
Ibituruna, Sabar�, Brumadinho e Esmeraldas – A multid�o se aglomerou no largo do Mosteiro de S�o Bento, na Vila de Piratininga, para desejar sorte ao abastado senhor de 66 anos que guiaria 40 homens brancos e 600 mamelucos e �ndios em busca da lend�ria Sabarabu�u, a reluzente serra de esmeraldas, e da desejada Vupabu�u, a lagoa abarrotada da mesma pedra preciosa. Era manh� de 21 de julho de 1674, o s�bado que entrou para a hist�ria como o dia em que a bandeira de Fern�o Dias Pais (1608-1681) partiu da hoje S�o Paulo para iniciar a forma��o de Minas Gerais e ligar economicamente o Norte e o Sul do Brasil.
Foram sete anos desbravando o in�spito sert�o do atual territ�rio mineiro e penando com doen�as. O bandeirante morreu de febre amarela, em 1681, sem retornar vivo � vila natal – o corpo est� sepultado no Mosteiro de S�o Bento. Apesar da longa jornada, ele n�o encontrou sequer uma pepita de esmeralda. Mas a expedi��o deixou um legado econ�mico para Minas e o Brasil. A bandeira fundou povoados que deram origem a cidades de diferentes portes. A primeira � Ibituruna, no Sul do estado. Na hoje Grande Belo Horizonte surgiram Piedade do Paraopeba, buc�lico distrito de Brumadinho; Ro�a Grande, o ber�o de Sabar�; e Sumidouro, em Pedro Leopoldo.
J� no Vale do Jequitinhonha, a expedi��o contribuiu para a forma��o de Itacarambira e Itamarandiba. As picadas abertas pela expedi��o inspiraram o tra�ado de corredores vi�rios, como o trecho da BR-381 de BH a S�o Paulo. A certid�o da estrada reconhece a import�ncia da coluna: Rodovia Fern�o Dias. Na pegada das picadas e pousos abertos pela expedi��o, outras bandeiras partiram de S�o Paulo. Surgiram mais cidades e, em 1720, diante da prolifera��o de vilas e povoados, a Coroa portuguesa decidiu criar a Capitania de Minas Gerais.

CAMINHO A tropa saiu de Piratininga, cruzou a Serra da Mantiqueira pela garganta do Emba� e montou o primeiro povoado mineiro. Ibituruna tem, hoje, cerca de 3 mil habitantes. Atr�s da Capela do Ros�rio, uma placa de bronze instalada em 1974 pelo ent�o governador do estado Rondon Pacheco homenageia a data. Atr�s da matriz h� uma est�tua do explorador e outra mo��o: “Fern�o Dias Pais, fundador de Ibituruna, primeiro povoado mineiro”. A tropa permaneceu no lugar, � espera do fim da temporada de chuvas, por seis meses. Nesse per�odo, os homens plantaram milho, mandioca e outros.
O trabalho era em conjunto. Ainda � assim: agricultores de baixa renda dividem um terreno na entrada da cidade para plantar tomate, alface, repolho e outros legumes e verduras. S�rgio dos Santos, de 34 anos, ganha a vida com o que tira da terra: “Vou de porta em porta. Consigo uns R$ 500 por m�s”. Jos� Ant�nio Filho, de 69, � outro que ganha a vida na horta comunit�ria: “Nossa agricultura � heran�a dos bandeirantes”. A dupla e outros moradores deixam parte da renda na mercearia do Ti�o, apelido de Sebasti�o Alves, de 77.
“Trabalhei tr�s d�cadas para o senhor que montou esse com�rcio. Recebi a venda como heran�a”, conta o empres�rio, um estudioso sobre a hist�ria da cidade e colecionador de notas antigas. Ti�o tem orgulho em mostrar as c�dulas de cruzeiro, cruzado e outras moedas. “O real completou 20 anos este m�s”, recorda. Mas o real n�o � o �nico dinheiro a movimentar a economia nacional. O pa�s tem mais 104 moedas. Todas s�o reconhecidas pelo Banco Central e circulam em regi�es carentes, geralmente sem ag�ncias banc�rias, para fomentar a economia local.
Uma dessas moedas circula em Esmeraldas, na Grande BH, cuja origem est� ligada aos bandeirantes. Tanto que o nome da cidade, que j� foi Santa Quit�ria, homenageia a pedra que Fern�o Dias tanto procurou. No maior distrito de l�, Melo Viana, circulam notas de esmeraldas. “H� c�dulas de 0,50, 1, 2, 5 e 10”, conta Jo�o Lopes, respons�vel pelo banco comunit�rio. Aberto em 2012, a institui��o oferece linhas de cr�dito a pessoas f�sicas com juro zero. Como l� n�o h� ag�ncia banc�ria, muita gente vai a outros lugares sacar dinheiro e aproveita a viagem para fazer compras, desabastecendo a economia local.
O dinheiro social come�ou a mudar essa realidade. Para isso, comerciantes concedem descontos de at� 20% em compras pagas com esmeraldas. “Moedas sociais s�o instrumentos de pol�ticas p�blicas de finan�a solid�ria, pois s�o compat�veis com a pol�tica monet�ria, sob a responsabilidade do Banco Central”, explica o economista Gabriel de Andrade Ivo, da Fecom�rcio-MG.
A 70 quil�metros de Esmeraldas, uma vanguarda da bandeira fundou o segundo lugarejo, conhecido hoje como Piedade do Paraopeba, distrito de Brumadinho e onde vivem cerca de 1 mil habitantes. Dezenas deles vieram de cidades maiores, como o casal Silv�nia Gomes e Rossini Santos. Eles s�o donos da Pousada Matriz, localizada atr�s da Igreja de Nossa Senhora de Piedade e no sop� da Serra da Moeda. “Tive um sal�o h� 26 anos. Meu marido, h� 20, uma loja de chaves. Trocamos a correria de Contagem pela qualidade de vida. Montamos o empreendimento h� seis meses e os neg�cios v�o bem”, diz Silv�nia.
De l�, os exploradores seguiram para a margem direita do Rio das Velhas, onde fundaram Ro�a Grande, ber�o de Sabar�, cidade com cerca de 130 mil moradores. Na pra�a principal, uma placa: “Nesta Ro�a Grande, planta-se a semente de um povo valoroso e guerreiro. Aqui nasceu Sabar�”. A cidade lucra com o turismo, o artesanato, a gastronomia e a minera��o. Nilton de F�tima, gerente do Restaurante Sabarabu�u, calcula que o movimento cresce 20% ao ano. O nome do estabelecimento � uma homenagem � lend�ria serra que Fern�o Dias perdeu a vida tentando, em v�o, encontrar. Em compensa��o, ajudou a formar o que hoje � o terceiro estado mais rico do pa�s, com um Produto Interno Bruto (PIB) em torno de R$ 390 bilh�es.