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Estado de Minas LUZ NOVA NA CONSTRU��O

Obras na usina de Belo Monte avan�am em meio a pol�mica

Turbinas devem gerar energia no fim de 2015


postado em 13/04/2014 06:00 / atualizado em 13/04/2014 07:39

Depois de 400 dias de atraso no cronograma, 25 mil operários se revezam com parada s[o no domingo(foto: Carlos Vieira / CB / D. A Press)
Depois de 400 dias de atraso no cronograma, 25 mil oper�rios se revezam com parada s[o no domingo (foto: Carlos Vieira / CB / D. A Press)
Altamira (PA) – Os 13 graus negativos do term�metro fazem qualquer um se esquecer de que est� na margem esquerda do Xingu. O rio vira gelo numa f�brica trazida de Seattle (EUA) – s�o, ao todo, tr�s delas no canteiro de obras da Usina Hidrel�trica de Belo Monte. Flocos caem do teto por cinco metros at� o ch�o. Removidos por um rodo autom�tico, seguem por um duto e se juntam com cimento e cascalho provenientes de outra instala��o industrial.

Fosse usado o rio em estado l�quido na mistura, n�o se conseguiria concreto de tanta qualidade, duro o suficiente para conduzir o pr�prio Xingu entre paredes que v�o desembocar em 24 turbinas. Domado, o rio vai produzir at� 11.233 megawatts (MW), em duas casas de for�a. Na principal, h� 18 turbinas gigantes, que v�o gerar 11.000MW. Na menor, a 20km dali, ao lado da barragem, ser�o mais 233MW.

O Xingu j� est� semirrepresado, com uma barragem de seis quil�metros de largura. Ela ser� fechada de vez, com mais um quil�metro, at� o fim do ano que vem. Come�ar�o, ent�o, a funcionar algumas das turbinas pequenas, instaladas no s�tio Pimental. Para os ambientalistas, ser� uma derrota. Para os defensores da obra, uma vit�ria parcial. Belo Monte � um gigante, mas para ser aprovada foi reduzida � metade. O projeto original, dos anos 1980, previa um lago de 1.200km². Com isso, seria poss�vel guardar �gua suficiente para girar as turbinas tamb�m no per�odo de seca. A partir de uma capacidade instalada de 11.000MW, se conseguiriam 9.000MW m�dios por ano.

Ex�rcito de oper�rios
O t�cnico em refrigera��o Luiz Carlos Rocha, 56 anos, inspeciona de vez em quando o interior frio, barulhento e escuro da f�brica de gelo. Ao abrir a porta e avan�ar um passo, est� no denso ar amaz�nico de 35°C. Pode avistar, a algumas centenas de metros, um fragmento de floresta. “A gente deveria ganhar insalubridade para enfrentar essa mudan�a de temperatura”, queixa-se. Os filhos, j� crescidos, est�o em S�o Jos� do Rio Preto (SP), de onde veio. Na vila da obra, vive com a mulher.

Revezam-se em tr�s turnos di�rios 25 mil oper�rios – 30% s�o de Altamira, 24% de outros locais do Par� e 46% dos demais estados – com apenas uma parada, aos domingos. A meta � n�o perder mais um dia sequer. Desde que os trabalhos tiveram in�cio, em 2011, j� escaparam pelo ralo 400 dias, por conta de decis�es judiciais ou protestos que paralisaram as obras. H� um ano, �ndios de v�rias etnias ocuparam parte do canteiro. Alguns da regi�o, outros de longe, todos contr�rios �s usinas projetadas para o Rio Tapaj�s. “Belo Monte virou um palco internacional”, lamenta o diretor da obra, Antonio Kelson Elias Filho. Depois da confus�o, transformou-se tamb�m em uma fortaleza. �s �reas mais importantes da obra, n�o se chega sem atravessar postos de controle, cercas altas e fossos.

Racionamento
Kelson Filho afirma que a primeira turbina da casa de for�a principal ficar� pronta em mar�o de 2016, certo de que n�o h� qualquer possibilidade de atraso. Afinal, grande parte do que ser� gerado nos primeiros anos j� foi pago por 27 distribuidoras de energia do pa�s, a R$ 78 o megawatt/hora (MWh). Se o prazo n�o for cumprido, a Norte Energia, vencedora do leil�o de 2010 que a sagrou concession�ria, ter� de recorrer ao mercado e pagar � vista. Em meio � imin�ncia de racionamento, o MW/h est� custando mais de R$ 800. O diretor da Belo Monte ressalta que o problema n�o � apenas o pre�o: a quantidade a ser gerada pela usina � muito grande. Se n�o entregar o combinado e n�o puder compr�-lo, a companhia pagar� multa alt�ssima.

No atual est�gio da constru��o da usina de Belo Monte, ningu�m acredita, mesmo entre seus opositores ferrenhos, que ser� poss�vel interromp�-la. O temor � a constru��o de mais seis barragens e usinas rio acima. A capacidade instalada da casa de for�a da nova hidrel�trica ser� suficiente para iluminar uma cidade de 18 milh�es de habitantes

Belo Monte tem 11.233MW de capacidade instalada, mas vai gerar 4.571MW em m�dia ao longo do ano, por ter reservat�rio pequeno. Se as outras barragens e usinas fossem conclu�das, por�m, seria poss�vel elevar muito sua capacidade, porque, na �poca de estiagem, a �gua armazenada rio acima poderia ser liberada. � o que acontece hoje em Itaipu, que conseguiu gerar 94,27MWh por ano, na m�dia dos quatro melhores anos, rendimento superior � hidrel�trica de Tr�s Gargantas, na China, a maior do mundo. (Colaborou Antonio Tim�teo)

