S�o Paulo, 21 - O atual ciclo de baixa nos pre�os do petr�leo pode beneficiar o Brasil no curto prazo, mas o aprofundamento dessa tend�ncia traz amea�as, avaliam especialistas ouvidos pelo Broadcast, servi�o de not�cias em tempo real da Ag�ncia Estado. A avers�o dos investidores estrangeiros ao risco, evidenciada esta semana por quedas fortes dos ativos russos e de outros emergentes, mostra que um movimento de fuga de capital poderia causar crises graves nesses mercados.
O ex-diretor do Banco Central e s�cio-fundador da gestora Mau� Sekular, Luiz Fernando Figueiredo, observa que, se por um lado a queda no pre�o do petr�leo desestabiliza a R�ssia, por outro traz algum benef�cio para o Brasil. Como qualquer importador de petr�leo, h� um efeito positivo na balan�a comercial. Nos c�lculos da Tend�ncias Consultoria, o novo n�vel da commodity permitir� que o d�ficit na conta petr�leo seja de US$ 7,7 bilh�es em 2015, considerando um pre�o m�dio ao longo de todo o ano de US$ 73,50 por barril. A estimativa anterior indicava um d�ficit de US$ 11,3 bilh�es, segundo o analista Walter de Vitto.
O economista-chefe do Banco Fator, Jos� Francisco de Lima Gon�alves, afirma que o petr�leo e derivados mais baratos geram um impacto positivo na infla��o brasileira. "O sinal [do atual ciclo de baixa do petr�leo] � bastante claro para a infla��o brasileira", diz. Gon�alves destaca que, mesmo que n�o ocorra uma transfer�ncia do pre�o menor para o consumidor de combust�veis, o ritmo inflacion�rio tende a desacelerar por conta do impacto difuso dos efeitos do petr�leo. O pre�o da commodity influencia a nafta, as mat�rias-primas petroqu�micas e insumos para o agroneg�cio e para a ind�stria, al�m de bens de consumo. "Estamos falando de um ritmo menor na infla��o em uma cadeia que tem ramifica��es muito amplas", diz.
Para o s�cio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, o atual ciclo de baixa no pre�o da commodity tende a durar cerca de quatro anos. Para o petr�leo voltar � faixa de US$ 100 o barril, a economia mundial precisaria voltar a crescer de forma consistente, diz ele. Pires explica que os ciclos do setor do petr�leo n�o t�m uma dura��o padronizada. O �ltimo ciclo de baixa, que come�ou em meados dos anos 80, durou cerca de uma d�cada.
Mesmo com a possibilidade de Europa, �sia e Estados Unidos retomarem um crescimento mais duradouro, o setor do petr�leo n�o ser� mais o mesmo, na avalia��o de Pires. O atual ciclo de baixa ocorre em um momento de revis�o da matriz energ�tica mundial em raz�o da polui��o e do aquecimento global. "Diferentemente das outras vezes, a matriz energ�tica vai sair desse atual ciclo de baixa com uma outra cara. Teremos uma matriz menos monoenerg�tica", diz.
No m�dio prazo, Pires acredita que o g�s natural liquefeito (GNL) assumir� uma maior participa��o na matriz energ�tica mundial. Isso vai ocorrer porque a tecnologia j� esta mais difundida no mundo e tamb�m porque investimentos em novas plantas de GNL j� foram feitos. "Antes do GNL, o g�s natural exigia a implanta��o de dutos. Agora, n�o � mais assim. � poss�vel exportar o g�s liquefeito para qualquer lugar", diz o analista.
Amea�as
O s�cio-fundador da Mau� Sekular diz que o atual movimento dos mercados torna ainda mais urgente a realiza��o de uma pol�tica econ�mica assertiva e com resultados. � dessa forma, argumenta o economista, que o Brasil vai se diferenciar dos outros pa�ses afetados pelo atual movimento de muita volatilidade em todos os mercados. "Por enquanto, temos apenas promessas", diz Figueiredo.
