
Morada Nova de Minas, Tr�s Marias, S�o Francisco e Janu�ria – A insufici�ncia de chuvas no leito do Rio S�o Francisco nas �ltimas duas esta��es das �guas reduziu de forma t�o consider�vel o volume de alguns trechos da bacia que ficou imposs�vel a travessia de balsas, deixando “ilhados” moradores ou aumentando a dura��o do percurso consideravalmente. Neste m�s, o n�vel da �gua no ponto de travessia na MG-402 (estrada de S�o Francisco a Pint�polis) baixou tanto que o servi�o de balsa ficou suspenso durante 16 dias. As consequ�ncias: por conta da falta de transporte, o com�rcio de Pint�polis enfrentou o desabastecimento e chegou at� a faltar g�s de cozinha na cidade. At� o vapor Benjamin Guimar�es, em Pirapora, teve que reduzir parte do percurso devido aos obst�culos no rio.
Assista ao v�deo dos efeitos da seca em Pirapora e Morada Nova de Minas
Ambul�ncias, que deveriam levar doentes a cidades mais estruturadas, ficaram impedidas de rodar. “Houve at� casos de pessoas que morreram porque n�o puderam ser transportadas a tempo de conseguir atendimento”, afirma o prefeito de S�o Francisco, Luiz Rocha Neto.
O supervisor de Transporte Fluvial da Prefeitura de S�o Francisco, Jo�o Louren�o de Oliveira, ressalta que o servi�o da balsa est� vinculado ao movimento de 50% da economia do munic�pio. “Os preju�zos durante os 16 dias em que a balsa ficou parada foram irrevers�veis. Uma parte do munic�pio ficou completamente isolada”, afirma.
Moradores de localidades rurais de S�o Francisco, que dependem da travessia de balsa, se dizem assustados com a diminui��o do volume do Velho Chico e, al�m de lamentar os transtornos enfrentados para a travessia de balsa, reclamam dos preju�zos provocados pela estiagem. “A seca deste ano foi muito brava. At� as planta��es de milho, feij�o e ab�bora nas vazantes foram perdidas. Nunca vi o rio seco desse jeito”, declara o pequeno produtor Ailton Pereira de Almeida.
O produtor Osmane Mendon�a Diamantino disse que passou apuros durante a suspens�o da travessia de balsa. Ele tem uma fazenda em Pint�polis, onde cria 1,2 mil cabe�as de gado. “Como a balsa parou, faltaram ra��o e sal para o gado”, relata ele, que teme que, com a redu��o do n�vel da �gua, a travessia da balsa seja interrompida de novo. Durante o per�odo em que o meio de transporte ficou parado, faltaram g�s de cozinha, p�o e leite. A solu��o foi comprar mercadorias em Bras�lia, o que elevou os pre�os dos produtos, por conta do desabastecimento e do aumento do custo do frete.

Sem vaz�o Constru�do em 1913, o hist�rico vapor Benjamim Guimar�es, �nico movido a vapor de lenha em atividade no mundo, � outra v�tima da seca que afeta o Rio S�o Francisco e seus afluentes. A redu��o da vaz�o da represa de Tr�s Marias tem reduzido drasticamente o curso do rio. Com isso, pedras e bancos de areia impedem o trajeto normal do barco em Pirapora. Com o rio cheio, o vapor percorre 19 quil�metros rio afora, enquanto nas condi��es atuais s�o somente 12 quil�metros. Os marinheiros s�o obrigados a gui�-lo em marcha lenta para que os turistas possam aproveitar a viagem, mas mesmo assim a dura��o do passeio foi reduzida de tr�s para duas horas e quinze minutos, obrigando a prefeitura a diminuir o valor do bilhete para R$ 30.
O presidente da Empresa Municipal de Turismo de Pirapora, Anselmo Rocha, afirma que o n�mero de visitantes caiu significativamente, influenciado tamb�m pelas not�cias publicadas nas redes sociais que diziam que o vapor n�o estava operando. “O assoreamento grande do rio impede que ele fa�a a manobra para retornar no antigo local”, explica o secret�rio. Mas n�o descarta o risco de o barco interromper suas atividades temporariamente. “Se n�o chover e a vaz�o diminuir, com certeza, uma hora n�o vai ter condi��o de ele navegar mais”, afirma.
