
Com a crise econ�mica que atingiu o pa�s em 2014 e se acentua com mais for�a este ano, ela perdeu a sala que alugava, vendeu o carro e os equipamentos e parou de estudar. Ela n�o � a �nica a sentir os impactos de um rev�s. A ent�o nova classe m�dia, na qual Gilza ingressou e que foi o motor do crescimento da economia nos �ltimos anos, est� agora, segundo especialistas, na corda bamba, correndo o risco de encolher e mudar a pir�mide social do pa�s.
Com 114 milh�es de brasileiros , ou representada por 56% da popula��o, a classe C foi aquela para qual o com�rcio escancarou suas portas, para a qual havia uma maior oferta de cr�ditos com juros baixos, que financiava im�veis, celular, televis�o, carros, viagens e outros bens de consumo. Por�m, segundo pesquisa do instituto Data Popular, essa mesma classe n�o est� mais t�o otimista e a realidade agora � outra. O instituto considera a classe C, aquela com renda per capta de de R$ 338,01 a R$ 1.184, ou uma renda mensal de at� R$ 2,9 mil. Segundo o levantamento, em uma d�cada, a massa de renda dessas pessoas aumentou em 71%, chegando a R$ 1,35 trilh�o.
Mas, com a alta da infla��o, j� em 7,7% nos �ltimos 12 meses, e o aumento do desemprego, que chega a 6,8%, os mais de 3 mil entrevistados pelo instituto est�o descrentes com o Brasil e acreditam que as coisas v�o piorar daqui pra frente. Em rela��o � infla��o, 79% acreditam que os pre�os v�o continuar subindo; 55% est�o pessimistas em rela��o ao emprego; e 68% disseram que 2015 ser� um ano pior para o pa�s.
“O medo � de despencar dessa classe social a que chegamos”, confessa a cabeleireira Zilda Bernardina. H� 10 anos, Zilda trabalhava como empregada dom�stica e, com a melhora na vida dos brasileiros, ela se preparou e, em pouco tempo, se tornou manicure. “Depois, tornei-me s�cia do sal�o e consegui dar uma entrada em um apartamento, conheci o mar quando viajei para a Bahia, e tinha uma agenda cheia de clientes”, recorda. Segundo ela, em 2014 os ventos mudaram. A clientela minguou.
Devendo � Caixa Econ�mica Federal, resultado do financiamento que fez para a casa pr�pria, Zilda diz que est� deixando de pagar tamb�m as contas de �gua e de luz. “Tudo mudou para n�s. Sempre fui muito correta com as minhas despesas, n�o tinha d�vidas e estava indo muito bem. Mas, com a situa��o atual, tudo reverteu. J� deixei de comprar muita coisa, e se continuar desse jeito, vamos despencar da classe C para D, E”, aposta, sem ver muitas esperan�as para os pr�ximos meses.
Essa retra��o da qual Zilda tem medo, segundo o economista da Fecom�rcio Caio Gon�alves, � poss�vel. Ele lembra que, depois da crise mundial de 2008, houve um est�mulo ainda maior ao consumo da classe C, que passou a ter acesso a bens a que antes n�o tinha. “Houve uma oferta maior de cr�dito e as taxas de juros eram mais baixas. Mas, atualmente, tem ocorrido o oposto daqueles anos. Com uma infla��o muito elevada, h� a perda do poder de compra. A mesma renda que se tinha antes se tem hoje para pre�os mais altos, isso para todas as classes.” Para um retrocesso de brasileiros da Classe C, Caio diz que o mais agravante seria o aumento do desemprego. “E esse sentimento de risco de perder o emprego j� come�ou a ser sentido por essa parte da popula��o.”
H�BITOS Pelo menos nas compras, eles j� mudaram os h�bitos. Ainda segundo o Data Popular, 41% dos entrevistados disseram comprar a mesma quantidade de produtos. Por�m, optam por marcas mais baratas. Cerca de 80% disseram estar economizando nas contas do dia a dia, como �gua, luz e telefone. Mas eles passaram a dever mais. Agora, 31% dos entrevistados assumiram ter comprado “fiado” em 2014. Em 2010, esse percentual era de 27%. Tamb�m passaram a socorrer mais os amigos e parentes. Antes, em 2010, 12% assumiram isso � pesquisa; em 2014, foram 26%, mais do que o dobro, os que confessaram emprestar o cart�o de cr�dito ou o nome para garantia de compra. A pipoqueira Renata Sores n�o se endividou, mas mudou de vida para continuar na luta. Ela conta que h� 10 anos conseguiu sair de um emprego de operadora de caixa para ter o seu pr�prio carrinho de pipoca em BH. “Foi dando certo e at� 2013 consegui ter tr�s espalhados pela cidade. Mas, no ano passado, para n�o ter que perder a minha fonte de renda, tive que tirar meus dois filhos da escola particular e coloc�-los na p�blica, passei a n�o comprar tanto e a viajar menos tamb�m”, conta, acrescentando ter esperan�a de que haver� uma melhora nos pr�ximos meses. “Quero pensar positivo, n�o quero sair da classe C”, revela.
A vendedora Vera L�cia Gon�alves Nascimento engrossa esse coro. Ela conta que nos �ltimos anos melhorou de vida, conseguiu comprar im�veis, tendo, inclusive, dois lotes na Grande BH. “Foi uma melhora muito significativa, mas, no ano passado, veio essa crise. Por�m, n�o podemos nos deixar abater por ela. � preciso ter um controle financeiro para que possamos continuar na classe C e sempre com tend�ncia ao crescimento”, conta ela, que viu o movimento na loja de sapatos onde trabalha cair 80% neste ano. “Mudei meus h�bitos de compra, e sei que, enquanto tiver planejamento, n�o vou precisar vender meus bens para sobreviver”, garante.
VIRADA
Apesar dos n�meros e dos temores da classe C, o presidente do Data Popular, Renato Meirelles, aponta que h� dois movimentos nesse contexto: um momento de crise que impacta a classe m�dia e outro da capacidade de essa parte da popula��o de se “virar”. Como prova, ele cita que a pesquisa aponta que 62% dos entrevistados est�o buscando renda extra e 42% est�o fazendo “bico” para complementar a renda. “� claro que, com a infla��o, eles est�o mais pessimistas. Por outro lado, est�o deixando de comprar por impulso e procurando ganhar mais dinheiro”, afirma Renato.
