O programa Minas Digital, apresentado na �ltima segunda-feira pelo governador Fernando Pimentel, causou pol�mica junto a 200 empreendedores digitais em Belo Horizonte. Com o discurso de transformar Minas em uma refer�ncia mundial no campo da inova��o e educa��o tecnol�gica, o governador desagradou os empres�rios ao dizer que pretende colocar em um mesmo espa�o as empresas do chamado San Pedro Valley, e tamb�m ao anunciar que algumas startups ter�o 20% do seu capital comprado pelo estado. Segundo empres�rios, a iniciativa compromete o crescimento das empresas e demonstra desconhecimento do governo sobre o ramo. Por outro lado, o governo aponta a import�ncia do programa e rebate as cr�ticas, definindo-as como mal-entendido.
Ontem, os 200 empreeendedores que fazem parte da comunidade San Pedro Valley, divulgaram nota de rep�dio � declara��o do governador, alegando que a comunidade vai permanecer “independente, e n�o ser� controlada por nenhuma entidade, partido, coliga��o ou interesse pol�tico de direita, esquerda, centro, situa��o ou oposi��o”, diz o texto. A San Pedro Valley foi criada em 2011, durante encontros informais dos empreendedores de quatro startups. Surgiu como uma brincadeira entre os empreendedores que atuavam no Bairro Sa� Pedro, na Regi�o Centro-Sul da capital, em refer�ncia ao Vale do Sil�cio, nos Estados Unidos, e se tornou exemplo para empresas de base tecnol�gica de BH e tamb�m do pa�s. “N�o somos uma �nica empresa, s�o mais de 200. E ele quer nos colocar em uma escola? � uma comunidade que est� crescendo independente, e todos est�o trabalhando idependentemente do estado”, afirma Matt Montenegro, fundador da startup Barba Ruiva.
A cr�tica veio porque o governador disse que criaria um hub (espa�o destinado � instala��o de novas empresas de tecnologia que ser� replicado em todo o estado) na escola Milton Campos, e que ele iria abrigar as empresas que formam a San Pedro Valley. “� como o Vale do Sil�cio em um bairro. � imposs�vel”, comenta Victor Pe�anha, fundador da RockContent. Segundo Matt, a �rea de tecnologia do estado deveria ter mais investimento. “Fomentar o setor � interessante, mas � preciso que o governo fa�a com que a internet chegue a todos, melhore as escolas p�blicas e ensine tecnologia nas salas de aula. Daqui a dois anos, n�o teremos m�o de obra qualificada para o segmento em BH”, aponta. Uma outra cr�tica � que o governo fechou as portas do Seed (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development), programa de apoio a startups criado pela gest�o anterior, em 2013. “O governo se prontificou a chamar o San Pedro Valley para participar do processo da constru��o do novo Seed, o que se daria em diversas atividades, como discuss�es sobre o formato do programa para a prepara��o de um novo edital. J� se passaram v�rios meses desde a �ltima conversa e nada de concreto aconteceu”, diz o texto.
Al�m disso, de acordo com Victor Pe�anha, ao anunciar a compra de 20% do capital de uma startup, o governo demonstrou desconhecimento sobre o funcionamento de uma empresa no ramo. “Uma empresa que tem 20% do seu capital comprado pelo estado, na nossa �rea, significa uma barreira na possibilidade de crescimento”, diz, explicando que, se uma empresa vale R$ 1,5 milh�o e o estado det�m R$ 300 mil, em uma segunda rodada de investimentos, esse percentual pode prejudicar negocia��es com futuros investidores privados. “Al�m de participar da gest�o, o estado entra com muitos termos, o que pode prejudicar o crescimento das empresas”, afirma.
MAL-ENTENDIDO
Surpreso com as cr�ticas negativas ao programa, o secret�rio-adjunto da Secretaria Estado de Ci�ncia, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), Vinicius Rezende, explica que o Minas Digital � muito mais amplo e complexo. Ele diz que houve um mal-entendido sobre a comunidade San Pedro Valley e que o estado n�o pretende abrigar as empresas que formam a comunidade em hubs. “As empresas que ir�o para l� n�o ser�o do porte das da San Pedro Valley”, esclarece. Ele afirma ainda que o Seed n�o foi extinto. “Em 10 de junho foi publicado decreto para reformul�-la e melhor�-la. Uma das propostas, por exemplo, � a redu��o da contrapartida dos empreendedores digitais, de 10% para 5%.”, De acordo com ele, ainda este ano o novo Seed deve ser implantado, mas estar� sob a reponsabilidade da Sectes.
Sobre a compra de 20% do capital das startups pelo estado, ele esclarece que ser�o somente 30 empresas selecionadas para esse fomento. “Isso n�o vai prejudic�-las. Quando criamos o programa, ouvimos v�rios atores de diversos segmentos e todos apontaram a necessidade de articular e fomentar essas empresas. Pesquisas internacionais mostram que startups s�o vendidas a US$ 300 mil para investidores e, quando t�m uma prote��o do estado, podem ser vendidas com um valor muito mais alto”, defende, ressaltando que o programa � arrojado, est� em constante inova��o, e “� ineg�vel que, neste momento de crise financeira do estado, ele seja uma grande sa�da”.