Deco Bancillon
Bras�lia – Alterar o quadro de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos �ltimos tr�s anos – a pior m�dia anual desde o governo Fernando Collor (1990-1992) – ser� o maior desafio do pr�ximo mandato presidencial, seja com a reelei��o de Dilma Rousseff ou com a vit�ria da oposi��o. Para especialistas, se mantido por v�rios anos, o baixo desempenho da economia tende a atrofiar a capacidade de o pa�s crescer.
Nas contas do estrategista-chefe para o Brasil do banco japon�s Mizuho, Luciano Rostagno, o chamado PIB potencial do pa�s caiu de 4,3%, em 2007, para os atuais 2,5%. A medida considera o tamanho da popula��o e a capacidade de empresas e governos atenderem o consumo interno. “Qualquer expans�o acima desse patamar impulsiona a infla��o, porque come�a a faltar produto e at� trabalhadores qualificados para atender a demanda extra das fam�lias e das empresas”, explica.
Esse descompasso prejudica, sobretudo, ccccca confian�a dos empres�rios. “� medida que o pa�s cresce pouco durante um longo per�odo, as expectativas do setor privado acabam se deprimindo, afetando investimentos e, por tabela, inibe a expans�o no futuro”, analisa o economista Jos� Luis Oreiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “� um ciclo que se realimenta e produz um efeito perverso nas proje��es. Uma vez que h� uma trajet�ria de baixo crescimento, a chance de continuar nela � muito alta”, assinalou.
Curiosamente, nas �ltimas elei��es presidenciais, a ent�o candidata Dilma prometia taxas de crescimento em patamares elevados e sustent�veis. Mas essa que era uma das principais bandeiras de campanha n�o se confirmou. T�o logo tomou posse, em 2011, a presidente mandou o Minist�rio da Fazenda elaborar documento com as metas para os quatro anos de seu governo, prevendo expans�o m�dia anual de 5,9% da economia.
A proje��o, no entanto, ficou distante do resultado alcan�ado: um desempenho m�dio de 2% nos tr�s primeiros anos de sua gest�o. Essa taxa pode cair ainda mais t�o logo se confirme um avan�o de s� 1,4% do PIB neste ano, conforme prev� o mais recente relat�rio apresentado pela consultoria Mau� Sekular. Nesse caso, a taxa m�dia de crescimento recuaria para 1,9% ao ano, cerca de um ter�o dos 5,9% imaginados pelo governo.
DESVIO DE ROTA
Esse erro de planejamento pode ser explicado, em parte, pelo modelo de desenvolvimento adotado pela equipe econ�mica da presidente. O texto que trazia as estimativas mais favor�veis ao PIB avisava que as “medidas macroprudenciais” a serem adotadas ent�o pelo governo, em conjunto com a consolida��o fiscal, deviam permitir que a economia seguisse “em crescimento sem descompasso entre oferta e demanda”. Em outras palavras: o governo perseguiria uma linha respons�vel na gest�o das contas p�blicas, intervindo no mercado apenas para evitar solavancos inesperados, como foi o aprofundamento da crise financeira global.
N�o foi o que ocorreu. Em vez de consolida��o fiscal, o governo ampliou gastos em ritmo tr�s vezes superior ao aumento da receita tribut�ria. A consequ�ncia disso foi a redu��o do esfor�o para pagar os juros da d�vida p�blica, representado pela meta de super�vit prim�rio. O indicador encolheu sensivelmente nos �ltimos tr�s anos. Passou de 3,1% do PIB, em 2011, para 1,9% no ano passado.
Modelo superado
A estrat�gia do governo Dilma Rousseff para acelerar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) parecia simples. Ao estimular o consumo interno, os investimentos produtivos viriam a reboque, corrigindo o desequil�brio entre a forte demanda das fam�lias e a insuficiente capacidade das empresas em atend�-las. No entanto, a proposta, que ficou conhecida como nova matriz econ�mica, falhou. A expans�o da atividade entrou em desacelera��o e o custo de vida colou no limite de toler�ncia, subiu para pr�ximo de 6,5%, o teto da meta de infla��o.
O economista-chefe da Mau� Sekular, Alessandro del Drago, lembra que a taxa de expans�o do PIB, de 1,9% na compara��o entre o �ltimo trimestre do ano passado e igual per�odo de 2012, ficou abaixo do potencial, que seria de 2,4%. “O pa�s tem crescido abaixo do que pode porque n�o conseguiu equacionar os problemas de oferta, como gargalos log�sticos e amplia��o da produtividade. Como essas medidas dependem de reformas estruturais, que n�o s�o feitas da noite para o dia, deveremos ter a continuidade desse baixo crescimento por algum tempo”, afirma.
Na m�dia dos pa�ses emergentes, o Brasil tem tido um dos piores desempenhos. Essa fraqueza, por�m, n�o pode ser atribu�da � escassez de demanda, como ocorreu em 2008 e, sobretudo, em 2009, observam os economistas Affonso Celso Pastore, Marcelo Gazzano e Maria Cristina Pinotti no estudo “A armadilha do baixo crescimento”, publicado ano passado.
“Para o governo, a chave para a retomada dos investimentos � a amplia��o do consumo, proveniente dos est�mulos fiscais”, escreveram. Eles defendem justamente o inverso que o proposto pelo governo. “O mercado de trabalho mostra evid�ncias de pleno emprego, e o consumo persiste crescendo, negando a hip�tese de escassez de demanda. Nosso baixo crescimento est� ligado a um problema de oferta (de produtos e servi�os), com as taxas baixas de investimento desacelerando o crescimento do PIB potencial”, explicam.
Mudar esse quadro e ampliar o potencial de crescimento do pa�s, argumenta a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, depende da realiza��o de mudan�as estruturais. “O abandono da agenda de reformas econ�micas se refletiu na perda de produtividade. Essas mudan�as atuariam no lado da oferta e n�o no da demanda. Da� a necessidade de novos rumos na pol�tica econ�mica”, comenta.
O mesmo pensa o economista do banco japon�s Mizuho Rostagno. “Precisamos retomar as reformas estruturais para o Brasil poder voltar a crescer mais forte. O PIB potencial � um reflexo disso, atingindo seu auge em 2007 e caindo mais forte nos �ltimos anos”, lembrou. (DB)