Bras�lia – Diamantes d�o brilho ao roteiro de um filme ou de uma telenovela. E tamb�m podem se destacar nos relatos da forma��o de um pa�s. Quando se descobriram os primeiros exemplares desse mineral na regi�o onde hoje fica Diamantina (Vale do Jequitinhonha), em 1725, s� se tinha visto algo semelhante extra�do de minas da �ndia.
As pedras foram levadas por um padre para a corte portuguesa, que tratou de regulamentar e incentivar as lavras no Brasil. “A hist�ria dos diamantes se confunde com a do pa�s”, resume Francisco Valdir Silveira, chefe do departamento de recursos minerais da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM).
Surgiram garimpos nas Gerais, na Chapada Diamantina, da Bahia, e em tantos outros lugares. O Brasil foi, durante muito tempo, o maior produtor mundial. At� que se descobriu o min�rio na �frica. Primeiro, no leito dos rios, como aqui, depois, no in�cio do s�culo passado, em dep�sitos prim�rios subterr�neos.
Diamante deixou de ser apenas algo que se consegue peneirando cascalho. E o peso do pa�s foi encolhendo. De acordo com os dados mais recentes, respondemos por apenas 0,04% da produ��o global, apesar de termos a sexta maior ind�stria de minera��o do mundo quando se levam em conta o ferro, a bauxita e outros itens. “Para um ge�logo de diamantes, o Brasil � o pa�s mais frustrante do mundo”, relata Mark Van Bockstael, chefe de intelig�ncia de mercado da Antwerp World Diamond Center (AWDC), uma funda��o na cidade belga que concentra 50% do mercado de diamantes brutos do mundo e 84% dos lapidados.
A primeira mina do pa�s em um dep�sito prim�rio, a Bra�na, vai come�ar a operar em Nordestina (BA) no come�o de 2016. Em outubro, ela dever� estar funcionando experimentalmente. � um processo bem diferente da coleta de cascalho dos rios, o garimpo de aluvi�o, que tamb�m pode ser mecanizado. As lavras subterr�neas ser�o exploradas por explos�es.
As rochas trituradas mergulham em ferro-sil�cio, em que part�culas mais densas, incluindo diamantes, decantam. Dali, seguem para uma c�mara onde recebem laser, que destaca os diamantes. Funcion�rios que est�o fora do compartimento enfiam a m�o em luvas semelhantes �s de laborat�rios de doen�as altamente contagiosas, acessando o interior do compartimento blindado para separar os diamantes. N�o ser�o usados produtos qu�micos e 98% da �gua ser� reciclada.
A mina de diamantes baiana, a primeira na Am�rica Latina, � resultado de um investimento de R$ 80 milh�es de belgas e chineses, comerciantes de gemas que criaram uma mineradora, a Lipari, ao decidir enveredar por esse ramo. O total de recursos empregados no projeto deve chegar a R$ 200 milh�es.
BARREIRA
O alto custo � um grande obst�culo para o aumento da explora��o, explica Silveira, da CPRM. “Mas, duas ou tr�s pedras grandes, se forem encontradas, pagam tudo isso”, diz. No mercado de diamantes, n�o h� padr�es t�o r�gidos quanto no do ouro. Um quilate (medida de peso padr�o nesse setor, equivalente a 0,2 gramas) pode valer US$ 200, no caso de uma pedra pequena. Mas chega a US$ 5 mil, no caso de uma pedra grande e de qualidade — ou muito mais. Cores valorizam: os diamantes rosas est�o entre os mais caros do mundo.
F�bio Borges, diretor financeiro da Lipari, est� entre os que apostam que a explora��o de diamantes subterr�neos no Brasil pode crescer muito. “O Canad� n�o tinha nenhuma mina no in�cio dos anos 1990. Hoje, tem nove. E l� � muito mais dif�cil de implant�-las porque as reservas est�o em locais remotos, no meio do gelo”, compara. Em sete anos, a Bra�na poder� atingir a produ��o de 360 mil quilates, 7,5 vezes a produ��o total do pa�s no ano passado.