Ele ressalta que o comportamento dos mercados hoje "n�o tem nada a ver com os fundamentos econ�micos do Brasil". "Ningu�m imagina que a taxa [b�sica de juros] vai ter aumentos de 100 pontos-base [como chegou a precificar o mercado nesta ter�a-feira]. Mas ningu�m quer ficar exposto ao risco, especialmente porque � fim de ano", afirma o economista.
Marcelo Ribeiro, estrategista da Pent�gono Asset Management, tem uma vis�o mais pessimista sobre a crise do petr�leo e seu impacto para o Brasil. Para o analista, o movimento reflete fundamentos da economia global e o estouro da bolha das commodities, que vai afetar principalmente os mercados emergentes considerados mais vulner�veis, como os chamados Cinco Fr�geis (Brasil, �frica do Sul, Indon�sia, �ndia e Turquia).
"A queda do petr�leo n�o � positiva para o Brasil em nenhum aspecto. Ela leva junto outras commodities, e a economia brasileira � totalmente ligada �s commodities. Al�m disso, a quest�o da balan�a comercial � m�nima diante dos problemas que essa crise gera, sendo o principal deles o cont�gio financeiro, que j� atinge a R�ssia", comenta Ribeiro. Lembrando a crise russa de 1998, ele ressalta que hoje os mercados emergentes t�m um peso muito maior na economia global, ou seja, possuem potencial elevado de causar estragos no caso de uma crise. "Existia uma tese de que as grandes reservas internacionais atuais dos emergentes os protegeriam, mas a R�ssia tem mais de US$ 400 bilh�es em reservas e est� no olho da crise", aponta.
Ele diz que, com a crise na R�ssia, o investidor estrangeiro come�a a olhar outros emergentes que n�o est�o em uma situa��o confort�vel - como � o caso do Brasil, com crescimento baixo, infla��o elevada e grande d�ficit em conta corrente. "Acho que o investidor deve ficar preocupado mesmo. O caso da R�ssia n�o � isolado e n�o tem a ver com as san��es impostas pelo Ocidente." Segundo ele, diferentemente de epis�dios anteriores, desta vez n�o s�o especuladores que est�o derrubando os pre�os do petr�leo, mas sim os fundamentos do mercado, em meio � recupera��o lenta da economia global e a desacelera��o da China.
Em relat�rio divulgado no in�cio deste m�s, os analistas do Deutsche Bank disseram que a queda nos pre�os do petr�leo, aliada � alta do d�lar, pode acabar prejudicando a Petrobras, que tem quase US$ 80 bilh�es em d�vidas em moeda estrangeira, tornando-a uma das maiores emissoras de b�nus n�o financeiras do mundo. "Somando-se � press�o dos pre�os baixos do petr�leo est�o as recentes not�cias sobre den�ncias de corrup��o na empresa. Isso aumenta a chance de o mercado de d�vidas de alto retorno ser testado por um 'anjo ca�do' de US$ 80 bilh�es", diz o texto.
Para a equipe do Bradesco, n�o h� ainda uma tend�ncia definida em rela��o aos mercados emergentes em geral - aqueles que n�o s�o grandes exportadores de petr�leo. Os que s�o importadores l�quidos ser�o beneficiados, assim como aqueles que enfrentam press�es inflacion�rias. � o caso da �ndia (onde as compras de petr�leo representam 39,5% do total importado), do Brasil (18,2% do total importado) e da China (16,2%).
Por outro lado, os pa�ses que s�o dependentes das exporta��es de outros tipos de mat�rias-primas, como tamb�m � o caso do Brasil, com o min�rio de ferro, podem ver uma piora no com�rcio externo. "Isso acontece atrav�s da influ�ncia dos combust�veis em outras commodities, por meio das cadeias produtivas (o petr�leo como um insumo direto ou indireto) e a distribui��o (transporte), ou em fun��o da competi��o com biocombust�veis", explica o relat�rio do Bradesco. Segundo o texto, considerando o per�odo desde 2009, o pre�o do barril de petr�leo Brent tem um �ndice de correla��o de 0,75 com a soja e 0,33 com o min�rio de ferro, por exemplo.