
Bras�lia – A presidente Dilma Rousseff contrariou, mais uma vez, as expectativas, tomou uma decis�o isolada e aumentou a desconfian�a sobre os rumos da maior empresa brasileira. Ao nomear Aldemir Bendine, que deixa o comando do Banco do Brasil (BB), para a presid�ncia da Petrobras, Dilma desagradou a todos: sua equipe econ�mica, o pr�prio partido, o PT, a oposi��o e o mercado financeiro. As a��es da petroleira tiveram mais um dia de derretimento na Bolsa de Valores de S�o Paulo, recuaram quase 7%, a R$ 9,12, e o d�lar atingiu a maior cota��o em 10 anos, superando os R$ 2,77. Ao divulgar os nomes da nova diretoria antes do fechamento do preg�o, o Planalto ainda contrariou regras da Comiss�o de Valores Mobili�rios (CVM), que abriu mais uma investiga��o contra a estatal.
Fontes disseram que Dilma nem sequer ouviu o seu mentor, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, que defendia os nomes de Nildemar Sechhes, ex-presidente da Perdig�o, e de Antonio Maciel Neto, presidente do grupo Caoa, que trabalhou na Petrobras por 10 anos antes de comandar empresas de grande porte como Ford e Suzano. Mesmo reunida com os ministros petistas, a presidente n�o deixou vazar o encontro que teve a portas fechadas com Bendine, embora todos soubessem das reuni�es anteriores com Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES), e Murilo Ferreira, presidente da Vale, tamb�m cotados para substituir Gra�a Foster.
Contra o nome de Bendine, pesa o fato de ele estar sob investiga��o do Minist�rio P�blico. Nos bastidores, comenta-se que ele fez uma autodefesa eficiente, alegou ser o nome adequado para o cargo – pela experi�ncia em gest�o de crise e pela sua liga��o com o setor banc�rio –, o que pode ajud�-lo a limpar o nome da Petrobras no sistema financeiro. Bendine leva no curr�culo a lideran�a, � frente do BB, do processo de redu��o dos juros em 2009, uma decis�o da pr�pria Dilma.
Al�m de Aldemir Bendine, o conselho nomeou ontem a nova diretoria da Petrobras. Ivan Monteiro era vice-presidente de Gest�o Financeira e de Rela��es com Investidores do BB e assume a Diretoria de Finan�as da petroleira. Os outros quatro diretores — Solange da Silva Guedes, Jorge Celestino Ramos, Hugo Repsold J�nior, Roberto Moro — escolhidos interinamente, s�o todos do corpo t�cnico da petroleira. Como eram gerentes-executivos, tiveram rela��o direta com ex-diretores investigados pela Pol�cia Federal na Opera��o Lava-Jato. A exce��o � o diretor interino de Abastecimento, Jorge Celestino Ramos, que estava na BR Distribuidora e chegou � controladora h� menos de um ano.
Para o mercado, a indica��o de Bendine n�o poderia ser pior. “V�o ficar com saudade da Gra�a Foster”, sentenciou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. “A bagun�a na Petrobras � tanta que nomearam a diretoria com o mercado aberto”, assinalou. N�o � toa, a CVM abriu mais uma investiga��o contra a estatal, que j� responde a v�rios processos judiciais, civis e criminais no Brasil e nos Estados Unidos. A d�vida do mercado � se Bendine ser� mais eficiente para blindar o governo do que para resolver os problemas da companhia, que n�o s�o poucos. O principal � contabilizar os preju�zos com a corrup��o e lan�ar essas perdas em um balan�o cont�bil auditado, com valor real para os �rg�os reguladores, cujos prazos est�o vencendo.
A economista Monica Baumgarten de Bolle, s�cia-diretora da consultoria Galanto/MBB, em Washington, comentou que as empresas de classifica��o de risco internacionais receberam muito mal a escolha de Bendine. Na sua avalia��o, a nomea��o aumentou as chances de um novo rebaixamento da nota da estatal. “O mercado esperava algu�m de fora do setor p�blico, que tivesse liberdade para dar o choque de gest�o que a Petrobras precisa para recuperar a credibilidade”, observou. (Com Paulo de Tarso Lyra e Paulo Silva Pinto)
Pol�micas marcam a carreira
Aldemir Bendine, 51 anos, assume o comando da Petrobras com as marcas das pol�micas protagonizadas por ele nos �ltimos seis anos, quando esteve � frente do Banco do Brasil (BB). Menos de uma hora ap�s a petrol�fera confirm�-lo na presid�ncia, o Minist�rio P�blico Federal (MPF) pediu a instaura��o de inqu�rito policial para apurar melhor o caso Val Marchiori, o mais simb�lico dos epis�dios que levaram � decep��o do mercado com a escolha da presidente Dilma Rousseff.
