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Estado de Minas TESTEMUNHO DE UM MILAGRE ECON�MICO

Estrada de ferro levou investimentos e empregos � Ladainha, mas expans�o foi interrompida


postado em 03/08/2015 00:12 / atualizado em 03/08/2015 07:46

Em Ladainha, Hélio Abrahão recebe na casa adquirida depois do último suspiro da maria fumaça o amigo Milton Wiltlher, ex-colega de um duro trabalho de quem se separou com a desativação da linha (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Em Ladainha, H�lio Abrah�o recebe na casa adquirida depois do �ltimo suspiro da maria fuma�a o amigo Milton Wiltlher, ex-colega de um duro trabalho de quem se separou com a desativa��o da linha (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)


Ladainha e Nanuque
– “Essa � a terra de um povo agrad�vel. Lugar bonito, do Rio Mucuri, da montanha de pedra, de casas antigas...”. Quem apresenta Ladainha, na divisa dos vales Jequitinhonha e Mucuri, � Milton Ramalho Wiltlher, de 82 anos. Ele e o pai, um sergipano que deixou o Nordeste depois de ouvir que o emprego bombava na cidade mineira, ganharam a vida como ferreiros na Bahia-Minas, a ferrovia constru�da, em 1881, para levar o milagre econ�mico a regi�es carentes, mas cujos trilhos foram arrancados, em 1966, por decis�o do governo militar.


Ladainha � um cap�tulo especial na hist�ria do caminho de ferro que um dia ligou o sert�o do estado ao Atl�ntico, de Ara�ua� a Ponta de Areia (BA), num total de 578 quil�metros. O munic�pio surgiu em raz�o de investimentos da companhia que administrava a ferrovia: a empresa precisava de um lugar para erguer a oficina das composi��es e a escola de forma��o de m�o de obra qualificada. Foi assim que uma terra in�spita virou Ladainha, homenagem a um homem que viveu na antiga sesmaria e rezava v�rias vezes ao dia, numa grande ladainha.

O vaiv�m dos vag�es levou o progresso para l�. Mas, quase 50 anos depois da �ltima viagem do trem, quanta coisa mudou. A cidade, o rio e a montanha de pedra ainda agradam os olhos de moradores e visitantes. J� o milagre econ�mico foi embora no �ltimo trem: a cidade que teve uma institui��o de ensino especializada em forma��o de profissionais obteve, em 2013, a segunda pior nota no estado no �ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) da educa��o (0,391) entre os 853 munic�pios em Minas.

Agora, Ladainha � uma cidade com um passado glorioso e um presente � espera de um futuro melhor, situa��o id�ntica a de outros lugares fundados pela Baiminas, como pronunciam os mais antigos. Esse � o tema do segundo dia da s�rie de reportagens que o EM e o em.com.br  publicam sobre a ferrovia tida como a reden��o econ�mica do Vale do Jequitinhonha, uma das regi�es mais carentes do Brasil.

A companhia levantou at� um cinema para o lazer dos trabalhadores e da popula��o que migrou para Ladainha. O empreendimento foi um s�mbolo do progresso, erguido numa �poca que nem mesmo todas as grandes cidades tinham o seu cinema.

“Quem era da rede (empresa respons�vel pela ferrovia) n�o pagava ingresso na bilheteria. Era descontado na folha (contracheque). A estrada de ferro atraiu gente de tudo quanto � canto. Vim de Salinhas (Norte do estado) para ser garimpeiro da rede. Fazia manuten��o dos dormentes. Uma �poca que o dinheiro corria mais. Pena que esse tempo n�o volta. Veja como est� o pr�dio do cinema. Acabado”, lamentou seu Jacinto Reis dos Santos, de 82.

O im�vel a que ele se refere agora � um dep�sito de pneus e cadeiras. As vidra�as est�o quebradas e parte da fachada de madeira, deteriorada. Situa��o oposta � do passado, quando o endere�o exibia cl�ssicos mundiais e era ponto de encontro de jovens e adultos da regi�o. O filme de estr�ia foi King Kong (1933), com Fay Wray, Bruce Cabot e Robert Armstrong. “Aquilo era uma maravilha”, recordou Milton, o homem apaixonado por Ladainha.

O fim da linha n�o encerrou apenas as exibi��es no cinema. O �ltimo trem levou o progresso para longe. Muitos moradores deixaram a cidade. A popula��o de Ladainha encolheu de 21 mil habitantes na d�cada de 1960 para 17 mil, segundo o �ltimo censo (2010) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).

Os primeiros a se mandarem foram os pr�prios funcion�rios da Baiminas: a companhia transferiu muitos deles para uma estrada de ferro em Divin�polis, no Centro-Oeste do estado. Esse foi o destino de Milton, o ex-ferreiro. Ele ainda mora em Divin�polis e visita Ladainha uma vez por ano: “Deixei v�rios amigos aqui”.

Em julho passado, quando esteve l�, visitou o amigo H�lio Abrah�o, de 80, que mora num dos 50 im�veis que a ferrovia construiu para empregados e que deu origem � cidade de Ladainha. Seu H�lio adquiriu um deles depois que a linha foi desativada. Nele, criou 12 filhos. S� uma das mo�as continua ao lado do pai. Os demais foram para longe em busca de uma carteira de trabalho assinada. “N�o h� mais o progresso de antigamente, mas aqui � um lugar gostoso para morar”, garante H�lio, que hoje toma conta das chaves da capela de Nossa Senhora D’Ajuda, erguida tamb�m pela Baiminas.

SANFONA


Distante quase 200 quil�metros de l�, Nanuque tem outros im�veis erguidos pela ferrovia como moradia de trabalhadores. Aderito de Souza Moreno, de 72, comprou um deles depois que os trilhos foram arrancados. S�o as chamadas “casas de turma”, que eram erguidas a cada 10 quil�metros que a linha avan�ava.

Aderito, f� de boa prosa, viajou muito pelos trilhos para fazer o que mais gosta: tocar sanfona. “Eu fazia shows pela regi�o. Levava esse acordeon, de 80 baixos. Fui para Te�filo Otoni, Caravelas, Argolo... Minha inspira��o sempre foi Luiz Gonzaga (1912-1989). Conhece? Pena que tudo que � bom n�o � para sempre”, diz, referindo-se tanto � ferrovia quanto ao rei do bai�o.

(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)


DE UMA PONTA A OUTRA
Novo inquilino

Ladainha e Carlos Chagas - A antiga esta��o de trem agora abriga um posto da Pol�cia Militar, um bar e recebe �nibus que levam e trazem as pessoas de lugares longe. O pr�dio em que um dia as locomotivas da Baiminas paravam em Ladainha agora � o terminal rodovi�rio (foto) da pacata cidade. Duas empresas oferecem viagens para outros munic�pios de Minas, de Pernambuco, da Bahia e de S�o Paulo. Distante mais de 100 quil�metros, Carlos Chagas, outra cidade que experimentou o boom econ�mico no auge da Baiminas, teve sua esta��o f�rrea da linha  jogada ao ch�o. No lugar, foi erguido o f�rum do munic�pio (foto). O servidor municipal Jos� Silva, de 67, viajou muito nos vag�es: “Geralmente para visitar parentes em outras cidades. O trem tamb�m era de carga. Trazia e levava tudo quanto � tipo de alimentos”.


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