S�o Paulo, 25 - Um dos principais temores relatados pelos empres�rios brasileiros e estrangeiros presentes no F�rum Econ�mico Mundial, em Davos, � a possibilidade de racionamento de energia. Analistas dizem que o impacto na economia seria bem menor do que no apag�o de 2001, algo em torno de 0,5 ponto porcentual, mas, como o Produto Interno Bruto (PIB) j� est� rodando perto de zero, isso significa que a restri��o na oferta de energia levaria o Brasil � recess�o.
O efeito exato do racionamento na economia � muito dif�cil de quantificar, at� porque existem diversas incertezas sobre como e qu�o longa seria essa restri��o. A consultoria PSR, especializada no setor, estima que o risco de corte no fornecimento j� passa de 50% nas regi�es Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Eles tamb�m trabalham com uma redu��o na carga de 5% a partir de maio, mas a necessidade desse porcentual s� deve ficar mais clara ao fim do per�odo chuvoso. Fontes de uma empresa do setor de gera��o e distribui��o estimam corte de 10% durante um per�odo de oito meses.
Com base em uma estimativa de corte de 5% a 10%, Fernando Camargo, s�cio da consultoria LCA, diz que o racionamento tenderia a tirar cerca de 0,5 pp do PIB se tomado isoladamente, ou seja, eliminando todas as outras vari�veis. Atualmente, a consultoria estima crescimento zero para o PIB este ano, o que ainda n�o leva em conta inteiramente o risco de apag�o.
O economista-chefe do HSBC para Am�rica Latina, Andre L�es, escreveu em relat�rio no ano passado que o racionamento de 2001 teve um forte impacto no PIB. No primeiro trimestre daquele ano, a economia estava crescendo a uma taxa de 4% no acumulado de quatro trimestres, mas terminou o ano a um ritmo de 1,3%, ou seja, uma queda de 2,7 pp. "N�o podemos dizer que tudo foi por conta do racionamento, j� que 2001 tamb�m foi o ano do default da Argentina, mas cerca de 1,7 pp da queda pode ser atribu�do � restri��o de energia", comenta ele em entrevista ao Broadcast, servi�o tem tempo real da Ag�ncia Estado. Naquele ano, o apag�o estabeleceu corte de 20% por um per�odo de oito meses.
L�es pondera que hoje um racionamento teria um impacto muito menor no PIB, at� porque, como esse risco j� vem sendo aventado desde o ano passado, muitos investidores j� reviram decis�es de investimento. Al�m disso, com os n�veis de confian�a de empresas e fam�lias j� bastante baixos, n�o haveria muito para onde cair. Ele prefere n�o prever um impacto do racionamento no PIB, mas diz que, se realmente isso se confirmar, sua previs�o atual, de contra��o de 0,5% da economia, teria de ser revista para baixo.
Camargo, da LCA, tamb�m tra�a diferen�as entre a situa��o em 2001 e agora. Segundo ele, um racionamento hoje tenderia a ter um impacto menos disseminado, com efeito pontual sobre grandes consumidores, que j� est�o com margens bastante apertadas e assim simplesmente interromperiam a produ��o. � o caso de sider�rgicas e produtoras de alum�nio.
Jos� Soares, vice-presidente e analista s�nior da Moody's para o setor el�trico, diz que um racionamento certamente teria um impacto negativo no PIB. "O ano de 2015 vai ser muito dif�cil. Teria de chover muito acima da m�dia nos pr�ximos meses e mesmo assim n�o se recuperariam os n�veis hist�ricos dos reservat�rios, o que significa continuar usando as t�rmicas, a um custo alto, com impactos na infla��o e na atividade econ�mica", afirma. Ele lembra que, apesar de a energia hidrel�trica representar 67% da matriz brasileira, ainda responde por 73,9% da gera��o efetiva de energia. J� a participa��o das t�rmicas subiu de 9,7% em 2011 para 24,5% no ano passado.
Uma possibilidade levantada pelo superintendente do Departamento Econ�mico do Citi Brasil, Marcelo Kfoury Muinhos, � que o racionamento fa�a com que o governo da presidente Dilma Rousseff desista do ajuste fiscal. "Se o PIB ficar muito negativo, o (ministro da Fazenda) Joaquim Levy pode enfrentar dificuldade para aprovar as medidas de ajuste fiscal", diz.
Luiz Augusto Barroso, da PSR, v� a situa��o por um prisma diferente. Para ele, o racionamento pode acabar ajudando o governo, em certo sentido. "Mantendo o esp�rito que 2015 � o ano da 'arruma��o da casa', um racionamento viria para - infelizmente - ajudar a arrumar o setor de vez. � apenas um rem�dio muito ruim para um setor que h� tr�s anos estava muito bem organizado", opina.
Alexandre Moana, diretor t�cnico da Associa��o Brasileira das Empresas de Servi�os de Conserva��o de Energia (Abesco), aponta que, diferentemente de 2001, quando o problema era de gera��o, ou seja, n�o havia �gua nas represas para girar as turbinas das usinas, as informa��es dispon�veis atualmente apontam para um problema de pot�ncia, o que quer dizer que mesmo produzindo a pleno vapor todas as unidades n�o dariam conta da demanda, especialmente em hor�rios de pico de consumo. "O problema � de infraestrutura, n�o � mais de �gua."
Ele diz que a �nica solu��o � o governo adotar campanhas publicit�rias para incentivar a economia de energia por parte das resid�ncias e com�rcios, onde o consumo cresceu 68,6% e 81%, respectivamente, nos �ltimos dez anos. "Em 2001, as pessoas tinham TVs de tubo de 29 polegadas, que gastavam 110 watts. Hoje em dia, TVs de plasma de 50 polegadas podem gastar at� 585 watts. H� espa�o para apertar o cinto, sim", explica.