Bendine � casado, tem duas filhas. A socialite e apresentadora Val, segundo o banqueiro, n�o passa de uma amiga com quem esteve junto em ao menos dois compromissos oficiais, no Rio de Janeiro e na Argentina. No ano passado, surgiu a den�ncia de que o ent�o todo-poderoso do BB teria burlado as regras da institui��o para favorec�-la. Um empr�stimo de R$ 2,7 milh�es com juros baixos fora autorizado em uma opera��o incomum, e mesmo com ela estando inadimplente. O banco e o pr�prio Bendine negaram qualquer irregularidade � �poca. O MPF ainda n�o conseguiu acesso a toda a documenta��o relativa � transa��o suspeita.
Bendine nasceu em 10 de dezembro de 1963 em Paragua�u Paulista (SP), onde aos 15 anos come�ou a trabalhar no BB, como estagi�rio. A aprova��o em concurso veio em 1982. Ele sempre trabalhou na institui��o, n�o tendo qualquer passagem por outra empresa. Em 2009, tornou-se o quarto presidente da institui��o da era Luiz In�cio Lula Silva. O executivo nunca se filiou ao Partido dos Trabalhadores, mas sempre foi muito ligado � legenda. Bendine virou queridinho de Lula. Soube atender as expectativas do governo de tal forma que se manteve na fun��o na gest�o Dilma.
Patrim�nio suspeito Durante a administra��o Bendine, o BB registrou o maior lucro da hist�ria: R$ 15,8 bilh�es, em 2013. E os seus ativos saltaram de R$ 685,3 bilh�es para R$ 1,432 trilh�o. Mas o executivo teve de encarar seguidas acusa��es de malfeitos, afastando-o de eventos p�blicos e da imprensa. Em 2010, o agora presidente da Petrobras recebeu acusa��es de ter comprado um apartamento no interior de S�o Paulo pagando cerca de R$ 150 mil em esp�cie. Na ocasi�o, alegou que tinha todo aquele montante em casa. Na mesma �poca, vieram � tona desconfian�as quanto � evolu��o do seu patrim�nio, considerado incompat�vel com os rendimentos do executivo, que ganhava no BB cerca de R$ 60 mil mensais, R$ 40 mil a menos do que o sal�rio na Petrobras. Sublinhando que prov�veis estranhezas eram explicadas por meros erros na declara��o do Imposto de Renda, o banqueiro confirmou ter pago multa de R$ 122 mil para a Receita. Ontem, o �rg�o refor�ou que n�o comenta o caso.
No ano passado, o estopim da trajet�ria de Bendine: o ex-motorista Sebasti�o Ferreira da Silva, conhecido como Ferreirinha, contou em depoimentos no MPF de S�o Paulo que transportava sacolas de dinheiro vivo a mando do chefe. Meses seguintes, denunciou que representantes do governo e do pr�prio BB estariam tentando impedi-lo de seguir adiante com as acusa��es, porque “poderiam prejudicar a reelei��o de Dilma” ou mesmo lev�-lo � cadeia.
Mudan�a no Banco do Brasil
Vice-presidente de Neg�cios de Varejo, Alexandre Abreu, 49, ser� o novo presidente do Banco do Brasil, a maior institui��o financeira do pa�s, l�der no financiamento do agroneg�cio e que deve participar dos empr�stimos aos principais projetos de infraestrutura nos pr�ximos anos. Considerado ousado e inquieto, o executivo foi o respons�vel no BB por implantar o corte agressivo nos juros em 2011, bandeira do in�cio do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, com o objetivo de acirrar a concorr�ncia banc�ria.
Foi com essa miss�o que Abreu ganhou prest�gio e a simpatia da presidente. Nos �ltimos anos, Abreu se tornou uma esp�cie de bra�o-direito de Aldemir Bendine, que deixou a presid�ncia do banco para se tornar o novo presidente da Petrobras. Por esse motivo, nem os funcion�rios nem os analistas do mercado financeiro acreditam em uma mudan�a significativa na gest�o da institui��o financeira. Apesar do temperamento irrequieto (colegas relatam que ele est� sempre “pilhado”), o executivo tem fama de ser um bom negociador, especialmente com executivos da concorr�ncia.