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Estado de Minas

A dura rotina de quem estuda, trabalha e paga as pr�prias contas

Dados do �ltimo censo divulgado pelo governo federal mostram que 63% dos estudantes do ensino superior, estudam � noite. Se manter na universidade � um desafio contra o cansa�o, o sono e a vontade de desistir


postado em 30/11/2014 00:12 / atualizado em 30/11/2014 07:22

Marinella Castro

"Cheguei a vender, por um tempo, produtos de beleza, at� conseguir est�gios na �rea para pagar a mensalidade, alimenta��o, transporte, material, xerox. Saio de casa �s 6h15 e retorno depois das 23h". (B�rbara Daniele Gomes, estudante de engenharia civil) (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)

Acordar antes das 6h, organizar o material escolar e sair de Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, para trabalhar na capital. Depois da jornada de oito horas na firma, correr para a faculdade de engenharia. Perto das 23h, tomar o �nibus de volta para casa. A exaustiva rotina de estudantes como B�rbara Daniele Gomes se repete em todos os cantos do Brasil, pa�s que tem um ex�rcito de alunos trabalhadores no ensino superior. Segundo dados do �ltimo Censo da Educa��o, divulgado pelo governo federal, 63% dos estudantes do ensino superior, perto de 4,6 milh�es, s�o alunos de cursos noturnos e grande parte encara a pesada rotina de trabalhar e estudar.

Mesmo com o crescimento do volume de financiamento e bolsa na �ltima d�cada, chegar ao diploma � um sonho que muitos abandonam no meio do caminho. No ano passado, pela primeira vez em 10 anos, o n�mero de formandos no ensino superior caiu cerca de 5% e, para especialistas, ferramentas que apoiem o estudante a focar na gradua��o podem contribuir para reduzir a evas�o. Se manter na universidade – mesmo com algum percentual de bolsa ou cr�dito – � um desafio que pede garra contra o cansa�o, o sono e a vontade de desistir.

Em dezembro, aos 23 anos, B�rbara vai realizar seu sonho e ter� o diploma de engenharia civil. “Consegui financiar 75% do meu curso, mas n�o foi nada f�cil. Cheguei a vender, por um tempo, produtos de beleza, at� conseguir est�gios na �rea para pagar a mensalidade, alimenta��o, transporte, material, xerox. Saio de casa �s 6h15 e retorno depois das 23h. S�o pelo menos quatro �nibus por dia.” B�rbara conta que, v�rias vezes, ao longo do caminho, o sonho de se formar foi atropelado pelo cansa�o. “Muitas vezes, tive vontade de desistir. A rotina � dura.” Mas B�rbara n�o desanimou, seguiu em frente e, quando se formar, ser�o duas vit�rias: o diploma e o primeiro emprego como engenheira. “Cheguei a pensar que talvez n�o conseguiria trabalhar na �rea”, avalia.

“As bolsas do ProUni e programas de financiamento estudantil como Fies foram decisivos para abrir a universidade. O desafio agora � conseguir que o estudante se forme. Para isso, defendemos que a verba para assist�ncia estudantil no pa�s saia dos atuais R$ 600 milh�es ao ano e atinja R$ 2,5 bilh�es, com recursos para os setores p�blico e privado”, diz Paulo S�rgio de Oliveira, presidente da Uni�o Estadual dos Estudantes (UEE) em Minas. Segundo ele, os c�lculos foram feitos levando em conta o potencial da pol�tica de cotas nos pr�ximos anos e o n�mero de estudantes, principalmente das classes C e D, no ensino superior. “Com a assist�ncia complementar, o estudante de baixa renda consegue ter um tempo para se dedicar. O que ocorre hoje � que a maioria estuda a noite e trabalha durante todo o dia.”

