
Donas de uma fatia ainda modesta, mas promissora, da matriz energ�tica brasileira, as pequenas centrais hidrel�tricas (PCHs) sofrem tanto ou mais que as grandes usinas com a seca. A baixa vaz�o de �gua levou ao desligamento da principal PCH mantida pela Companhia Energ�tica de Minas Gerais (Cemig), a Usina de Cajuru, no Rio Par�, em Divin�polis, no Centro-Oeste do estado, sacrificando tamb�m, a jusante, a Hidrel�trica de Gafanhoto que operava ontem, s� meio megawatt/hora, o equivalente a 3,5% da sua capacidade de gera��o. Em todo o estado, que det�m 99 pequenas usinas, maior n�mero no pa�s, a produ��o est� limitada a at� 20% do que esses empreendimentos poderiam oferecer ao sistema el�trico por for�a do castigo imposto pela estiagem prolongada aos mananciais h�dricos.
Na maioria das PCHs administradas pela Cemig, toda a �gua recebida nas barragens tem sido liberada para evitar mais press�o sobre os rios e o uso m�ltiplo nas �reas urbanas e rurais, informou o superintendente de Planejamento de Gera��o e Transmiss�o da concession�ria, Nelson Ben�cio Marques Ara�jo. Em Cajuru, � como se o reservat�rio tivesse deixado de existir, o que afeta a usina de Gafanhoto, em opera��o desde 1946 a uma altura m�xima de 8 metros da barragem. “Muitas dessas usinas est�o limitadas por uma seca que � geral. Sofrem porque n�o t�m capacidade de armazenamento e as vaz�es (de �gua) que t�m chegado s�o muito pequenas”, afirma.
Com capacidade total de gerar 783,9 megawatts de energia, as PCHs mineiras participam com cerca de 6% da matriz energ�tica do estado, abrigadas em mais de 90 munic�pios. Como n�o estocam volumes expressivos de �gua, uma vez que seus reservat�rios ocupam no m�ximo 3 quil�metros quadrados, elas s�o chamadas de usinas a fio d’�gua, pois s�o instaladas pr�ximas da superf�cie e aproveitam a velocidade da �gua para gera��o da energia.
Recentemente, a Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (Aneel) informou que elas ampliaram em quase tr�s vezes a sua capacidade total no Brasil entre 2003 e 2012, passando a responder por pouco mais de 3% da matriz brasileira, frente aos 1,22% anteriores. Al�m do custo menor desses empreendimentos, as PCHs contam com as vantagens do tempo menor de constru��o, em geral de 18 meses, em rela��o �s usinas hidrel�tricas de grande porte, e cumprem um caminho mais curto de autoriza��o legal, dada pela Aneel.
Maior empresa da Am�rica Latina no segmento de fontes de energia renov�vel, a CPFL Energias Renov�veis opera oito PCHs em Minas a um ritmo de 30% a 50% da capacidade de gera��o das usinas, quando o normal nesta �poca do ano seria acima da metade de pot�ncia, informou o diretor de Opera��o e Manuten��o da empresa, Jo�o Martin. “Vivemos cen�rios mais restritivos, mas que j� eram esperados. N�o se trata de um cen�rio que decida ou sinalize que n�o se deva investir mais nesses empreendimentos”, diz o executivo.
� espera de recupera��o das vaz�es de �gua com as esperadas chuvas a partir de novembro, a CPFL Renov�veis observa diariamente as condi��es m�nimas de opera��o das m�quinas, com o objetivo de deix�-las preparadas para operar a plena carga. Eventuais desligamentos podem ser feitos durante a madrugada. As oito usinas mineiras t�m pot�ncia instalada de 104,5 megawatts. A empresa opera, ainda, uma termel�trica movida a baga�o de cana no munic�pio de Arapor�, no Tri�ngulo, capaz de gerar 50MW.
