Santa F� do Sul (SP), 08 - A Piscicultura Carbone, produtora de til�pia no reservat�rio da hidrel�trica de Ilha Solteira, est� de mudan�a. A empresa deslocou 150 tanques-rede cheios de peixe lago adentro por 2 km. O trajeto teve de ser percorrido lentamente e durou cerca de cinco horas. Antes disso, mergulhadores trabalharam por dez dias para cortar os tocos que estavam no caminho e liberar a passagem para os peixes. A medida foi tomada depois que o reservat�rio atingiu o n�vel mais baixo desde 1986, provocando uma queda de cerca de 30% na produ��o de peixes neste ano.
"Paguei pela concess�o de uma �rea de 2 hectares no lago, que n�o vou mais usar", lamenta o produtor Oswaldo Carbone Junior. "Tive que gastar R$ 100 mil para transferir os viveiros e come�ar do zero em outro local. Era isso ou parar de produzir. Essa �rea vai secar nos pr�ximos meses", diz, apontando para um lago esvaziado.
Os peixes j� est�o na "casa nova", mas a mudan�a ainda n�o acabou. Carbone ainda tem de transferir cont�ineres de ra��o e atualizar o endere�o da empresa na Receita Federal para uma nova sede. O empres�rio teve de gastar R$ 40 mil no arrendamento de um terreno mais pr�ximo ao novo local dos viveiros para montar a infraestrutura de suporte � produ��o.
Assim como Carbone, uma s�rie de aquicultores donos de concess�es para cultivar peixes em reservat�rios de usinas est�o transferindo os viveiros para �reas mais profundas. A "mudan�a" foi autorizada pela primeira vez pelo Minist�rio da Pesca e Aquicultura no fim de maio. Foi uma medida emergencial para minimizar preju�zos com a redu��o do volume do reservat�rio de Ilha Solteira, que encerrou o m�s passado operando com 4,6% do volume �til para gera��o de energia, segundo dados do Operador Nacional do Sistema El�trico. No lago da usina est� o maior polo produtivo de til�pias do Pa�s, com produ��o anual de 25 mil toneladas, cerca de 10% do total nacional, segundo estimativas da ABTil�pia, associa��o do setor.
Os preju�zos aos pescadores s�o mais uma dentre muitas dores de cabe�a ocasionadas pela atual seca, que tamb�m encarece a produ��o de energia e amea�a o abastecimento de �gua em diversas cidades, especialmente na regi�o Sudeste. Dos 22 maiores reservat�rios de hidrel�tricas, 19 tiveram queda no volume de �gua em maio, na compara��o com o mesmo per�odo do ano passado, e dez deles operam abaixo de 30% da capacidade (veja quadro abaixo), de acordo com dados do ONS.
Investimento
A seca pegou os aquicultores desprevenidos e reverteu um movimento de expans�o da atividade. O cultivo de peixes come�ou a se desenvolver de forma profissional na regi�o h� menos de dez anos e a produ��o de til�pia no polo de Santa F� do Sul (SP), munic�pio vizinho a hidrel�trica de Ilha Solteira, crescia historicamente cerca de 25% ao ano.
O produtor Fabio Brand�o pretendia ampliar de 90 para 240 o n�mero de tanques de cria��o de til�pias em sua propriedade. Ele j� tinha encomendado 80 deles quando viu o reservat�rio secar, a ponto de n�o ter espa�o na �gua que restou nem para os tanques em opera��o - parte deles ficou na parte do lago que secou.
"Suspendi o projeto de amplia��o e s� vou colocar os tanques na �gua quando o reservat�rio subir", disse Brand�o, que estima um preju�zo de cerca de R$ 300 mil no ano com a seca.
Brand�o e os demais produtores querem uma sinaliza��o do governo sobre qual, exatamente, � o fundo do po�o em Ilha Solteira. A ABTil�pia entregou na semana passada um of�cio para o Minist�rio da Pesca pedindo informa��es. "Precisamos dessa resposta para saber quanto vamos produzir", disse o produtor Tito Capobianco Junior, presidente da ABTil�pia. A perspectiva na regi�o � que o reservat�rio seque ainda mais, j� que o per�odo de secas vai at� setembro ou outubro.
A Cesp, dona da concess�o da usina, disse, em nota, que a decis�o de esvaziar mais ou menos o reservat�rio � do ONS, mas estima que deve chegar a n�veis mais baixos at� o fim do per�odo de seca. J� o ONS informou que faz recomenda��o t�cnica sobre o volume de opera��o e a decis�o � tomada no Comit� de Monitoramento do Setor El�trico, presidido pelo Minist�rio de Minas e Energia. A pr�xima reuni�o ser� quarta-feira. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.