H� um ano, o executivo Claudio Galeazzi chegou � presid�ncia global da BRF, dona das marcas Sadia e Perdig�o, prometendo criar a "Ambev dos alimentos". Para cumprir a meta, empenhou-se para "revirar" a companhia e implementar mudan�as. Dos nove vice-presidentes da gest�o anterior, restaram dois. Na �rea administrativa, 17% das vagas foram cortadas. Houve encerramento e redu��o de turnos nas f�bricas. Tudo isso, segundo o pr�prio Galeazzi, para adequar a empresa ao tamanho do mercado e deix�-la menos suscet�vel �s flutua��es da economia.
O balan�o do segundo trimestre, resultado de uma s�rie de cortes, mostrou uma redu��o do endividamento e um aumento da margem de lucro e levou as a��es da BRF a flertarem um recorde na �ltima semana. "A nova estrat�gia da companhia parece estar funcionando", diz o banco JP Morgan em relat�rio.
Por�m, o banco acredita que a desacelera��o da economia brasileira � um fator de risco para a empresa, a despeito do trabalho interno de reorganiza��o. O aumento do desemprego e a consequente redu��o da renda das fam�lias seriam os principais perigos. Diante desse cen�rio dif�cil, Galeazzi afirmou que a temporada de enxugamentos ainda n�o acabou.
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" um dia antes de anunciar que deixar� o cargo em 31 de dezembro, o executivo disse que h� "gorduras" a serem cortadas nos pr�ximos meses, enquanto prepara sua sucess�o - nos corredores da BRF, o nome mais cotado � o de Pedro Faria, hoje presidente da �rea internacional da BRF.
O pr�ximo alvo � a opera��o de l�cteos, dona das marcas Eleg� e Batavo. O setor tem margens mais baixas do que o de prote�na animal - principal atividade da BRF - e contribui para puxar o resultado como um todo para baixo.
Por isso, a inten��o � repassar o neg�cio para um grupo especializado em latic�nios. Segundo fontes, entre as v�rias propostas, a canadense Saputo, as francesas Lactalis e Danone, al�m da americana General Mills, est�o entre as finalistas. Executivos da BRF acreditam a venda vai sair. Mesmo assim, Galeazzi tra�ou um plano alternativo caso as ofertas fiquem abaixo do patamar considerado razo�vel. "Caso a venda n�o seja interessante, vamos separar a �rea de l�cteos em um neg�cio independente."
Os cortes chegaram tamb�m � oferta de itens da companhia, que sofreu uma redu��o de 40% nos �ltimos 12 meses. Com isso, as vendas em volume no segundo trimestre ca�ram 12% em rela��o ao mesmo per�odo do ano passado. Na faxina do portf�lio, a empresa priorizou produtos de pre�o mais alto, como congelados e semiprontos. Com isso, na mesma compara��o, o pre�o m�dio dos produtos da companhia registrou um aumento de 13%, o que levou a um aumento de 2% na receita.
Prova de fogo
Segundo Galeazzi, o racioc�nio por tr�s dos cortes � deixar a opera��o local do tamanho do mercado brasileiro atual. A ideia � que o resultado da companhia sofra menos com uma eventual estagna��o. Para o executivo, a prova de fogo dessa estrat�gia est� em curso. "Ser� importante mostrarmos um bom resultado no terceiro trimestre, apesar do cen�rio econ�mico dif�cil."
Diante das perspectivas para o mercado local, a BRF descarta novos investimentos no Pa�s. A empresa hoje atende o mercado com apenas 70% de sua capacidade industrial instalada - quadro que n�o deve mudar no curto prazo. "Em vez de pensar em ocupar mais a capacidade, prefiro usar melhor esses 70%", explica o executivo.
Hoje, a BRF v� mais oportunidades no exterior, em linha com a ambi��o do presidente do conselho, Abilio Diniz, de tornar a companhia verdadeiramente global. Galeazzi lembra que, por causa de seu baixo endividamento, a empresa poder� fazer aquisi��es sem recorrer a financiamentos.
Ao contr�rio da rival JBS, a BRF vai priorizar neg�cios de pequeno porte em pa�ses em desenvolvimento. A JBS ofereceu US$ 7,7 bilh�es pela americana Hillshire, mas perdeu a briga para Tyson Foods. O jornal "O Estado de S. Paulo" apurou com fontes do mercado financeiro que o ativo foi oferecido no in�cio de 2014 � BRF, que achou o neg�cio caro demais.
Com presen�a mais forte na Am�rica do Sul e no Oriente M�dio - onde vai inaugurar sua primeira f�brica em novembro -, a empresa olha aquisi��es de pequeno e m�dio porte na China e na R�ssia. Na busca dessas oportunidades, o sucessor do executivo dever� acumular muitas milhas a�reas a partir de 2015.