Bras�lia – Os dois economistas mais poderosos do governo – Dilma Rousseff e Guido Mantega – est�o entre os admiradores das ideias do brit�nico John Maynard Keynes (1883-1946), que defendia a interfer�ncia do Estado na economia para reduzir as incertezas. Mas, para quem est� no setor privado, no mercado financeiro e na academia, o que se v� atualmente � o contr�rio. Analistas de diferentes matizes afirmam que o n�vel de imprevisibilidade est� alto demais para um momento que em nada lembra os quadros de crise aguda que o pa�s j� viveu, com fuga de capitais e disparada do c�mbio.
“As d�vidas para quem � tomador de decis�es no lado real s�o muito grandes no Brasil de hoje. Um ano virou longo prazo. N�o se consegue saber se em 2015 haver� energia suficiente ou n�o, como ser� a pol�tica econ�mica, como ser� o c�mbio, entre outras coisas. Incentivos ora s�o concedidos, ora s�o retirados”, afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. “As incertezas aumentaram muito de meados do ano passado para c�, com o excesso de ativismo do governo”, critica o economista Claudio Porto, presidente da consultoria Macroplan.
Para o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, Dilma e Mantega n�o s�o keynesianos. “Eles apenas gostariam de ser”. As principais medidas tomadas pelo governo n�o foram no campo da macroeconomia, como orientava Keynes, mas na microeconomia. No setor el�trico, buscou-se modicidade tarif�ria por meio de mudan�as nos contratos de concess�o. Na �rea de combust�veis, segurou-se o valor da gasolina e do diesel, reduzindo, com isso, a competividade do etanol e frustrando os investimentos realizados na �rea. E o lan�amento de novas concess�es de rodovias teve de ser postergado devido �s tentativas iniciais de proporcionar uma taxa de lucro muito baixa.
“Keynes n�o preconizava interven��es desse tipo”, afirma Schwartsman, que acaba de lan�ar o livro Complac�ncia, em co-autoria com Fabio Giambiagi, no qual dedica um cap�tulo ao problema das mudan�as de regras do jogo. O professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jo�o Saboia tamb�m est� entre os cr�ticos das altera��es freq�entes promovidas pelo Estado. “Alguma mudan�a � razo�vel em pol�tica econ�mica. Mas em prazo t�o curto, causam inseguran�a. � a chamada inconsist�ncia temporal”, aponta.
OFERTA Schwartsman ataca mesmo a atua��o do governo para garantir a demanda agregada a partir de 2011, com a queda na taxa de juros, mais tarde revertida, e a redu��o do super�vit prim�rio, algo que se enquadra no preceito keynesiano de ampliar a demanda agregada. “Em 2008 e em 2009, isso fazia sentido como pol�tica antic�clica. Mas n�o depois, quando as dificuldades de crescimento passaram a ser n�o de falta de consumo, mas sim de limita��o de oferta”, aponta.
Al�m de frustrar as expectativas internas, as medidas adotadas pelo governo brasileiro contrastam com o que se veem em outros pa�ses. "Todas as boas pr�ticas de gest�o macroecon�mica do p�s crise de 2008 apontam no sentido de que os governos devem atuar como estabilizadores", argumenta Porto. "Um exemplo disso � o Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos), que est� retirando os est�mulos, de maneira gradual para dar tempo aos agentes econ�micos se programarem, se ajustarem", explica.
Para o professor de economia da Universidade de Bras�lia Jorge Arbache, as complexas medidas adotadas em outros pa�ses fazem com que o Brasil corra o risco de ter uma estrutura produtiva cada vez mais defasada se n�o se preparar. "O ambiente global hoje � mais complexo, e precisamos de um plano de voo", indica. "N�o estou falando de algo detalhado, como se fazia na Uni�o Sovi�tica. O que importa � o setor p�blico e o setor privado se coordenarem. Isso foi feito na Alemanha e nos Estados Unidos. E funcionou", aponta. Ele explica que o Brasil sofre cada vez mais a influ�ncia do mercado global, mesmo que n�o busque ampliar a integra��o. "N�o se trata apenas de com�rcio, mas de capitais e de forma��o de pre�os e insumo e ativos. A influ�ncia hoje � em tempo real", afirma.
URNAS O ponto central das incertezas hoje � a elei��o de outubro. � o que impede, por exemplo, na vis�o de v�rios analistas, a decis�o de poupar energia, diante da falta de chuvas em algumas �reas e da dificuldade de gera��o das usinas. "Autoridades j� poderiam ter tomado iniciativa de algum programa de racionaliza��o de energia. Alertar a popula��o n�o � atestado de incompet�ncia. O ver�o foi muito seco, diferentemente dos anteriores. Mas h� dificuldade em ano eleitoral. Isso acrescenta incerteza para o empresariado", argumenta Saboia, da UFRJ. Schwartsman concorda que o pleito dificulta a tomada de decis�o, e alerta para o fato de que isso pode agravar o problema energ�tico. "O governo est� empurrando com a barriga. S� pensa em se manter no poder".
O desfecho do pleito, por outro lado, tende a desatar n�s. “O vencedor da elei��o tem condi��es de melhorar o quadro de incertezas, independentemente de quem seja. No caso de um governo novo, essa chance � muito favor�vel. Mas tamb�m com a reelei��o as idas e vindas podem diminuir. Sou otimista”, diz Saboia.
Porto v� tend�ncia de a presidente Dilma manter a pol�tica atual caso seja reeleita, mas n�o descarta chances de uma mudan�a radical. “Ou ela dobra a aposta ou d� um cavalo de pau. Se recorrer � ortodoxia n�o ser� por prefer�ncia e sim por inevitabilidade”, analisa. S�o grandes, portanto, as chances de um 2015 duro, que poder�, ao menos, trazer de volta taxas mais altas de crescimento a longo prazo. “O que digo aos empres�rios � que eles devem se preparar para o aperto no ano que vem. Mas n�o sou pessimista. O Brasil precisa de uma cirurgia simples. N�o � como a Argentina ou a Venezuela”, compara.
Vaiv�m
O diretor da Schindler, J�rgen Tinggren, percebeu com satisfa��o, no ano passado, na sede da empresa, em Hergiswil, na Su��a, que as exporta��es de elevadores e escadas rolantes produzidas pela empresa no Brasil estavam crescendo. Seis meses depois, despencaram. Ligou, ent�o, para a subsidi�ria,,,, e descobriu que a redu��o da carga tribut�ria concedida anteriormente havia sido cancelada, eliminando o incentivo para as vendas externas. Tinggren afirma que a imprevisibilidade n�o � o �nico problema do ambiente de neg�cios no Brasil. “A burocracia � terr�vel. Para receber esse incentivo para exportar, era preciso dedicar 2.000 horas de trabalho de um contador. Em outros pa�ses, isso requer, em m�dia,
100 horas”, diz.