
Apesar dos argumentos sombrios dos especialistas para a eleva��o do custo de vida e das justificativas da equipe econ�mica para acalmar os investidores, quem continuar� a sofrer e a sentir no bolso a alta de pre�os de produtos e servi�os � o consumidor. A carestia para quem ganha at� dois sal�rios m�nimos cravou 0,85% em mar�o, conforme o �ndice de Pre�os ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1) medido pela Funda��o Getulio Vargas (FGV).
Os ru�dos no mercado aumentaram ainda mais ap�s a divulga��o da ata da �ltima reuni�o do Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom). Os analistas acreditavam que o documento viria para consolidar o consenso de que o ciclo de aumento de juros iniciado em abril do ano passado chegaria ao fim. Entretanto, parte deles avalia que o documento deixou uma brecha para uma nova alta de 0,25 ponto percentual.
Em meio a esse debate, o governo acredita que ganhou tempo at� que o Banco Central sancione uma nova alta. Como o Copom s� se reunir� em 27 e 28 de maio, ter� uma vis�o mais clara do custo de vida. At� l�, o IPCA de abril j� ter� sido divulgado e tamb�m as pr�vias de maio. O temor do Pal�cio do Planalto � que o quadro mais negativo se confirme com estouros sucessivos da meta de 6,5% de infla��o perseguida pela autoridade monet�ria. Ainda que demonstre otimismo, a equipe econ�mica est� em alerta ap�s a ata do Copom revisar de 4,5% para 5% a infla��o dos pre�os administrados em 2014 e 2015, levando em conta a hip�tese de aumento de 9,5% nos pre�os da eletricidade. A prioridade � criar o melhor ambiente poss�vel para que o governo Dilma n�o d� brechas para receber ataques da oposi��o durante a corrida presidencial.
Tens�o na tomada No caso da energia, o pr�prio BC elevou a estimativa de alta este ano, antes em 7,5%. Apesar disso, a previs�o continua excessivamente otimista e parece longe da realidade do setor el�trico, por n�o considerar considerar at� mesmo recentes reajustes autorizados a distribuidoras, em torno de 15%. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas acreditam que o impacto dos aumentos das contas de luz sobre a infla��o refor�am significativamente a perspectiva de que o teto da meta do BC para IPCA este ano, de 6,5%, ser� rompido.
Andr� Braz, economista da Funda��o Getulio Vargas (FGV-RJ), informa que para cada 1% de aumento no pre�o da eletricidade, o IPCA sobe 0,03 ponto percentual. Dessa forma, um aumento de 10% na conta de luz este ano, por exemplo, acrescentar� ao �ndice oficial de infla��o 0,3 ponto percentual, o suficiente para se perder a meta. Em Minas, com o aumento de 14,24% nas contas da Cemig, o impacto na infla��o ser� de 0,37 ponto percentual. Em raz�o das atuais circunst�ncias cr�ticas do setor el�trico, afetado pelo baixo n�vel dos reservat�rios e pela gera��o termel�trica, mais cara, essa rela��o deve se manifestar mais intensamente, acrescenta ele. "O item energia el�trica tem peso de 2,5% no or�amento dom�stico e a �nica sorte do governo � que os reajustes das distribuidoras n�o s�o aplicados simultaneamente", sublinhou. Para o p�blico de terceira idade, a despesa � mais relevante, de 3% do total, por ficar mais tempo em casa.
Mesmo com essas press�es inflacion�rias, o Banco Central suavizou o discurso adotado no documento em compara��o com a �ltima ata divulgada. A palavra “especialmente” foi retirada do texto quando a autoridade monet�ria afirmou que se manter� “vigilante” no controle da infla��o. Em outro trecho, o Copom elevou o tom em defesa da efic�cia do ciclo de aumento de juros, interpretado por parte dos analistas como sinal de fim do processo de alta da Selic. “Parte significativa da resposta dos pre�os ao atual ciclo de aperto monet�rio ainda est� por se materializar” e “os efeitos das a��es de pol�tica monet�ria sobre a infla��o s�o cumulativos e se manifestam com defasagens”.
Consumidor � quem paga
Os agentes financeiros j� come�aram a cobrar dos consumidores as incertezas da economia brasileira. Levantamento da Associa��o Nacional dos Executivos de Finan�as, Administra��o e Contabilidade (Anefac) mostra que, desde meados de novembro, a alta das taxas de juros ao consumidor se descolou da eleva��o da taxa b�sica da economia. De mar�o do ano passado a mar�o deste ano, a Selic subiu 3,5 pontos percentuais. No mesmo per�odo, a taxa m�dia de juros para a pessoa f�sica registrou eleva��o de 10,08 pontos percentuais. O detalhe � que, at� novembro, as duas taxas subiam no mesmo ritmo da Selic, mas a partir da� a alta dos juros aos consumidores passou a ganhar a corrida.
Em mar�o, de acordo com a Anefac, as taxas de juros das opera��es de cr�dito voltaram a subir no pa�s. Essa foi a terceira eleva��o do ano e a 10ª seguida. Das seis linhas de cr�dito pesquisadas pela Anefac para as pessoas f�sicas, somente o cart�o de cr�dito rotativo manteve a taxa de juros inalterada. As outras cinco – juros do com�rcio, cheque especial, CDC para financiamento de autom�veis, empr�stimo pessoal de banco e financeiras – cresceram. Com isso, a taxa de juros para pessoa f�sica aumentou, em m�dia, 0,69% em mar�o de 2014 na compara��o com o m�s anterior, saindo de 5,82% para 5,86%, a maior desde agosto de 2012.
O Brasil vinha caminhando numa situa��o de estabilidade e, enquanto isso aconteceu, os bancos s� repassavam ao consumidor as altas da Selic, mas as expectativas negativas tornaram os agentes econ�micos mais pessimistas e eles come�aram a precificar a expectativa de alta da inadimpl�ncia. Quando percebe um risco, o setor financeiro aumenta as taxas de juros ao consumidor para suportar isso”, explica Miguel Jos� Ribeiro de Oliveira, diretor da Anefac. “O aumento dos juros pode ser atribu�do � expectativa de novas eleva��es da Selic e tamb�m � piora nos �ndices de infla��o e de crescimento econ�mico”, analisa.
Na opini�o do economista e consultor Felipe Queiroz, � natural que as taxas de juros cobradas pelas institui��es financeiras subam em velocidade maior do que as taxas de juros b�sicos da economia. “As taxas ao consumidor seguem vari�veis como a Selic, o endividamento das fam�lias, e as expectativas de retorno para o credor. Numa situa��o de eleva��o da Selic, elas se alteram porque a tend�ncia de atrasos de pagamento e de inadimpl�ncia aumentam”, explica.
Empresas Para pessoas jur�dicas, das tr�s linhas de cr�dito pesquisadas, todas ficaram mais caras no m�s passado na compara��o com fevereiro. De acordo com a Anefac, a taxa de juros m�dia para pessoa jur�dica apresentou uma eleva��o de 0,90% no m�s, passando de 3,32% ao m�s em fevereiro de 2014 para 3,35% ao m�s mar�o. Trata-se, tamb�m, da maior taxa de juros do segmento desde agosto de 2012.