
O desequil�brio entre a oferta e a demanda do consumidor elevou os pre�os do morango no atacado e no varejo, em alguns casos at� quase o dobro das cota��es observadas no mercado atacadista durante o ano passado. A poucas semanas do in�cio da safra de maior f�lego, produtores, vendedores e varejistas n�o se arriscam a prever o custo a que a fruta vai sair da lavoura e chegar aos distribuidores e � mesa das fam�lias. No entreposto da CeasaMinas em Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, de 1º a 20 deste m�s o volume ofertado encolheu 27% e os pre�os pagos aos fornecedores subiram 28,5%, em m�dia. O valor m�dio por quilo de morango que o produtor recebeu em maio foi de R$ 11,22, ante R$ 8,74 no mesmo m�s do ano passado, indicou pesquisa feita pelo Departamento T�cnico da CeasaMinas.
Nos hipermercados e sacol�es de BH, a bandeja com 300g a 350g era encontrada na semana passada entre R$ 6 e R$ 8,90. O chefe do Departamento T�cnico da CeasaMinas, Wilson Guide da Veiga, destaca a press�o que os clientes de outros estados atendidos pelos morangueiros mineiros exerceram sobre a demanda. Cerca de 60% da fruta consumida em S�o Paulo e 80% do consumo do Rio de Janeiro s�o supridos pelas lavouras de Minas. “Nossa expectativa, se S�o Pedro ajudar, � de que a situa��o da oferta e dos pre�os se normalize a partir de setembro”, afirma.
N�o h� consenso sobre o cen�rio de mercado para a fruta nos pr�ximos meses. Enquanto negociava na Ceasa, semana passada, parte da produ��o da lavoura mantida em Barbacena, na Regi�o Central do estado, o agricultor Albino da Silva Alves observava os efeitos da estiagem, convencido de que o ingresso de um volume maior no varejo tender� a conter a alta dos pre�os na cadeia da produ��o ao com�rcio. Respons�vel pelas vendas da Fazenda da Cachoeira, de Alfredo Vasconcelos, munic�pio tamb�m localizado na Regi�o Central de Minas, Gilmar Alves Garcia j� prefere evitar qualquer proje��o sobre os pre�os. A cota��o da caixa contendo 1,2 quilo de morangos embalados em quatro bandejas � vendida no atacado a R$ 12, em m�dia, depois de ter alcan�ado R$ 20. Em 2013, os produtores receberam entre R$ 6,75 e R$ 7,65.
“Tudo leva a crer que a produ��o ser� menor este ano. Dependemos da m�e natureza para o desenvolvimento de uma cultura t�pica de inverno”, disse Gilmar Garcia, que tem levado � CeasaMinas um volume 40% inferior ao verificado em id�ntica �poca do ano passado. O descompasso entre a oferta e a eleva��o dos pre�os preocupa, ainda, os distribuidores.
A alta dos pre�os chegou acompanhada dos efeitos negativos da estiagem sobre a qualidade dos frutos e os dois fatores apontam para um 2014 problem�tico, na avalia��o do gerente de compras da distribuidora de frutas Benassi Minas, N�lio Ant�nio da Silva. “Esperamos o in�cio da safra e a melhora dos pre�os para o consumidor, talvez dentro de dois meses, mas o mercado est� muito desaquecido”, afirma. N�lio Silva e Edgar Ochi, da Crol Distribuidora, estimam queda da oferta de morangos entre 40% e 50% neste ano. A caixa com quatro bandejas, contendo 1,2kg ao todo, era comercializada na semana passada entre R$ 13 e R$ 18 do atacado para o varejo na Ceasa, ante a varia��o entre R$ 10 e R$ 12 em 2013.
Nem irriga��o � suficiente
Lavouras desenvolvidas no sistema de irriga��o por gotejamento da Regi�o Central de Minas, e aquelas protegidas sob t�neis baixos, que favorecem o manejo fitossanit�rio, tamb�m sofrem com a estiagem, depois do feito que conquistaram de produzir ao longo de todo o ano nas �ltimas tr�s safras. O Sindicato dos Produtores Rurais de Barbacena registra pelo menos 110 hectares plantados no munic�pio, onde o morango se transformou em importante fonte de gera��o de renda e emprego. � cedo para estimar efeitos do clima adverso, mas n�o h� d�vidas de que eles vir�o, atingindo uma maioria de agricultores familiares, observa Renato Laguardia, presidente do sindicato.
“O mais dif�cil � o desafio imposto pelos custos mais altos, seja de produ��o, seja de m�o de obra mais cara e escassa”, diz Laguardia. As despesas de produ��o t�m girado na faixa de
R$ 2,50 por quilo da fruta, segundo levantamento da Emater-MG. Em todo o estado, que � o maior produtor de morangos do pa�s, a �rea cultivada no ano passado foi de 1,9 mil hectares e a produ��o alcan�ou 97,3 mil toneladas. Cerca de 5 mil produtores mant�m as lavouras, com 25 mil trabalhadores diretos e indiretos. O Sul de Minas respondeu por 90% da �rea plantada.
A maior parte das lavouras de Barbacena e Alfredo Vasconcelos usa a tecnologia da estufa e da irriga��o por gotejamento. Outra diferen�a em rela��o ao polo produtor do Sul de Minas � que a regi�o teve uma estiagem menos rigorosa, destaca Leandro Rodrigues de Oliveira, presidente da Cooperativa Agropecu�ria de Alfredo Vasconcelos (Cooprav), dona da marca Frutano. A seca for�ou atraso da flora��o, impondo um desafio que os morangueiros n�o enfrentaram no ano passado.
Pioneiros na cultura em Barbacena, os irm�os Murilo Nomiya, Maur�cio, Cl�udio Kioshi e Leonardo come�aram a colher h� 20 dias e se preparam para boa oferta do fruto at� dezembro. Murilo conta que dois fatores contribuem para o bom resultado ainda esperado das planta��es do S�tio Pinheiro Grosso e da Fazenda dos Cristais. Um deles � o investimento feito em tecnologia de produ��o e em variedades resistentes; o outro consiste no esfor�o de fazer crescer a produtividade. O indicador atingiu 60 quilos por hectare. “Usamos mais tecnologia, agora, e estufas que permitem obter produ��o de um mesmo p� durante dois a tr�s anos”, afirma Murilo. (MV)