Luan veio para Minas estudar e se desdobra: vende pipocas e canta(foto: Beto Novaes/EM/D.A.Press)
Luan veio para Minas estudar e se desdobra: vende pipocas e canta (foto: Beto Novaes/EM/D.A.Press)


APROVA��O Para milh�es de estudantes das classes C e D que conseguiram chegar � faculdade, � um desafio encontrar o equil�brio entre o cansa�o do trabalho, que nem sempre coincide com a �rea de estudo, as tarefas da escola e o tempo livre para estudar. N�o conseguir aprova��o significa colocar em risco cr�dito como o Fies, que tem a aprova��o como pr�-requisito, alerta Elma Bernardes Santiago, professora de �tica e responsabilidade social da Funda��o Getulio Vargas (FGV/IBS). Vendedor de trufas, pipoqueiro e cantor na noite, Luan da Silva veio da Bahia para fazer faculdade em Belo Horizonte. Chegando aqui, se virou e conseguiu metade do valor que precisa para se matricular na faculdade de jornalismo. Os outros R$ 400 vieram das economias que os pais tinham em Eunap�lis, na Bahia, e enviaram para o filho.

Luan mora em uma rep�blica e na faculdade conseguiu o Fies. “A mensalidade � de quase
R$ 1 mil. N�o d� pra mim n�o. S� mesmo com o Fies.” A um ano da formatura, Luan, que estuda � noite, colocou em pr�tica suas habilidades para conseguir vencer as etapas – uma delas foi a receita de trufas que trouxe da Bahia. L� j� havia ajudado uma doceira que vendia o chocolate.

Com as trufas, ele faturava cerca de R$ 45 por dia e completava a renda com a venda de pipocas em um carrinho emprestado. O universit�rio tem na ponta do l�pis suas despesas principais. Consome por m�s perto de R$ 1,2 mil entre aluguel, alimenta��o e transporte. Atualmente, faz est�gio e no fim de semana canta na noite. Com os dois rendimentos, paga suas contas. Perto de concluir sua meta em BH, ele tem planos. “Quando me formar, se conseguir um emprego, fico por aqui, se n�o, vou para a Austr�lia.”

Bolsa para alunos das particulares

A assist�ncia estudantil vale para os alunos das institui��es federais. Os beneficiados contam com a bolsa perman�ncia para alunos com carga hor�ria extensa, como nos cursos de medicina. Segundo Paulo S�rgio Oliveira, presidente da Uni�o Estadual dos Estudantes (UEE), o pleito � para que o recurso seja estendido tamb�m para as faculdades privadas, podendo ser acessado por todos os cursos.

A estudante B�rbara Assis, de 26 anos, em um ano e meio vai se formar em enfermagem. Ela estuda � noite e durante o dia trabalha em um ag�ncia de modelos na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. Com a profiss�o, distinta do seu curso, ela consegue recursos para pagar a mensalidade de R$ 900.

B�rbara conta que a rotina n�o � nada f�cil. Acordar cedo, sair de Betim, onde mora, para trabalhar durante todo o dia em Belo Horizonte e depois retornar � noite para estudar. “H� dias em que � muito cansativo e tenho que ir embora para n�o dormir na sala de aula.” B�rbara quer se formar, fazer p�s-gradua��o e concurso para perito da Pol�cia Civil. Antes de trabalhar como modelo, ela j� foi auxiliar administrativa e operadora de telemarketing. “O valor das mensalidades � bem alto. Como moro com minha m�e e n�o tenho outras despesas, consigo trabalhar e pagar o curso.”

MAIS QUALIDADE Elma Bernardes diz que a amplia��o da assist�ncia estudantil � um desafio para o pa�s. Ela aponta que muitos estudantes, como Luan Silva, que estudam fora de suas cidades e t�m despesas com moradia e alimenta��o, acabam tendo que dedicar boa parte do seu tempo para o trabalho, o que acaba repercutindo no curso. “Muitos n�o conseguem fazer est�gio em sua �rea devido � carga hor�ria do trabalho, e por isso acabam estendendo o curso al�m do prazo normal para cumprir essa demanda.” Para a especialista, a amplia��o da assist�ncia aos estudantes com pr�-requisito socioecon�mico pode contribuir para qualificar o sistema. “O estudante teria mais tempo para investir em sua forma��o.”

SAIBA MAIS

Assist�ncia estudantil

O Plano Nacional de Assist�ncia Estudantil (Pnaes) consumiu no ano passado R$ 675 milh�es. O plano apoia a perman�ncia de estudantes de baixa renda matriculados em cursos de gradua��o presencial das institui��es federais de ensino superior (Ifes). O objetivo � contribuir para a melhoria do desempenho acad�mico, a partir de medidas que buscam combater situa��es de repet�ncia e evas�o.


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