Para o diretor de fiscaliza��o do Departamento Nacional de Produ��o Mineral (DNPM), Walter Arcoverde, o c�mbio poder� impulsionar investimentos em novas lavras subterr�neas de diamantes. “A valoriza��o da moeda nacional frente �s estrangeiras faz diminuir o garimpo”, analisa.
COM�RCIO EM EVOLU��O
Al�m dos investimentos em minera��o, a ideia � sofisticar tamb�m o com�rcio e os servi�os relacionados a essa ind�stria. “Queremos ter mais gente nesse mercado, no Brasil e em todo o mundo”, afirma Van Bockstael, da AWDC. No m�s que vem, a funda��o vai promover o GMB Brasil, no hotel Copacabana Palace, vers�o nacional de um evento global do setor, que vai envolver especialistas e empres�rios — haver� at� um desfile de modelos usando joias.
Dados da AWDC mostram que h� um grande potencial de crescimento das vendas de diamantes. Das fam�las chineses, 40% t�m alguma joia com diamante, uma propor��o muito menor do que as dos pa�ses europeus e dos Estados Unidos.
Para o ex-garimpeiro Dario Machado Rosa, hoje funcion�rio p�blico, a sofistica��o do setor � bem-vinda. “Uma das dificuldades que temos no Brasil � o n�mero reduzido de compradores, o que diminui muito o valor que conseguimos”, relata. Ele � presidente de honra de uma cooperativa que re�ne 130 garimpeiros em Coromandel (Alto Parana�ba). Filho e neto de garimpeiros, conta que a cidade j� teve 3 mil pessoas trabalhando nesse setor, hoje secund�rio.
A regi�o do munic�pio, pr�xima do Tri�ngulo Mineiro, tem grandes dep�sitos de diamantes nos rios — o que sugere potencial de uma mina subterr�nea, caso se descubra o local do dep�sito prim�rio. O Getulio Vargas, maior diamante encontrado no Brasil, foi lavrada ali. Com 726 quilates, deu origem a 29 pedras. Hoje, as t�cnicas de lapida��o com laser permitiriam mant�-la em uma s� pe�a, ou ent�o reduzir o n�mero de divis�es. “N�o valeria menos do que US$ 50 milh�es”, estima Rosa.
Uma das dificuldades de neg�cios est� no processo de certifica��o Kimberley, implantado no Brasil em 2002, que garante que a pedra n�o tem origem il�cita ou em �reas de conflito. Silveira, da CPRM, levanta a hip�tese de que muitos garimpeiros prefiram a informalidade a passar pelo processo, o que pode acabar jogando a produ��o no contrabando. “Ele est� devendo dinheiro na mercearia e acaba entregando a pedra por muito menos do que ela vale.” Isso ajudaria a explicar a queda de produ��o do pa�s, ao menos de acordo com os n�meros oficiais, nos �ltimos anos.
Rosa acha que o processo de certifica��o � ben�fico para os garimpeiros. Mas queixa-se da lentid�o. “�s vezes demoram at� 40 dias. Ningu�m compra uma pedra e espera todo esse tempo para receber”, queixa-se. Arcoverde, do DNPM, contesta a informa��o. “Pode ter sido algum caso por falha processual do interessado. Se ele estiver cumprindo todas as normas, o prazo m�dio � de 10 dias, podendo ser menor”, afirma.
RARIDADES
Diamantes s�o formados a 2 mil metros de profundidade, sob alta press�o. E chegam � superf�cie carregados a velocidade supers�nica pelo magma em uma erup��o. O processo tem de ser r�pido, se n�o as pedras viram carv�o. Mas tamb�m � necess�rio que elas sejam preservadas na subida. Tantas restri��es explicam por que s�o raros. Os diamantes explorados no Brasil foram formados h� cerca de 120 milh�es de anos.