Gera��o foi ajustada a impacto ambiental

Com a inten��o de evitar o alagamento de �reas ind�genas e reduzir o impacto ambiental, o reservat�rio de Belo Monte diminuiu para 503 km². A gera��o m�dia ficar� em 4.571 MW ao longo do ano. “Costumo dizer, como engenheiro e como brasileiro, que as gera��es futuras v�o nos cobrar: por que voc�s instalaram tantas m�quinas e n�o est�o usufruindo da capacidade de gera��o de energia?”, diz Kelson Filho, diretor da obra. Os ambientalistas tamb�m questionam gastar tanto dinheiro para uma usina que ser�  limitada em sua capacidade. Mas acham que, em vez de fazer o dobro, o melhor seria fazer nada. Copo meio cheio ou meio vazio, Belo Monte n�o � vista por ningu�m como a solu��o ideal.

Mesmo limitada, a hidrel�trica ser� a maior usina exclusivamente brasileira - j� que Itaipu � dividida com os paraguaios -, e poder� ser a recordista nacional em gera��o. Tucuru�, atualmente no topo do ranking, tem capacidade instalada de 9.000MW. A energia firme tem ficado em 4.140MW anuais.

A obra de Belo Monte, que vai at� 2019, tem custo previsto de R$ 25,9 bilh�es, dos quais R$ 22,5 bilh�es financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES). Desse total, R$ 3,7 bilh�es s�o destinados a a��es de compensa��o ambiental e social.

No inverno amaz�nico, que corresponde ao ver�o e ao outono no restante do Brasil, a usina ter� gera��o perto da capacidade m�xima. Grande parte dessa energia viajar� 2.100km at� Estreito (MG) por uma linha de 800.000 volts, a mais poderosa do pa�s, o que evitar� perdas no caminho. Assim, se integrar� ao sistema do Sudeste, a regi�o de maior consumo, economizando �gua dos reservat�rios no per�odo em que essa regi�o enfrenta seca – exatamente quando sobra �gua no Norte do pa�s.

Nos outros meses, a gera��o de Belo Monte diminuir�. Poder� chegar a zero, ou muito perto disso, durante v�rios meses na casa de m�quinas principal. A de Pimental, onde ficar� a barragem de 7km do Xingu, aproveitar� a �gua que precisa ser liberada para n�o secar a curva do rio. Os 233MW das oito turbinas de Pimental s�o pouco se comparados � capacidade de Belo Monte, a casa de m�quinas principal. Mas equivalem ao total da usina inteira de Balbina, ao Norte de Manaus, que possui um lago de 2.360 km² - o dobro do que Belo Monte teria na pior das hip�teses.

Compensa��es v�o ao tribunal no DF


A 2 mil km de Bras�lia, h� muita gente atenta �s decis�es do Tribunal Regional Federal da 1ª Regi�o. A 5ª turma da corte com sede no Distrito Federal mandou v�rias vezes interromper a obra de Belo Monte, em decis�es mais tarde revertidas. Para o Minist�rio P�blico da Uni�o, a Norte Energia, dona da usina, e os �rg�os p�blicos respons�veis por fiscalizar a obra t�m sido negligentes quanto �s compensa��es ambientais e sociais previstas. Na decis�o mais recente do TRF, no m�s passado, determinou-se prazo de 90 dias para que se demonstre o cumprimento das condicionantes.

O diretor socioambiental da Norte Energia, Jo�o dos Reis Pimentel, nega que haja atraso. “� uma quest�o de interpreta��o. As compensa��es s�o feitas ao longo da constru��o da usina. V�rias j� est�o prontas e outras, prestes a ser entregues”, afirma.

A empresa diz j� ter constru�do 48 escolas na regi�o e quatro unidades b�sicas de sa�de em Altamira. At� metade do ano, segundo a empresa, Altamira e Vit�ria do Xingu ter�o redes de abastecimento de �gua pot�vel e de coleta e tratamento de esgoto. As adapta��es em cada domic�lio para a liga��o � rede ficar�o por conta do morador.

As pessoas que moram em palafitas de madeira na orla do Xingu em Altamira est�o sendo removidas para conjuntos habitacionais. A �rea em frente ao Xingu ser� reurbanizada. Entre os que est�o trocando de endere�o, por�m, h� queixas de outra ordem. M�rcia da Silva, 22 anos, aposentada por invalidez, espera, em sua palafita, pela casa nova, e lamenta n�o poder levar para o novo bairro a pequena bicicletaria do marido, que garante renda extra � fam�lia. “L� n�o pode ter com�rcio”.

Eliana Costa, desempregada, j� se mudou. A fam�lia, com v�rios irm�os casados, ocupava uma casa grande na orla e ganhou cinco im�veis de alvenaria de 63m². Ela relata ter enfrentado problemas com a qualidade da constru��o rec�m-entregue, incluindo o encanamento. E queixa-se da localiza��o. “Aqui � o fim do mundo. N�o h� �nibus e � preciso caminhar duas horas para chegar ao centro da cidade”.

Resolu��o do Conselho Nacional de Pol�tica Energ�tica (CNPE) impede a constru��o de  novas usinas no Xingu, mas � uma decis�o que est� bem longe de ser irrevers�vel. "Agora isso n�o vai ser feito. Mas e daqui 20 anos?", indaga o bi�logo Rodolfo Salm, professor do campus de Altamira da Universidade Federal do Par� (UFPA). Com a diversidade de fontes poss�veis de energia, o Brasil tem hoje 3.600MW de energia e�lica. At� 2025, a capacidade de gera��o de eletricidade a partir dos ventos chegar� a 60.000MW. (PSP)


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