Expectativa
Em Po�os de Caldas, no Sul de Minas, os reservat�rios das quatro PCHs geridas pelo grupo DME funcionam com 20% da capacidade. O contingenciamento da gera��o – a capacidade total instalada � de 24 MW – levou tamb�m � decis�o de elevar a compra de energia no chamado mercado livre, em que o cliente escolhe o fornecedor do insumo, de acordo com o diretor-superintendente da DME Distribuidora, Jo�o Deon Pereira. “Trabalhamos com um cen�rio positivo para as chuvas de ver�o. � poss�vel que n�o haja uma recupera��o � plenitude das usinas, mas as chuvas v�o aliviar a situa��o”, diz o executivo. A energia gerada pela empresa municipal atende aos 160 mil habitantes da cidade.
A recupera��o dos n�veis de �gua � esperada, da mesma forma, por Paulo S�rgio Machado Ribeiro, subsecret�rio de Desenvolvimento M�nero-Metal�rgico e Pol�tica Energ�tica de Minas Gerais. “Preocupa, de fato, mas esperamos que esta seja uma situa��o de anomalia moment�nea”, afirma. Para o superintendente de planejamento da Cemig, Nelson Ara�jo, n�o h� perda de atratividade das PCHs. “Elas podem continuar sendo um bom neg�cio desde que bem planejadas e que tenham disponibilidade h�drica e tamanho capazes de equilibrar os custos de opera��o.” Procurados pelo Estado de Minas, a Aneel e o Operador Nacional do Sistema (ONS) informaram n�o dispor de um balan�o da situa��o das PCHs.
Hor�rio de ver�o alivia menos
Cercado de apostas para poupar os reservat�rios das usina hidrel�tricas, o Hor�rio Brasileiro de Ver�o vai durar mais tempo neste ano, no entanto, ter� contribui��o financeira menor, como admitiu o Minist�rio de Minas e Energia. A economia do insumo ser� 31,35% inferior a obtida no ano passado, quando a redu��o correspondeu a R$ 405 milh�es. Neste ano, s�o estimados R$ 278 milh�es, a partir da zero hora de domingo, quando os rel�gios do Sudeste, Centro-Oeste e Sul dever�o ser adiantados em uma hora. A diferen�a financeira que a medida vai fazer reflete a energia mais cara em 2014 e em 2015 gerada pelas usinas termel�tricas e que n�o poder�o ser desligadas.
“A diferen�a est� na situa��o hidrol�gica adversa, com menos chuvas, e o maior despacho t�rmico”, disse o secret�rio de Energia El�trica do Minist�rio de Minas e Energia, Ildo Gr�dtner. Ante a m�dia de dura��o do hor�rio de ver�o nos �ltimos 15 anos, de 121 dias, agora ser�o 126 dias at� 22 de fevereiro de 2015. Na pr�tica, a redu��o no consumo ser� id�ntica a do ano passado, de 195 Megawatts m�dios no Sudeste e Centro-Oeste. Esse volume equivale a quase o dobro da demanda de uma cidade como Bras�lia no chamado per�odo “de ponta”, que vai das 18h �s 21h.
No Sul, as estimativas do minist�rio s�o de uma diminui��o de 55MW m�dios no consumo, energia suficiente para abastecer Florian�polis no mesmo per�odo. O hor�rio de ver�o n�o ser� adotado no Norte e Nordeste. A Cemig informou que em sua �rea de concess�o, a demanda de energia dever� ser 4% menor no per�odo de vig�ncia da medida. As estimativas quanto � economia do insumo apontam at� 0,5%, o que equivale �s necessidades de ilumina��o de Belo Horizonte durante nove dias.
Na avalia��o do diretor de Opera��o e Manuten��o da CPFL Renov�veis, Jo�o Martin, o hor�rio de ver�o tem sua import�ncia especialmente no cen�rio de restri��o da gera��o hidrel�trica ao deslocar a ponta do consumo (per�odo de maior concentra��o da demanda), permitindo melhor aproveitamento da �gua que abastece os reservat�rios das usinas. “Proporciona ao sistema el�trico atender melhor os consumidores, sem exigir o trabalho sincronizado das m�quinas num mesmo momento”, afirma. Concorda com ele o diretor-superintendente da DME Energ�tica, Jo�o Deon Pereira. (MV com ag�ncias)