
O racionamento branco de energia j� come�ou em pelo menos uma usina hidrel�trica do pa�s. Informa��es obtidas pelo Estado de Minas junto a uma fonte do setor el�trico d�o conta de que o Operador Nacional do Setor El�trico (ONS) determinou uma redu��o de 30% da vaz�o efluente (�gua que sai da represa), da usina hidrel�trica de Tr�s Marias, no Rio S�o Francisco, que saiu ontem dos habituais 500 mil litros por segundo para 350 mil litros por segundo. A vaz�o na usina da Companhia Energ�tica de Minas Gerais (Cemig) dever� ser reduzida ainda mais, chegando a 50% do volume normal ou 250 mil litros por segundo. Com a redu��o do volume de �gua que sai da represa, o volume de energia produzido tamb�m vai cair. A decis�o teria sido tomada um dia depois de o ONS divulgar que o n�vel dos reservat�rios das usinas das regi�es Sudeste/Centro-Oeste est� em 34,66%, n�vel pr�ximo ao registrado no mesmo per�odo em 2001 (33,45%), ano que que houve racionamento de energia.
De acordo com o prefeito de Tr�s Marias, Vicente Resende, a situa��o do lago da usina nunca esteve t�o cr�tica. Em agosto de 2001, um m�s depois que o racionamento de energia foi decretado, o lago estava com 3 bilh�es de litros de �gua. Hoje, em pleno per�odo chuvoso, o volume de �gua est� perigosamente perto dessa marca – 4,2 bilh�es de litros. No total, a capacidade do reservat�rio � de 21 bilh�es de litros. “Em 50 anos de exist�ncia da represa, nunca viemos uma situa��o t�o grave. Ainda n�o fomos comunicados da redu��o da vaz�o. Se isso realmente ocorreu, o lago ser� preservado. Vamos torcer para S�o Pedro mandar chuva entre mar�o e abril para a situa��o melhorar”, diz Resende.
Procurado ontem pelo Estado de Minas, o ONS ainda n�o se manifestou sobre a determina��o que teria dado � Cemig e nem mesmo sobre a necessidade de ado��o da mesma medida em reservat�rios de outras usinas com baixo armazenamento, como Marimbondo (19,56%), no Rio Grande, e Itumbiara (16,21%) no Rio Parana�ba. A concession�ria mineira tamb�m n�o comentou a redu��o da vaz�o em Tr�s Marias.
Irriga��o
Segundo Fl�vio Neiva, presidente da Associa��o Brasileira das Empresas Geradoras de Energia (Abrage), a redu��o da vaz�o efluente poder� afetar a irriga��o no Projeto Ja�ba e o abastecimento de �gua em munic�pios como Pirapora, S�o Rom�o, S�o Francisco e Janu�ria, que ficam a juzante (abaixo) do lago da usina de Tr�s Marias. Jorge Lu�s Raimundo de Souza, presidente da Associa��o dos Fritucultores do Norte de Minas Gerais (Abanorte), na �rea do projeto Ja�ba, est� apreensivo. Ele teme que a redu��o entre 30% e 50% na �gua que sai da represa e segue pelo rio S�o Francisco afete a produ��o de frutas no local. “A redu��o � muito expressiva”, justifica.
Hoje, de acordo com ele, o complexo de fruticultura do Rio S�o Francisco ocupa quase 50 mil hectares irrigados e gera 100 mil empregos diretos. S� no Ja�ba, s�o 35 mil hectares com uma produ��o de, em m�dia, 20 toneladas de frutas cada um, o que, fechadas as contas, soma mais de 600 mil toneladas de frutas. “S� do Ja�ba saem entre 30 e 40 caminh�es de frutas por dia”, calcula. A Abanorte tem sede em Jana�ba, onde a falta de chuvas no ano passado reduziu o n�vel de armazenamento na barragem do Bico da Pedra, no Rio Gurutuba, em 14 metros. Com isso, j� h� racionamento de 50% de �gua destinada � irriga��o desde o ano passado.
“Cerca de 30% da �rea foi severamente afetada”, sustenta Souza. De acordo com ele, dos 6.800 hectares do per�metro irrigado do Gurutuba, 2 mil hectares foram totalmente perdidos. Al�m dessa �rea, uma parte est� seriamente efetada, mas conseguiu sobreviver. “Assumimos o preju�zo que nos cabia. A tomada de �gua destinada a perenizar o rio n�o foi afetada. J� a agua que vai para os canais de irriga��o, apesar da reucpera��o de sete metros no reservat�rio da represa em janeiro, continua sob racionamento de 50% porque a situa��o est� muito incerta”, diz.
Compensa��o
A redu��o da gera��o de energia em Tr�s Marias, em decorr�ncia da queda na vaz�o elfuente, n�o � um grande problema, pois pode ser compensada com o aumento da produ��o em reservat�rios que estejam mais cheios, diz a fonte do setor el�trico. “A quest�o toda � que mesmo com a gera��o t�rmica no m�ximo, os reservat�rios n�o est�o enchendo na �poca de chuva. O problema � que a chuva n�o est� caindo nos reservat�rios de cabeceira, como Tr�s Marias, Itutinga (Rio Grande), S�o Sim�o (Rio Parana�ba) e Nova Ponte (Rio Araguari). “No racionamento de 2001, havia como compensar um pouco o problema pois os reservat�rios do Sul do pa�s estavam cheios, o que n�o ocorre agora”, sustenta a fonte do setor el�trico.
Medo de perdas nas margens
O secret�rio de Transporte de Janu�ria, que fica a Juzante da represa de Tr�s Marias, Ilson Almeida Oliveira, teme que a redu��o da vaz�o de �gua na usina de Tr�s Marias, no Rio S�o Francisco, afete o munic�pio. “J� tivemos que mudar as boias. O rio ficou mais longe do cais”, revela. De acordo com ele, com a seca, a dist�ncia entre a �gua e o cais j� � de 100 metros, o que pode afetar a navega��o tur�stica. No munic�pio de Jana�ba, que est� na mesma situa��o, o prefeito Yugi Yamada, diz que apesar do racionamento na �rea irrigada do Gurutuba, o abastecimento na cidade est� normal. Ele, no entanto, est� preocupado com a situa��o dos mil hectares de bananal que possui no Ja�ba.
Paulo Roberto de Carvalho, gerente de irriga��o da Companhia de Desenvolvimenro dos Vales do S�o Francisco e do Parna�ba (Codevasf), explica que n�o sabe dizer se a redu��o do volume de �gua no rio afetar� a fruticultura na regi�o porque isso nunca ocorreu antes. A Codevasf capta no m�ximo 20 mil litros por segundo para a atividade quando a estiagem � superior a quatro dias. “O que pode acontecer � reduzir a quantidade de �gua e isso mudar o curso do rio, afastando o nosso ponto de capta��o, mas nunca vivemos uma situa��o assim”, reconhece. De acordo com ele a situa��o � preocupante porque o S�o Francisco � muito largo em tem muita areia. “Estamos na margem direita e se o curdo do rio mudar, ser� necess�ria uma interven��o”, acredita. (ZF)