Bras�lia – No que diz respeito �s expectativas para a infla��o, o governo parece ter perdido de vez a batalha com o mercado financeiro. Em meio a um choque de pre�os de alimentos, que est�o mais caros devido � falta de chuvas, as previs�es para o �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), o par�metro oficial do custo de vida no pa�s, saltaram para 6,51% em 2014. Foi a primeira vez no ano que os bancos e corretoras ouvidos pelo Banco Central (BC) na pesquisa Focus previram uma carestia t�o elevada. Mais do que isso. O percentual de 6,51%, caso seja atingido, significaria o fim de um per�odo de 10 anos de rigor com as metas de infla��o.
A possibilidade de descumprimento da meta acende um sinal de alerta no Pal�cio do Planalto. Para garantir que as expectativas de infla��o n�o piorem ainda mais, o governo escalou o diretor de Pol�tica Econ�mica do BC, Carlos Hamilton, para comentar a pesquisa Focus. � reportagem, ele garantiu que os pre�os cair�o abaixo de 6,5% at� dezembro. “A vis�o do Banco Central � de que a infla��o, em 2014, estar� dentro do intervalo de toler�ncia fixado pelo Conselho Monet�rio Nacional”, disse.
O BC se ampara em previs�es mais otimistas para a produ��o agr�cola, bastante afetada pela falta de chuvas. “� importante lembrar que a alta recente dos pre�os de alguns alimentos � passageira”, alertou Hamilton, que observou que “alguns desses pre�os j� est�o diminuindo”.
O diretor do BC frisou que a autarquia disp�e de as armas para combater a alta dos pre�os. “Desde abril do ano passado, o Banco Central vem usando rem�dio contra a infla��o, o aumento dos juros”, disse. Para ele, “parte significativa” da eleva��o da Selic nesse per�odo, de 3,75 pontos percentuais, aparecer� “at� o fim do ano”, refor�ou.
O governo entende que as expectativas s�o um dos principais canais de transmiss�o da infla��o. Ou seja, se os empres�rios acreditam que os pre�os devem aumentar, eles reajustam preventivamente suas mercadorias j� agora, para evitar preju�zos. Por isso, tamanha preocupa��o em conter o pessimismo do mercado financeiro. A maior dificuldade, no entanto, ser� apagar uma imagem de pouco comprometimento com as metas de infla��o.
Em tr�s anos de governo Dilma, os pre�os sempre “namoraram” o teto da meta, de 6,5% ao ano. Em setembro de 2011, o IPCA acumulado em 12 meses chegou a bater 7,31%. O menor patamar alcan�ado pelo BC no per�odo foi uma infla��o de 4,92%, registrada em junho de 2012 – mesmo assim acima do centro da meta de 4,5%.
Os n�meros s�o percebidos principalmente pelos brasileiros que ganham menos, e que, portanto, sofrem mais com a alta dos pre�os. Nos �ltimos tr�s anos, a infla��o engoliu, em m�dia, 6% da renda das fam�lias. Os n�meros, no entanto, tem piorado m�s a m�s. Em mar�o, o IPCA avan�ou 0,92%, o maior patamar para o per�odo desde 2003. Para Hamilton, esse � um resultado “com baixa probabilidade de acontecer” novamente.
N�o � o que pensa o mercado financeiro, que h� sete semanas consecutivas vem elevando as expectativas para a infla��o. Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, esse pessimismo com o custo de vida funciona como um combust�vel � alta dos pre�os. “Com as expectativas de infla��o mais altas, o custo de vida ganha resist�ncia, o que torna mais �rdua a tarefa do BC de combat�-lo”, disse.
Tend�ncia de alta
O quadro fica ainda pior se considerar que, nos pr�ximos meses, o custo de vida dever� seguir aumentando, mesmo que dados mensais mostrem recuo. Nas contas do ex-secret�rio do Tesouro Nacional e economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall, o IPCA dever� encostar nos 7%, no cumulado em 12 meses, no terceiro trimestre do ano, justamente quando a campanha presidencial estar� pegando fogo.