
Disposto a remar na contram�o das proje��es de queda dos investimentos da iniciativa privada neste ano, o secret�rio de Desenvolvimento Econ�mico de Minas Gerais, o empres�rio Altamir de Ara�jo R�so Filho, estuda mecanismos que admitem a entrada do estado na guerra fiscal e prop�e o modelo da parceira p�blico-privada para solucionar gargalos na log�stica de distribui��o da produ��o. As medidas s�o cogitadas para compor a pol�tica desenvolvimentista do novo governo estadual, com a pretens�o de descentralizar o crescimento da economia, estimulando o interior.
A infraestrutura deficiente no Brasil � um dos problemas a serem vencidos, assim como uma pol�tica tribut�ria desigual em rela��o a outros estados, na avalia��o de Altamir R�so. Ele estuda propor a equaliza��o da carga do Imposto sobre a Circula��o de Mercadorias e Presta��o de Servi�os (ICMS) de Minas para setores afetados pela concorr�ncia dos vizinhos. Um bom de exemplo de corre��o dessas assimetrias, para o secret�rio, foi a redu��o da al�quota do imposto estadual de 19% a 14% para o etanol, negociada no governo passado. “O setor retomou sua competitividade (agora tem a segunda menor al�quota do tributo no pa�s, perdendo s� para S�o Paulo) e hoje se apresenta como um dos ramos da ind�stria que poder� fazer novos investimentos”, afirma.
Se o cen�rio da economia n�o � o melhor que se poderia esperar para a tarefa da Secretaria de Desenvolvimento Econ�mico, at� que o conjunto das pol�ticas p�blicas esteja definido, para gerar efeitos a partir de 2016, a meta em 2015 � trabalhar pela atra��o de aportes financeiros do setor privado em cifra superior aos R$ 12 bilh�es anunciados no ano passado, com a gera��o de 81,7 mil empregos diretos. A meta j� implica esfor�o redobrado, tendo em vista que o balan�o de 2014 representou corte de 36% dos recursos que as empresas haviam anunciado para o estado em 2013 (cerca de R$ 19 bilh�es).

Neste ano, o Brasil surfa na onda de baixa expectativa, ante uma taxa de investimento de 16,81% do Produto Interno Bruto de 2014 (o PIB � o conjunto da produ��o de bens e servi�os no pa�s), o menor percentual dos �ltimos cinco anos. A boa not�cia � que como a engrenagem da economia n�o pode parar, em Minas Gerais empresas de diversos setores anunciam que v�o manter ou at� ampliar investimentos para 2015. De um lado, aproveitam oportunidades de ganhar mercado, inovar em produtos e processos, e melhorar a produtividade, a exemplo da Itamb�, Embar�, Pif Paf Alimentos e Aperam. Em outros casos, visam ao aumento da capacidade de produ��o, como as expans�es da f�brica da Ferrero do Brasil em Po�os de Caldas, no Sul de Minas, e da produ��o cimenteira da Companhia Sider�rgica Nacional (CSN) em Arcos, no Centro-Oeste mineiro e Romaria, no Alto Parana�ba.
“A economia desaquecida prejudica de uma forma geral, mas o setor privado tem vis�o de longo prazo. Sabemos que um grande investimento n�o se faz de um dia para o outro”, afirma o secret�rio Altamir R�so. � tamb�m o que orienta o or�amento de investimentos da Itamb�, terceira maior empresa do setor l�cteo no Brasil. A companhia vai investir R$ 75 milh�es neste ano, com foco em inova��o, redu��o de custos e otimiza��o da produ��o, informa o diretor de rela��es institucionais, Ricardo Cotta.
Concorr�ncia
Os recursos reservados pela Itamb� para 2015 ser�o distribu�dos entre as unidades de Par� de Minas, na Regi�o Central do estado; Uberl�ndia, no Tri�ngulo Mineiro; Guanh�es, no Vale do Rio Doce, e Goi�nia (GO), para moderniza��o industrial, automa��o de equipamentos e lan�amentos considerados inovadores pela empresa, principalmente na �rea de produtos refrigerados, com destaque para os iogurtes. Ser�o lan�ados 50 produtos neste ano e, de acordo com Ricardo Cotta, a mais completa linha de l�cteos sem lactose. “Nossa vida, sem d�vida, est� mais dif�cil do que num cen�rio em que a economia estivesse indo bem. Mas a empresa est� totalmente preparada para cumprir seus planos e fazer frente aos concorrentes”, afirma.
Em 2014, a Itamb� investiu R$ 70 milh�es, concentrados na amplia��o da sua capacidade produtiva de itens com maior valor, particularmente os iogurtes e requeij�o. A meta j� come�ou a ser cumprida de disputar o concorrido consumo de S�o Paulo e ampliar a sua participa��o no Nordeste, sem descuidar de consolidar a lideran�a em Belo Horizonte e restante de Minas Gerais.
