. Se h� um n�mero limitado de voos e de assentos, o pre�o vai subir, at� reduzir a demanda", afirma.
Dada a falta de infraestrutura, nem o estabelecimento de um teto para as tarifas de passagens a�reas durante a Copa do Mundo, adotado pelas companhias Azul e Avianca (no valor de R$ 999 por trecho), deve impedir a varia��o de pre�os. "� mais uma estrat�gia de marketing", diz o economista-chefe da Conc�rdia Corretora, Fl�vio Combat. "As companhias at� teriam capacidade (de elevar a oferta), mas mais uma vez se tem gargalo em rela��o � pr�pria estrutura de aeroportos."
"O ajuste de pre�os vai ocorrer, respondendo �s condi��es de oferta e demanda, e isso � normal. A fun��o do empres�rio � maximizar o lucro da empresa, sen�o ele vai pra rua", diz, lembrando que, h� dois ou tr�s anos, as companhias a�reas passam por dificuldades. "O problema est� na atua��o do governo, que n�o oferece condi��es e incentivos para que a concorr�ncia do setor aumente."
Prates, no entanto, n�o acredita em uma eleva��o "absurda" de pre�os. Na sua avalia��o, os aumentos ser�o similares ao verificado em outras datas de alta-temporada no Brasil, como carnaval e fim de ano. Al�m disso, ele afirma que, no per�odo da competi��o, haver� uma substitui��o dos turistas corporativos por aqueles que buscam lazer, e a maior parte das pessoas que v�o aos jogos costuma estar pr�xima dos locais em que eles ocorrem. "Tudo isso sinaliza que a demanda n�o deve crescer tanto quanto se imagina algumas vezes."
A Associa��o Brasileira das Empresas A�reas (Abear) informou ao Broadcast, servi�o em tempo real da Ag�ncia Estado, que a avalia��o de que a Copa do Mundo representa um grande momento para o setor n�o se reflete na realidade. Conforme a Abear, o impacto recair� mais sobre a log�stica do que sobre o pre�o, uma vez que a demanda total n�o sofrer� grande varia��o, por conta da diminui��o dos passageiros corporativos durante o torneio.
Setor hoteleiro
J� no setor hoteleiro, a escassez na oferta n�o parece ser um problema. S� no Rio de Janeiro, sede da final da Copa do Mundo, 36 hot�is devem ser inaugurados at� o evento, segundo o presidente da Associa��o Brasileira da Ind�stria de Hot�is (ABIH), Enrico Fermi. Ele garante que n�o haver� abusos nos pre�os cobrados pelo setor e n�o aposta em demanda excedente. "Quem fala em aumento de pre�os, ou � por falta de informa��o, ou por m�-f�", diz.
Segundo Fermi, ainda em 2007, quando o Brasil foi definido como pa�s-sede, 840 hot�is firmaram contrato com a Match Services AG, empresa contratada pela Fifa para fornecer ingressos para jogos e acomoda��o. Assim, parte dos quartos ficaria reservada para as sele��es e para a comiss�o t�cnica da autoridade mundial do futebol, enquanto outra parte seria ofertada no site da companhia, a pre�os estabelecidos h� sete anos e reajustados de acordo com a infla��o no per�odo.
"S�o tarifas compat�veis com o que � praticado em outros pa�ses", destaca Fermi. O presidente da ABIH diz ainda que parte desses quartos j� foi descontratada - ou seja, devolvida �s redes para que elas mesmas comercializem as di�rias -, mas n�o aposta em um aumento intenso de pre�os com base na l�gica da oferta e demanda. "Se a pr�pria operadora oficial devolve, quem vai demandar al�m dela? Eu acho que n�o (vai haver demanda excedente). Vai vender para quem?", questiona.
Na semana passada, o F�rum de Operadores Hoteleiros no Brasil (FOHB), que representa 25 das maiores redes hoteleiras do Brasil, informou que at� agora apenas 40% dos apartamentos ofertados nas cidades-sede no per�odo da competi��o j� est�o vendidos.
As redes hoteleiras representadas pelo FOHB englobam 600 hot�is em opera��o e respondem por 18% dos apartamentos em todo o setor no Pa�s. Segundo a entidade, o balan�o mostra que a demanda prevista para o evento est� aqu�m do esperado. Consequentemente, parte da oferta hoteleira, ampliada nos �ltimos anos, corre o risco de ficar ociosa.