S�o Paulo, 16 - Quatro anos depois de a presidente Dilma Rousseff escolher Alexandre Tombini como presidente do Banco Central, os desafios enfrentados pela autoridade monet�ria n�o foram vencidos ou se tornaram mais complexos. A �ltima vez que o BC projetou a infla��o no centro da meta, em 4,5%, ou um n�mero abaixo desse valor, foi no Relat�rio Trimestral de Infla��o de mar�o de 2012, quando a expectativa era de que o IPCA terminasse aquele ano em 4,4%. Essa proje��o, no entanto, foi superada ao fim do ano, quando o indicador atingiu 5,84%.
Em dezembro de 2010, Henrique Meirelles, ent�o presidente do BC, entregou ao seu sucessor uma infla��o que evolu�a desfavoravelmente, mas com perspectivas positivas. Do lado externo, press�es vindas das commodities puxavam o custo de vida para cima. No cen�rio dom�stico, o descompasso entre oferta e demanda tamb�m era visto como fonte de press�o.
A proje��o de infla��o, naquele ano, mostrava que 2010 terminaria com IPCA em 5,9%, mas que o movimento de alta era passageiro e o reajuste de pre�os recuaria gradativamente at� o primeiro trimestre de 2012, quando alcan�aria o centro da meta, de 4,5%. O quadro n�o se confirmou. Passados quatro anos, a infla��o seguiu na trajet�ria contr�ria, o BC se viu obrigado a revisar suas proje��es e, agora, o mercado v� crescer o risco de estouro do teto da meta, de 6,5%.
Ao comparar os relat�rios de infla��o de dezembro de 2010 - ap�s a elei��o de Dilma -, com o �ltimo documento divulgado pela autoridade monet�ria, em setembro deste ano, houve deteriora��o dos indicadores e nenhuma das proje��es do BC se concretizou. "O Banco Central acreditou demais na pol�tica fiscal e talvez n�o enxergasse que a gest�o das contas p�blicas chegasse ao ponto que chegou", argumentou o professor de finan�as da Funda��o Dom Cabral Haroldo Mota. "Essa vari�vel pode ter atrapalhado as proje��es do BC", disse.
Enquanto analistas e economistas de fora do governo observam com preocupa��o a possibilidade de a infla��o romper esse limite de toler�ncia, o BC prev� que o ano termine com IPCA em 6,3%. Essa previs�o, no entanto, pode ser revisada para pior. Apesar de n�o ter escrito ainda em seus cen�rios (ao menos n�o nos de conhecimento p�blico), o BC diz que a converg�ncia para a meta deve ocorrer apenas em 2016.
Tombini e Dilma chegam ao fim de 2014 com previs�es frustradas, promessas desfeitas e com uma taxa Selic mais alta do que encontraram. Se as proje��es do mercado se concretizarem, o governo entregar� uma Selic de 11,50% ao ano - 0,75 ponto porcentual maior do que vigorava no in�cio do primeiro governo Dilma. Na �poca, em janeiro de 2011, os juros eram de 10,75% ao ano. A �ltima vez que a Selic esteve t�o alta (em rela��o �s previs�es para o final deste ano) foi em outubro de 2011, quando chegou a 11,50%.
Em 2010, pouco antes de o governo Dilma come�ar, o BC previa que em cinco trimestres o IPCA recuaria para 4,5%. O cen�rio mais recente da institui��o, no entanto, n�o projeta que esse n�mero seja alcan�ado, prev� apenas uma desacelera��o do custo de vida at� o terceiro trimestre de 2016. Para o economista-chefe da Invx Global Partners, Eduardo Velho, o BC ficou ref�m de um quadro com pol�tica fiscal expansionista e de baixo crescimento econ�mico.
"Isso prejudicou a efic�cia operacional do BC. Se considerarmos que a pol�tica econ�mica foi muito mais centralizada, tem de se analisar n�o apenas a gest�o Tombini, mas o mandato do governo como um todo", defendeu o economista.
Para o economista-chefe da Espirito Santo Investment Bank, Jankiel Santos, o BC n�o podia ter se limitado em fun��o de crescimento econ�mico ou d�vida em rela��o a pol�tica fiscal. "O instrumento do BC � a Selic, ele n�o tem de se preocupar com o trabalho dos outros", observou. "Continuando o Tombini no BC, teremos uma condu��o de pol�tica monet�ria que aposta que a coisa vai dar certo l� na frente. N�o vejo um combate mais �rduo da infla��o", afirmou. O Banco Central, procurado pela reportagem, disse que n�o se manifestaria.