Enobrecer seus produtos e melhorar a produtividade s�o tamb�m os principais objetivos em 2015 da fabricante de a�os inoxid�veis Aperam South America (antiga Acesita). A empresa conduz um programa de invers�es de US$ 17 milh�es na f�brica de Tim�teo, no Vale do A�o, para elevar o conte�do tecnol�gico da linha de a�os el�tricos HGO, com demanda em crescimento no mundo, devido � alta permeabilidade e � maior efici�ncia energ�tica. Segundo o presidente da companhia, Frederico Ayres Lima, a estrat�gia consiste em ganhar competitividade frente aos custos mais altos no Brasil e adotar uma pol�tica mais agressiva de atendimento dos clientes, com inova��o em produtos e processos. O projeto d� mostras de que mesmo no setor sider�rgico, um dos mais sacrificados pela crise dentro e fora do Brasil, h� empresas que mant�m investimentos, al�m daqueles destinados � manuten��o de suas opera��es.

O potencial de expans�o do consumo ou a perspectiva de retomada de vendas, a despeito da retra��o da economia brasileira e das apostas num PIB menor neste ano, ser�o decisivos para os planos de investimentos do setor privado, desde que as empresas mantenham fluxo de caixa suficiente para bancar as suas opera��es num ambiente de demanda retra�da e contingenciamento de cr�dito barato, como as linhas de empr�stimo oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES), observa Guilherme Veloso Le�o, gerente do Departamento de Economia da Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (Fiemg). “A expectativa � de queda dos investimentos neste ano, mas sempre haver� uma vis�o mais estrat�gica e de longa dura��o, desde que o mercado sinalize para uma decis�o acertada de investir”, afirma.
N�o � por outro motivo que a fabricante italiana de chocolates Ferrero Rocher concluir� ainda neste ano aporte de R$ 200 milh�es para dobrar a capacidade produtiva de sua f�brica de Po�os de Caldas, no Sul de Minas, que atende ao Brasil e a mercados no exterior. Os recursos ser�o aplicados em novas linhas de itens como Kinder e Tic Tac, na amplia��o da produ��o das marcas Nutella e Ferrero Rocher e em um centro de distribui��o. “O Brasil � considerado estrat�gico para a Ferrero. E esse investimento nos permitir� acompanhar o crescimento na demanda por produtos de qualidade superior”, tem afirmado o diretor-geral da Ferrero do Brasil e do Cone Sul, Carlos Magan.
A Ferrero informou que o projeto dever� gerar mais de 100 empregos diretos. Ainda no segmento de alimenta��o, a Pif Paf, s�tima maior empresa brasileira no setor de processamento de aves, su�nos, massas e vegetais, anunciou em abril um plano para aplicar R$ 54 milh�es neste ano para ampliar a infraestrutura de seu parque industrial e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, melhorar a capacidade produtiva de itens industrializados e constru��o de avi�rios.
No varejo das grandes marcas, o Walmart.com vai destinar ao estado recursos de R$ 150 milh�es nos pr�ximos 14 meses para constru��o de um terceiro centro de distribui��o. A empresa opera, hoje, com CDs em Betim e Vespasiano, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Principal executivo da companhia no Brasil, Paulo S�rgio Silva informou que o refor�o da log�stica � fundamental para melhorar a qualidade dos servi�os e reduzir o tempo de entrega dos produtos. A amplia��o em Minas permitir� a cria��o de 2 mil postos de trabalho diretos e indiretos durante os tr�s primeiros anos do empreendimento. O site da marca � visitado por cerca de 11 milh�es de pessoas por m�s.
Territ�rios mapeados
O modelo das parcerias p�blico-privadas e programas de concess�es tendem a ser usados em diferentes setores pelo atual governo de Minas como parte da tentativa de solucionar problemas eventualmente identificados como entraves aos investimentos da iniciativa privada. Segundo o secret�rio de Desenvolvimento, Altamir R�so, uma experi�ncia que deve servir de exemplo s�o as PPPs firmadas no Tri�ngulo Mineiro com empresas do segmento sucroalcooleiro para pavimenta��o de estradas. Com os acordos, as usinas investiram e compensaram os aportes feitos no recolhimento do ICMS.
“O modelo � important�ssimo porque os recursos do estado est�o limitados e a pr�pria atua��o do setor privado demonstrou maior efici�ncia em alguns setores, mas precisamos ter contratos benfeitos e regras claras”, afirma. A ideia agrada aos industriais do estado, com a ressalva, segundo Guilherme Le�o, da Fiemg, de que as PPPs necessitam de regula��o forte e est�vel para dar seguran�a ao empres�rio e prote��o � sociedade contra o abuso de poder ou de monop�lios.
O pr�prio estudo dessas possibilidades est� associado � constru��o da pol�tica p�blica do governo mineiro para induzir o desenvolvimento em diferentes regi�es do estado, na qual os t�cnicos da pasta dirigida por Altamir R�so est�o trabalhando. “Existia um privil�gio da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte em iniciativas indutoras de crescimento, mas o estado � cheio de diversidades. Queremos trabalhar em pol�ticas regionais de desenvolvimento, sem nos esquecer da Grande BH”, afirma.
O primeiro passo foi dividir Minas em 17 regi�es batizadas de territ�rios de desenvolvimento. Para cada �rea est�o sendo colhidas informa��es de v�rias fontes da administra��o p�blica, para compor um mapeamento de caracter�sticas pr�prias, vantagens competitivas e desvantagens. O programa contar� com apoio de institui��es de empres�rios, como a pr�pria Fiemg e o Sebrae, e dever� ter resultados em 2016.
