
Nos �ltimos meses, o auxiliar administrativo Bruno Felipe Santos, de 27 anos, sentiu a desacelera��o da economia e o encarecimento do custo de vida. Este ano, ele j� tomou uma decis�o: vai colocar a vida financeira em ordem e n�o pretende fazer nenhum tipo de d�vida. Bruno resolveu evitar o cart�o de cr�dito e credi�rios. “Presta��es a longo prazo, de jeito nenhum”, garantiu. “Este ano s� vou comprar o necess�rio. No m�ximo, vou gastar com vestu�rio”, afirmou. Ele pretende renegociar com o banco para quitar o cheque especial e terminar o ano com a vida finaceira bem organizada.
Renegociar a d�vida pode ser uma boa alternativa para quem deseja sair do vermelho, desde que o consumidor tenha condi��es de honrar com o novo d�bito. “N�o adianta negociar com o gerente do banco sem saber a quantia devida e o quanto do or�amento tem para pagar”, ponderou a economista-chefe do Servi�o de Prote��o ao Cr�dito (SPC Brasil), Marcela Kawauti. Dependendo do tempo de atraso da d�vida, � poss�vel conseguir descontos de at� 70%.
Saber negociar com o gerente do banco pode definir o valor a ser pago no reajuste. “Se a institui��o financeira cobrar acima do que a pessoa pode pagar, � interessante apresentar uma contraproposta”, afirmou Marcela. “Todo credor tem muito interesse em receber, mesmo que a quantia seja inferior �s presta��es do antigo cr�dito concedido”, acrescentou.
Entretanto, para o consultor financeiro Reinaldo Domingos, presidente da DSOP Educa��o Financeira, mais importante do que substituir a d�vida � ter reservas financeiras para manter o or�amento familiar em uma eventual situa��o de desemprego. “Se o trabalhador � demitido, durante quanto tempo ele conseguiria manter o padr�o de vida que tinha? � preciso ter reservas financeiras para sustentar as presta��es assumidas e o custo de vida mensal. Caso contr�rio, antecipar ou renegociar d�bitos n�o resolver� nada”, avaliou.

Alerta Quem n�o renegociar a d�vida ou se munir de mecanismos preventivos para proteger o or�amento familiar pode estar fadado a ficar inadimplente. Frente a atual conjuntura, a perspectiva � de que os consumidores encontrem mais dificuldades para limpar o nome. “Mesmo os consumidores que tenham o desejo de liquidar a d�vida dever�o enfrentar dificuldades devido ao avan�o da infla��o, que reduz o poder de consumo. Os juros v�o continuar subindo e os d�bitos ficar�o mais caros”, analisou.
Juliana Rabelo, de 30, trabalha como assistente administrativa. Ela est� com a vida financeira em dia. Apesar de n�o ter nenhuma despesa com pagamento de juros ou d�vidas, ela diz que est� preocupada porque sentiu a redu��o de ritmo da economia o que pode fazer o desemprego crescer. Sendo assim, Juliana prefere ser cautelosa. “Esse ano n�o vou fazer compras. Estou focando os gastos s� nas despesas necess�rias, pisando no freio mesmo”, apontou.
Somado � alta dos pre�os e o cr�dito encarecido, o desemprego ser� o principal desafio na decis�o do brasileiro em renegociar a d�vida. O brigadista Ricardo Pereira dos Santos, de 37, foi dispensado em dezembro e, at� o momento, n�o conseguiu retornar ao mercado de trabalho. Com d�vidas da mensalidade da faculdade, da moto e do cart�o de cr�dito em atraso desde fevereiro, ele estima que, juntas, elas j� somam mais de R$ 1,3 mil. “Quero arrumar logo um servi�o para n�o deixar os d�bitos acumularem. Se n�o, vai virar uma bola de neve e a� a situa��o vai ficar mais complicada”, disse.
