
Com doutorado na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Franco era secret�rio-adjunto de Pol�tica Econ�mica quando o plano foi criado. A partir de 1995, tornou-se diretor da �rea externa do Banco Central (BC) e, entre 1997 e 1999, presidente da institui��o.
Um dos idealizadores da Unidade Real de Valor (URV), mecanismo essencial para a convers�o dos valores ao novo padr�o monet�rio, Franco afirma que a atual escala de pre�os, "ainda que em n�vel moderado", est� muito acima do que deveria ser tolerado.
Os problemas que o Brasil atravessa, diz, devem-se sobretudo ao abandono do trip� econ�mico - meta de infla��o, c�mbio flutuante e super�vit prim�rio.
Qual � sua avalia��o dos 20 anos do Plano Real e que legado foi deixado nesse per�odo?
Minha avalia��o � positiva, claro. S�o 20 anos em que h� um legado do resgate de um dos mais importantes s�mbolos nacionais. A moeda tem uma import�ncia compar�vel � bandeira e ao hino. Ela vinha sendo enxovalhada de um jeito inadmiss�vel, havia muitos anos. A recupera��o da moeda � um projeto maravilhoso de recomposi��o da nossa pr�pria identidade. O principal legado � a cultura da estabilidade de valores que passou a fazer parte do imagin�rio global da popula��o. Est�vamos em um caminho perigoso, em que a infla��o alta e o tumulto econ�mico eram como que parte da normalidade. O Real restaurou uma nova normalidade, uma nova maneira de ver a vida muito melhor, e acho que isso � para sempre.
Quais foram as principais batalhas travadas nestes 20 anos?
Tivemos duas batalhas muito definidas contra a infla��o. Uma, durante a URV, que trouxe a infla��o de 2.000% ao ano, nos �ltimos meses que precederam o plano, para 33%, que foi a infla��o anual dos primeiros 12 meses de vida da moeda. Essa foi a primeira batalha, uma guerra que entregamos alta tecnologia, que foi a URV, um instrumento pouco convencional e que funcionou muito bem. Mas trazer 33% para 1,5% foi uma guerra de infantaria, de corpo a corpo e do convencimento. Foi importante desindexar as mentes para termos uma infla��o de Primeiro Mundo. Essas duas batalhas s�o parte de uma guerra maior na qual o que est� em jogo � o desenvolvimento brasileiro. A� fizemos reformas que, no come�o, eram parte da batalha contra a infla��o. � uma pena que as reformas foram perdendo seu impulso e, se hoje, a gente enfrenta defici�ncias, elas t�m muito a ver com o fato de termos fraquejado no esfor�o das reformas. Economia � um organismo din�mico. Se n�o houver reformas, ela tende a estagnar. Tem que manter o ritmo de mudan�as.
A estabilidade econ�mica conquistada com o Plano Real est� amea�ada?
Claro que est� amea�ada e n�o existe maneira de resolver os problemas atuais de uma vez e para sempre. A doen�a atual passa pelo desleixo com a pol�tica fiscal. A infla��o � pequena comparativamente � do passado, mas mexe muito com as pessoas. N�o h� d�vida de que existe uma mem�ria s�ria e n�tida que, talvez, se pare�a com o alcoolismo, que n�o tem cura.
Qual o pecado que n�o pode ser cometido para n�o enfraquecer ainda mais a moeda?
Acho que hoje em dia temos v�rios pequenos pecados que, em outra �poca, foram maiores e nos levaram a uma infla��o grande. O principal deles � o desequil�brio nas contas p�blicas. O descontrole nessa regi�o coloca em perigo a Constitui��o inteira. Coloca o Banco Central em uma posi��o delicada de compensar os problemas fiscais com a pol�tica de juros, o que n�o � uma combina��o correta. S� que o BC est� cumprindo o seu dever dentro de um quadro adverso. Ele n�o � o culpado do problema. Ainda bem que temos uma institui��o comprometida com a corre��o desses desvios de rota.
Como o senhor v� o fato de a infla��o m�dia dos �ltimos tr�s anos est� pr�xima de 6,5%?
A infla��o, ainda que moderada, � mais dolorida em uma economia desindexada. O Brasil melhorou muito, fez muitas conquistas, mas n�o � uma obra pronta. � preciso, permanentemente, usar a criatividade e ultrapassar fronteiras. Estamos um pouco devagar no aspecto de superar desafios. Mas o legado do Real permanece, e pode ser melhor ou pior conduzido. Isso � da natureza da democracia: diferentes governos v�o trat�-lo melhor ou pior.
Por que h� tanta desconfian�a do empres�rio e do consumidor hoje em rela��o � economia?
O que aconteceu foi a forma��o de um consenso forte de que as pol�ticas econ�micas do governo Dilma Rousseff buscaram desafiar os consensos internacionais de pol�tica econ�mica que o Brasil tinha adotado at� meados do governo Lula. Ningu�m mexia no trip� formado pela meta de infla��o, pelo c�mbio flutuante e pelo ajuste fiscal. Em algum momento, a presidente resolveu desafiar esse conjunto e essa desconfian�a se generalizou. Foi um consenso que se estabeleceu de que o conceito est� sendo abandonado. O pessimismo se deve a essa mudan�a. O governo est� errado em culpar a economia externa. � um equ�voco. O cen�rio internacional n�o variou tanto assim e, ademais, o Brasil � uma economia muito fechada. Por causa disso, � dif�cil culpar o que est� acontecendo l� fora pelo que estamos passando aqui. Quem est� irritado � o investidor brasileiro.
Como avalia o cen�rio econ�mico para os pr�ximos anos?
Este ano est� muito prejudicado com rela��o ao futuro. Isso teve um efeito paralisante de decis�o de investimento e tende a se prolongar para mais algum tempo at� que as elei��es definam o novo governo. A maior parte trabalha com cen�rios polares da manuten��o da atual pol�tica e da renda, associando � vit�ria ou n�o da oposi��o. Evito fazer previs�es. Mas minha impress�o (da economia) n�o � boa.