
No �ltimo balan�o, n�o auditado, a diretoria admitiu que deve terminar 2015 com US$ 8 bilh�es nos cofres, quando precisa de, pelo menos, US$ 15 bilh�es por ano para dar continuidade �s suas atividades. Isso significa que ter� de conseguir este dinheiro ao longo do ano. “A Petrobras n�o poderia dizer, antecipadamente, que vai lan�ar mais a��es no mercado. Isso derrubaria o pre�o dos pap�is, que j� est�o baratos. Por isso, fez esse comunicado. No entanto, acredito que ela vai precisar lan�ar m�o desse expediente. Est� sem credibilidade para captar recursos junto a institui��es financeiras internacionais”, explicou Demetrius Lucindo Borel, economista da DMLB Investimentos. O especialista estimou que a estatal lan�ar�, ao menos, 13 milh�es de a��es no mercado para se capitalizar ainda este ano.
Ontem, os pap�is da companhia subiram, rompendo a barreira dos R$ 10, e ajudaram a Bolsa de Valores de S�o Paulo (BM&FBovespa) a fechar positiva em 1,27% aos 51.280 pontos. As a��es preferenciais tiveram alta de 1,30%, cotadas a R$ 10,12, enquanto as ordin�rias se valorizaram 1,74%, precificadas em R$ 9,95. Os valores, contudo, est�o muito abaixo do que valiam em 2010, quando a Petrobras fez a megacapitaliza��o do pr�-sal. O lan�amento de a��es, ent�o cotadas em R$ 26,30, foi o maior do mundo e atingiu R$ 120,2 bilh�es. Com a venda, a participa��o da Uni�o na companhia, que era de 39,8%, passou para 48,31% porque o governo investiu US$ 43 bilh�es.
Como est� sem credibilidade, se fizer uma nova capitaliza��o agora, a Uni�o aumentaria ainda mais sua participa��o, uma vez que investidor comum est� fugindo da Petrobras. E o mercado quer menos interfer�ncia do governo na companhia e n�o mais inger�ncia pol�tica. “Quem � que vai comprar? Eu n�o”, questionou o doutor em economia pela Universidade de S�o Paulo (USP) e ex-economista-chefe da Federa��o Brasileira de Bancos (Febraban) Roberto Luis Troster. “Se lan�ar a��es do jeito que est� vai entregar de presente”, emendou.
Pre�o represado Para Alexandre Marques, analista da Elite Corretora, o problema � que a Petrobras gastou grande parte da capitaliza��o do pr�-sal, de 2010, para manter o caixa da companhia. “A pol�tica do governo, que represou os pre�os dos combust�veis para segurar a infla��o, enquanto o barril do petr�leo subia no mercado internacional, consumiu grande parte do que a empresa conseguiu arrecadar”, disse. O represamento de pre�os ocorreu de 2011 at� meados de 2014, quando o valor do barril de petr�leo come�ou a cair. No fim do ano passado, a Petrobras reajustou os combust�veis no mercado interno e a defasagem diante do pre�o pago l� fora passou a ser positiva para a estatal.
Em contrapartida, a varia��o cambial est� acabando com o poder que essa defasagem teria de recuperar o caixa da Petrobras. O d�lar disparou nas �ltimas semanas, ontem subiu mais 0,39% e atingiu R$2,85, e 80% da d�vida da estatal � dolarizada. “A vantagem da empresa n�o vai ser suficiente para recuperar o cofre da estatal”, disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Al�m de estar sem alternativas para fazer caixa, a petroleira precisa, cada vez mais, de dinheiro. “Os US$ 8 bilh�es anunciados pela diretoria no balan�o n�o auditado s�o superestimados porque a gera��o de caixa est� reduzida. O progn�stico foi otimista demais. A Petrobras est� diminuindo sua produ��o este ano. Isso quer dizer que o caixa pode ficar ainda mais comprimido do que a estatal quer admitir”, alertou a analista da Conc�rdia Corretora Karina Freitas.
Se o caixa tende a piorar, o n�mero de contas a pagar deve aumentar muito. A empresa precisa fazer as baixas cont�beis do preju�zo com a corrup��o no balan�o auditado, que tem que ser entregue at� junho de 2015. No comunicado � CVM, a Petrobras promete divulg�-lo at� o fim de maio. Se isso n�o ocorrer, ela corre o risco de pagar US$ 54 bilh�es em antecipa��o de pagamento de d�vidas.
Na Justi�a
Al�m disso, a Petrobras responde a v�rias a��es judiciais e processos administrativos – apenas as indeniza��es relacionadas aos processos movidos por investidores que compraram a��es na Bolsa de Nova York somam US$ 528 bilh�es. As multas do �rg�o regulador dos EUA, a Securities and Exchange Commission (SEC), que equivale � CVM, costumam ser bilion�rias. “Essas a��es eram previs�veis quando estourou o esc�ndalo de corrup��o. Em algum momento, a estatal ter� que fazer um acordo e pagar alguns bilh�es de d�lares para retirar esses processos”, assinalou o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edmar Almeida, especializado em mercado internacional de petr�leo.
Para o analista da Elite Corretora Alexandre Marques, o cen�rio para uma nova capitaliza��o � bem diferente do de 2010. “Naquela �poca, havia a perspectiva de explora��o do pr�-sal. Hoje, a empresa est� combalida. Os resultados s�o fantasiosos. O ambiente � de desconfian�a geral e a queda do pre�o do barril de petr�leo derruba a rentabilidade no longo prazo. � dif�cil ter demanda”, estimou. Marques admite, contudo, que a petroleira ter� dificuldade para acessar recursos no mercado. “A melhor sa�da � um choque de gest�o. A empresa deve come�ar a falar a verdade, levantar o tamanho do rombo com a corrup��o e dar convic��o de que far� uma limpa. Mas, sinceramente, acho que isso n�o vai ocorrer enquanto o governo for petista”, lamentou.
� preciso ter cautela
Se uma nova capitaliza��o for inevit�vel, o educador financeiro Mauro Calil alerta para alguns cuidados. “O pre�o por a��o tende a cair ainda mais. Isso porque o patrim�nio ser� o mesmo para um n�mero ainda maior de pap�is”, observou. O lucro tamb�m ser� dilu�do por uma quantidade maior de ativos no mercado. “Os dividendos distribu�dos ser�o menores”, explicou. Os atuais acionistas ter�o direito priorit�rio de manter sua participa��o na empresa, comprando a��es. “Se n�o quiserem exercer esse direito, podem vend�-lo porque ele se torna um ativo”, revelou. A inger�ncia pol�tica � outro ponto a ser observado. “A Uni�o tende a aumentar sua participa��o acion�ria. E isso pode aumentar a interfer�ncia pol�tica nas decis�es da companhia”, alertou Calil.
