O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse n�o acreditar que as mudan�as promovidas pelo governo ap�s a reelei��o da presidente Dilma Rousseff representam uma mudan�a no discurso em rela��o �s promessas feitas durante a campanha eleitoral. O ministro comparou a situa��o �s mudan�as na pol�tica macroecon�mica feitas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ap�s sua reelei��o, em 1998. "� preciso discutir o passado, mas precisamos avan�ar", disse, durante audi�ncia na Comiss�o de Assuntos Econ�micos (CAE) do Senado. "N�o foi uma nega��o FHC mudar a pol�tica econ�mica depois de reeleito. As condi��es mudam."
Com essa afirma��o Barbosa tentou rebater as cr�ticas feitas no CAE pelo senador Ricardo Ferra�o (PMDB-ES), para quem as pessoas ainda n�o sentiram a alta dos pre�os das tarifas, a perda do poder aquisitivo. "Se tudo o que est� sendo feito agora � correto, o que foi feito estava errado?", questionou Ferra�o, complementando que para discutir o futuro � preciso discutir o passado e justificando que a desorganiza��o das contas p�blicas � que est� impondo ao Pa�s profundo ajuste com consequ�ncias muito complexas no dia a dia.
Barbosa mencionou que FHC defendeu a pol�tica de c�mbio fixo durante a campanha de 1998 e tentou mant�-la enquanto p�de. "Quando veio a crise, a situa��o se avolumou e a sa�da de capital era muito grande. Foi um ato corajoso e respons�vel a ado��o da pol�tica de c�mbio flutuante e do regime de metas de infla��o", afirmou. "Ele tentou manter o que parte de sua equipe achava necess�rio na �poca enquanto p�de, mas quando os custos da manuten��o dessa pol�tica se revelaram muitos maiores que sua manuten��o, ele mudou."
Na avalia��o de Barbosa, foi o mesmo que ocorreu com o governo da presidente Dilma Rousseff na �rea fiscal. "T�nhamos uma capacidade de usar o Or�amento para suportar impactos de fatores ex�genos e da desacelera��o da economia e usamos. O crescimento desacelerou e o governo manteve seus investimentos e pol�ticas sociais", disse.
O ministro falou ainda que o realinhamento do pre�o de ativos como o d�lar e as commodities, somado � maior estiagem da hist�ria no Sudeste, esgotou a capacidade de absor��o do governo. "O governo absorveu enquanto p�de o custo disso para minimizar os impactos sobre a popula��o", disse. "S� mudamos quando n�o havia mais forma de manter."
A despeito disso, Barbosa avalia que n�o houve nega��o das promessas de campanha feitas por FHC em 1998 e por Dilma em 2014. "Houve uma atitude respons�vel de adaptar a pol�tica econ�mica � conjuntura dom�stica e internacional", afirmou. Disse que essa situa��o exige que o governo priorize pol�ticas, sem perder, no entanto, a dire��o. "As prioridades continuam as mesmas, como a pol�tica de valoriza��o do sal�rio m�nimo, Bolsa Fam�lia, Minha Casa Minha Vida. Temos espa�o fiscal para fazer algumas coisas, mas n�o tudo ao mesmo tempo", afirmou.
"A equipe econ�mica tentou lutar contra a desacelera��o, mas isso atingiu um limite e surpreendeu a equipe econ�mica, que n�o esperava um d�ficit no ano passado." Segundo ele, n�o h� problema em registrar resultado negativo em um ano, desde que eles n�o sejam persistentes. Barbosa disse ainda que essas reavalia��es da pol�tica econ�mica n�o s�o monop�lio de um partido ou outro, nem da esquerda ou direita. O ministro disse ainda que o ajuste feito pelo governo tem como objetivo criar condi��es para um novo ciclo de desenvolvimento e de oportunidades. E defendeu ainda o programa de concess�es de infraestrutura do governo. "O governo tentou preservar o interesse do consumidor, por isso talvez as taxas de retorno tenha sido consideradas baixas", afirmou. "Em alguns casos funcionou, como em aeroportos e rodovias, e em outros n�o. Mas estamos nos adaptando."
Na audi�ncia, o senador Eduardo Amorim (PSC-SE) avaliou como p�ssima a situa��o econ�mica atual e disse n�o ser poss�vel culpar nem outros governos, pois faz muito tempo que o PT est� no poder. "Espero que a humildade que a presidente Dilma falou de di�logo se concretize", disse. Em seguida, ele questionou Barbosa sobre que nota o ministro daria para a qualidade do gasto p�blico do governo de 1 a 10 e perguntou se ainda haveria "alguma surpresa" no futuro, al�m da nova meta de super�vit prim�rio.
Na mesma linha de cr�ticas, o senador Jos� Antonio Reguffe (PDT-DF) questionou Barbosa se ele poderia assumir o compromisso de n�o mudar meta fiscal no final deste ano ou no in�cio do pr�ximo. Ele tamb�m mostrou preocupa��o com o estouro da meta de infla��o, levando em conta as proje��es coletadas semanalmente pelo Banco Central com o mercado e diz temer que a atual alta do c�mbio passe para os pre�os no futuro.
J� Raimundo Lira (PMDB-PB) salientou que, como professor de economia, nunca conheceu um pa�s que se recuperasse de uma crise econ�mica sem que necessariamente se criassem as expectativas econ�micas. "Os investidores nacionais e internacionais s� investem se forem criadas expectativas e n�o se criam expectativas com aumento de carga tribut�ria, com excesso de tarifa de energia...", disparou.
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) questionou a credibilidade do governo para promover mudan�as. "Imagino o constrangimento de Vossa Excel�ncia, quando a presidente vem a p�blico falar de erros do passado. Quando o ministro atual da Fazenda, Joaquim Levy, fala que erros foram 'grosseiros'", disse. "Como est� a consci�ncia de Vossa Excel�ncia?", perguntou Caiado, para em seguida emendar: "Como se sente neste momento? Qual � a credencial que voc�s t�m hoje para propor ajuste fiscal, ap�s enganar a sociedade e s� agora dizer que a economia est� um caos"?