As �guas de mar�o trouxeram pingos de esperan�a a Minas Gerais. Depois de um ano operando com menos de 20% da sua capacidade, chegando a ter menos de 3%, um dos principais reservat�rios de usinas hidrel�tricas, o de Tr�s Marias, no Rio S�o Francisco, alcan�ou ontem 20,32% de volume �til. As chuvas do m�s fizeram com que a vaz�o afluente (quantidade de �gua que chega ao reservat�rio) mais que duplicasse, passando dos 440 metros c�bicos por segundo em 28 de fevereiro, para 1.120 metros c�bicos por segundo at� ontem, um aumento de 172%. Em outubro do ano passado, per�odo mais cr�tico para a represa, a vaz�o chegava a 38 metros c�bicos por segundo. Apesar de essa recupera��o ser vista como um bom sinal para 2015, especialistas apontam que o volume de Tr�s Marias ainda est� aqu�m do ideal, assim como o das outras principais hidrel�tricas do pa�s. Em mar�o de 2011, por exemplo, a capacidade da Tr�s Marias era de 98,33%, ou seja, quatro vezes maior do que � hoje. A previs�o da Cemig � de que, at� o fim desta esta��o chuvosa, a capacidade da usina ultrapasse 30%.
A recupera��o de Tr�s Marias tem uma matem�tica simples. Enquanto h� um aumento da entrada de �gua, a vaz�o defluente (quantidade de �gua que sai da represa ) est� em seu menor n�vel hist�rico, em uma m�dia de 80 metros c�bicos por segundo. Antes da estiagem que atingiu o pa�s no ano passado, o que dava uma m�dia de 120 metros c�bicos por segundo, o menor �ndice de vaz�o defluente tinha sido em 2001, durante o racionamento, quando a capacidade era de 300 metros c�bicos por segundo, conforme compara o gerente de planejamento da Cemig, Marcelo de Deus Melo. Em 1962, quando foi criada, a usina vinha com o objetivo de dar 500 metros c�bicos por segundo como vaz�o defluente.
Com a realidade atual, a hidrel�trica tem uma gera��o de 27 megawatts (de uma turbina), sendo que a sua capacidade instalada � de 396 megawatts. “Em quest�o de energia, ela n�o est� representando nada para o que o Brasil precisaria agora. Mas, a �gua do reservat�rio tem outras import�ncias. O montante serve para o turismo da regi�o, aquicultura , lazer, irriga��o e abastecimento humano”, aponta Marcelo. Ele diz que o volume �til atual � uma boa not�cia para Minas. “A crise fez com que muitos usu�rios conseguissem se adaptar a um volume menor. Sabemos que seca ainda vir� este ano, por isso, estamos com uma menor vaz�o defluente”, esclarece.
Mas essa equa��o, segundo o presidente do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio S�o Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, pode ser ruim para os usu�rios a jusante, que precisam da �gua para irriga��o, por exemplo. “Para quem precisa do montante, como � o caso do setor de navega��o, a sa�da de pouca � �gua � interessante. Mas, as pessoas que est�o depois da barragem est�o vivendo o limite de suas atividades”, afirma. Na semana que vem, o assunto das hidrel�tricas no pa�s ser� discutido em reuni�o com a Ag�ncia Nacional de �guas (ANA) e um dos pontos ser� a vaz�o defluente em menor n�vel. Para Marcelo de Deus, da Cemig, a situa��o n�o cria problemas e n�o h� motivos para reclama��o. “Em Pirapora, no Norte de Minas, por exemplo, era preciso uma vaz�o defluente de 350 metros c�bicos por segundo, sendo que a prefeitura usava 1 metro c�bico por segundo. Eles correram atr�s de uma solu��o e deu certo. A vaz�o menor � suficiente para a quantidade que precisam captar”, exemplifica.
Apesar da cr�tica, Anivaldo Miranda diz que o volume �til de 20,3% de Tr�s Marias � um bom sinal de que � poss�vel atravessar o ano de 2015 com tranquilidade. “A natureza est� sinalizando isso. � claro que os 20,3% n�o s�o um volume ideal, que seria de cerca de 90%, mas � um indicativo de melhora. Temos que ver at� onde vai o f�lego dessa recupera��o”, comenta. Para Marcelo de Deus, a tend�ncia, pelo menos neste per�odo chuvoso, � de uma melhora crescente, ultrapassando, inclusive, 30% de volume �til. “Estamos em uma condi��o favor�vel, vamos dar conta de sobreviver no ano”, garante. Outra hidrel�trica que sofreu com a estiagem em Minas, a Camargos, est�, segundo dados da Cemig, com 40,5% do volume �til, sendo que no mesmo per�odo do ano passado, tinha 19,89%.
PERDAS Nos �ltimos cincos anos, no m�s de mar�o, historicamente um per�odo de chuvas, a hidrel�trica de Tr�s Marias perdeu 56 pontos percentuais em volume �til. Em mar�o de 2010, por exemplo, o reservat�rio contava com 76,35% da sua capacidade, mais de tr�s vezes o volume �til registrado ontem. O mesmo ocorreu com outros reservat�rios no estado. Ainda sem dados para o m�s de mar�o deste ano, o reservat�rio de Furnas, por exemplo, perdeu, 71 pontos percentuais em volume �til. Passando de 98,36% em 2010, para 27,27% em mar�o do ano passado. Aos poucos, segundo mostram os n�meros, as principais usinas est�o aumentando o volume �til apesar de estarem, ainda, muito longe do que tiveram um dia.