Se voc� gosta de uma comidinha bem temperada, � bom preparar o bolso. O pre�o dos produtos que d�o sabor aos mais variados pratos, como alho, cebola e at� mesmo as ervas como manjeric�o e salsinha, est� cada dia mais salgado. O quilo do alho, por exemplo, pode ser encontrado nas bancas de supermercados de Belo Horizonte por at� R$ 35. A cebola, entre R$ 8 e R$ 10. O quilo da cebolinha � vendido a R$ 20,90. O pre�o das iguarias chega a ser mais caro que o quilo da fraldinha, corte bovino que custa em m�dia R$ 16,08, e o do fil� de peito de frango, vendido a R$ 11,97. As ervas finas tamb�m s�o vendidas a pre�o de ouro. Cinquenta gramas de manjeric�o desidratado ou de or�gano s�o vendidos por R$ 3 no Mercado Central. O chimi churri, mistura de ervas finas de origem argentina, muito utilizada para temperar carnes, chega a custar R$ 50 o quilo.
A alta nos pre�os fez com que a aposentada Ivone Ara�jo, de 60 anos, mudasse os h�bitos de consumo das especiarias em casa. Antes da alta, ela comprava uma quantidade maior de alho, cebola, cebolinha e outras ervas finas e preparava potes de tempero que duravam meses. Com os pre�os mais altos, ela mudou a rotina e passou a fazer o tempero para apenas uma semana. “N�o d� para levar grandes quantidades, como antes, e variar no tempero. O pre�o do quilo do alho est� em torno de R$ 25 e o da cebola, R$ 8. Lembro que, no in�cio do ano, eu comprava pela metade do pre�o ou menos”, lamenta. Ivone afirma ainda que, para n�o perder o sabor da comida, tem investido em outras ervas, que saem a pre�os mais baixos que o alho. “Tento colocar um manjeric�o, uma cebolinha. Mas est� caro do mesmo jeito e n�o deixa o mesmo sabor”, diz.
Dono de uma loja especializada em temperos, Andr� Batista afirma que, em 18 anos de atua��o no com�rcio, nunca viu a cebola ser vendida a pre�o t�o alto. Segundo ele, h� dois meses o quilo da cebola chegou a ser vendido a R$ 15 e R$ 10. “Tivemos pouca oferta do produto nos �ltimos meses, e agora est� melhorando um pouco. O pre�o j� caiu, mas n�o acredito que caia mais que isso. Com a falta de chuvas, a produ��o diminuiu bastante e o pre�o de mercado funciona de acordo com a oferta e a demanda”, explica.
Segundo levantamento feito com dados das Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas), o pre�o m�dio no atacado pago pelo quilo de cebola no primeiro semestre deste ano, R$ 2,53, � 99,2% mais alto que em 2014, quando a iguaria custava R$ 1,27, em m�dia. Ainda segundo o levantamento, o pre�o do alho, este ano, est� 29,2% mais alto que no mesmo per�odo do ano passado, passando de R$ 6,36 para R$ 8,22. Em seguida no ranking dos maiores pre�os aparecem o manjeric�o, cujo quilo era vendido a R$ 8,60 e agora vale R$ 10,46, em m�dia, no atacado: alta de 21,6%. A cebolinha n�o fica para tr�s. Custava R$ 8,53 o quilo, e agora � vendida a R$ 10,17, alta de 19,23%.
A dona de casa S�nia Fonseca, de 59 anos, afirma que, antes de fazer as compras, faz uma pesquisa de pre�o nos principais supermercados. “O alho mais barato que encontrei foi a R$ 20 o quilo, mesmo assim ele n�o estava t�o bonito. A cebola n�o encontrei por menos de R$ 8. Tudo est� muito caro e, agora, at� o tempero est� mais salgado. � claro que a gente n�o usa muito, mas, mesmo assim, a diferen�a, no final da conta, � gritante”, comentou.
Propriet�rio da loja Rei do Alho, no Mercado Central, Cl�udio Miranda afirma que o pre�o do tempero s� tem aumentado desde o in�cio do ano. Antes do aumento, a loja trabalhava com um estoque de mais de 50 caixas de 10 quilos de alho. Hoje, o estoque n�o passa de 10 caixas. “Estamos comprando a caixa de alho por cerca de R$ 145 e a de cebola, por R$ 120. N�o lembro de pagar t�o caro assim h� muito tempo”, afirma. Cl�udio comenta que, mesmo com os pre�os altos, os mineiros n�o deixam de consumir os temperos e, por conta disso, a loja registrou no �ltimo m�s o maior faturamento dos �ltimos cinco anos. “N�o aumentamos as vendas, nem diminu�mos, mas, como est� mais caro, o faturamento aumentou”, comemora.
TEND�NCIAS
Segundo especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, a tend�ncia � que os pre�os continuem subindo por conta da redu��o da oferta do produto nacional e aumento da importa��o, o que traz ao pre�o o impacto da alta do d�lar. O alho � a iguaria que deve ter o pre�o mais afetado pelo c�mbio. Mesmo com uma safra para ser colhida a partir deste m�s, a produ��o nacional � insuficiente para atender a demanda e cerca de 60% do que � consumido no Brasil vem da China, Argentina e Espanha. Com a moeda norte-americana valorizada, o consumidor ter� de conviver com os altos pre�os nas g�ndolas dos supermercados. “A produ��o nacional � insuficiente para atender a demanda. A gente importa mais caro e esse aumento � repassado para o varejista, que repassa para o consumidor”, afirma o coordenador de informa��es de mercada da Central de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas), Ricardo Fernandes Martins.
No caso da cebola, mesmo que a colheita comece tamb�m neste m�s, os pre�os devem continuar no mesmo padr�o, segundo a coordenadora da assessoria t�cnica da Federa��o da Agricultura e Pecu�ria de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, j� que diminu�ram a �rea plantada e a produ��o do vegetal no estado. Em 2014, foram colhidas 171,5 mil toneladas de cebola no estado, que � o terceiro do pa�s em produ��o. Para esse ano a expectativa � colher 163,8 mil toneladas. “Al�m das condi��es clim�ticas desfavor�veis, com a crise h�drica, no ano passado, o pre�o da cebola n�o foi t�o atrativo para o produtor, que preferiu investir em outras culturas. Com a redu��o da oferta, mesmo no per�odo de safra os pre�os n�o devem sofrer altera��es”, afirma Aline.
FALTOU �GUA
O produtor e presidente do Conselho Regulador de S�o Gotardo – maior regi�o produtora de alho e cebola do estado –, Jorge Nobuhico Kiryu, afirma que houve quebra entre 10% e 15% na safra de alho e cebola deste ano por conta do clima at�pico e das dificuldades para promover uma irriga��o eficaz na lavoura. “Com a falta de produto para abastecer o mercado, o pre�o para o produtor costuma aumentar entre 10% e 20% e, claro, esse valor � tamb�m repassado para o consumidor final. Mas, quando h� oferta demais, o pre�o cai na mesma propor��o. Se hoje est� caro, pode ser que daqui a um m�s ou dois esteja muito mais barato. Depende de como o mercado vai se comportar”, lembra.