Crise no pa�s eleva trai��o financeira
Vera Batista
Bras�lia – As incertezas econ�micas e a instabilidade no mercado de trabalho podem causar s�rios problemas na vida dos casais. Diante da crise financeira, a tend�ncia, segundo analistas, � as discuss�es aumentarem, na medida em que diminui a quantidade de dinheiro no bolso. Estudo do SPC Brasil aponta que 23% dos casais endividados brigam por causa de dinheiro e que 35% dos brasileiros n�o informam ao parceiro todos os gastos pessoais. Omitir quanto ganha, patrim�nio ou montante das d�vidas � “trai��o financeira”, na an�lise de Dora Ramos, diretora da Fharos Contabilidade & Gest�o.
“Contar com a ajuda e a confian�a do parceiro, abrir m�o de gastos desnecess�rios, dividir as despesas de forma justa e, acima de tudo, conversar s�o fatores que garantem um or�amento planejado e, ao menos no ponto de vista financeiro, uma vida saud�vel ao casal”, afirmou Dora Ramos. Mas dividir as contas nem sempre � f�cil, principalmente quando se est� desempregado.
“�s vezes, gera discuss�o porque um de n�s quer comprar um produto de um valor que poder� fazer falta meses depois. Mas, apesar do desentendimento, prevalece o bom senso”, garantiu o ajudante de obra Tadenes Ferreira Campos. � do sal�rio de R$ 900 da esposa, Edilene Monteiro, que trabalha como operadora de caixa, que eles tiram o sustento. “� o bastante para sobreviver. Ent�o, todo fim de m�s, sentamos juntos para levantar os valores das despesas e analisarmos se h� sobras para o consumo”, explicou a mulher.
Todo cuidado � pouco para n�o cair em armadilhas, alertou Wilson Justo, diretor de Marketing e Relacionamento da Sorocred. Segundo ele, mentiras podem destruir o casamento ou o conv�vio familiar. “Compartilhar informa��es � fundamental. S� fazendo os c�lculos, � poss�vel apurar o tamanho do rombo e encontar em conjunto uma sa�da”, disse. Se for preciso, o casal pode at� buscar uma linha de financiamento. E, nesse caso, n�o basta apenas ver o percentual dos juros.
“O mais importante � o Custo Efetivo Total (CET), que inclui todas as taxas. Pesquise bastante, n�o aceite a primeira oferta”, refor�ou Justo. Outro elemento que inquieta a maioria � o mimetismo social – na busca por ascen��o e aceita��o, a pessoa � capaz de qualquer coisa para ter um objeto igual ao do vizinho. “N�o adianta comprar o que n�o pode pagar. � fundamental se adequar �s suas condi��es”, destacou Justo.
O momento � de redu��o radical dos gastos, complementou Paulo Ferreira Barbosa, professor de economia e empreendedorismo do IBE/FGV. “� claro que ningu�m vai abrir m�o totalmente do prazer. Mas n�o adianta ambicionar o carro do vizinho, de R$ 60 mil. Quem estiver em dificuldade, ao contr�rio, ter� que trocar o seu autom�vel de R$ 30 mil por outro pela metade do pre�o”, revelou Barbosa. Os maiores riscos de desembolsos por impulso, disse, est� nas datas festivas, como P�scoa, Dia das M�es, Dia dos Namorados, entre outras.
Nesses momentos, disse Barbosa, parece que o conceito de amor se altera e o trabalhador se sente obrigado a cumprir o ritual da irracionalidade. “Todo mundo praticamente exige presentes caros. Quando n�o recebe, acusa o outro de falta de romantismo e aten��o, de desleixo ou de p�o-durismo. Soa estranho pensar que algu�m acha que o parceiro ama mais ou menos quando tem muito ou pouco dinheiro na carteira”, criticou.
Na pr�tica, concordam os analistas, n�o � sensato os homens esconderem despesas com autom�veis e com a cerveja de fim de semana com os amigos, e nem as mulheres omitirem que n�o resistiram �quelas roupas e sapatos expostos na vitrine. A escassez de recursos, ao contr�rio, principalmente nesse 2015 de ajuste fiscal e corte de gastos do governo, dever� fazer com que a transpar�ncia sobre o dinheiro se torne um procedimento fundamental para manter o or�amento equilibrado.