A chuva que caiu ontem em Belo Horizonte e outras regi�es do estado n�o chegou �s localidades visitadas pela reportagem. Houve apenas um chuvisco muito fraco em alguns munic�pios do Norte de Minas, como Montes Claros.
Bancos de areia no caminho
A redu��o do volume do S�o Francisco � agravada pelo assoreamento, que faz surgirem imensos bancos de areia bem no meio do rio. Em Chapada Ga�cha, nem a dragagem permitiu que ve�culos de carga cruzassem o leito. A solu��o: empres�rios e pequenos agricultores se mobilizaram para reformar 130 quil�metros da estrada de terra que liga a cidade a Janu�ria, permitindo a continuidade do escoamento da produ��o agr�cola.
A dragagem do Rio S�o Francisco permitiu a travessia da balsa com ve�culos pequenos, no entanto, como o n�vel do rio est� muito baixo n�o foi poss�vel a travessia de ve�culos de cargas, impedindo o escoamento de sementes de capim, soja e outras culturas agr�colas produzidas na regi�o de Chapada Ga�cha e Arinos. Um mutir�o em conjunto com prefeituras da regi�o se inicia ter�a-feira para melhorar a travessia de uma estrada de terra.
Sem a balsa, a ideia dos produtores � percorrer os 130 quil�metros de terra at� Bonito de Minas, completando outros 40 quil�metros (de asfalto) at� chegar em Janu�ria. Nesta �ltima, fica localizada uma ponte na BR-135, que liga o munic�pio a Montes Claros.
O prefeito de Bonito de Minas, Jos� Reis, que preside o Cons�rcio intermunicipal Norte-Mineiro de Desenvolvimento Regional dos Vales do Carinhanha, Coch�, Perua�u, Japor� e S�o Francisco (Cimvales), explica que a recupera��o da estrada � uma maneira de impedir os s�rios preju�zos para a regi�o com a suspens�o da travessia de ve�culos de carga na balsa. “Vamos reformar a estrada por conta pr�pria, �s duras penas. Mas, se n�o puder escoar a produ��o, a regi�o vai viver uma situa��o de calamidade”, diz Reis, lembrando que Chapada Ga�cha � respons�vel por metade das sementes de capim produzidas no estado.
Na regi�o, o plantio de semente de pastagens ocupa em torno de 25 mil hectares. As planta��es de milho e soja abrangem outros 15 mil hectares. Os n�meros s�o revelados pelo produtor Paulo Aime, gerente de uma empresa de semente de capim. “Com a paralisa��o da balsa em S�o Francisco, os produtores tiveram preju�zos e estamos sendo obrigados a reformar a estrada para a escoar a produ��o. Mas tamb�m existem perdas na �rea social e na sa�de. As ambul�ncias ficaram impedidas de levar pacientes para fazer consultas, hemodi�lise e outros tipos de tratamento em outras cidades localizadas do outro lado do Rio S�o Francisco”, conta.
Na parte baixa do rio, em Morada Nova de Minas, a principal liga��o da cidade � feita por balsa. Com a represa de Tr�s Marias cheia, a travessia dura entre 40 e 60 minutos. Atualmente, em 15 minutos carros, caminh�es e �nibus est�o em terra firme. A maior rapidez, no entanto, esconde um risco futuro: a continuidade da seca nos pr�ximos meses pode fazer com que a balsa encalhe. Hoje, j� � preciso habilidade do barqueiro para driblar bancos de areia, galhos e outros obst�culos pelo caminho. Em caso de impedimento do trajeto, a dist�ncia em rela��o a cidades pr�ximas fica praticamente invi�vel, al�m de alterar toda a log�stica do transporte do pescado produzido na regi�o, que, hoje, � totalmente dependente da BR-040. (LR e PRF)