Oito homens assistiam � apresenta��o como exce��es na cerim�nia. No pequeno grupo, entre especialistas e pensadores americanos e europeus, o brasileiro era o �nico convidado vindo da Am�rica do Sul. Bem antes do an�ncio na Pra�a da Paz, ainda na d�cada de 60, ele j� acreditava que pa�ses como o Brasil e a China poderiam experimentar grande crescimento e produzir alta tecnologia.
Na hist�rica cerim�nia Deng Xiaoping anunciaria que, nos anos vindouros a China passaria por uma transforma��o radical e seria inserida na economia de mercado. Entre os oito, Ozires estava ali, a convite do austr�aco Peter Drucker, porque contribu�ra com ideias e experi�ncias para o ambicioso projeto chin�s. “Antes da proposta, Drucker me disse que vinha acompanhando meus depoimentos sobre a produ��o de avi�es no Brasil e comentou que eu corria um s�rio risco de ter sucesso”, lembra.
Filho do eletricista Arnaldo de Oliveira Silva e da dona de casa e costureira Helena Beldinanzi, ele se lembra das discuss�es em sua casa, quando o pai queria tir�-lo da escola aos 11 anos para ajudar nas despesas da fam�lia. “Minha m�e era contra, achava que eu devia continuar estudando.” O ensino m�dio foi feito na escola p�blica de Bauru, no interior de S�o Paulo, sua cidade Natal. Aos 17 anos, ele j� tinha uma f�brica de avi�es desenhada na cabe�a e, em busca do sonho, ingressou na For�a A�rea Brasileira (FAB). Alguns anos depois, graduou-se no Instituto de Tecnologia (ITA), com direito a medalha de ouro.
Conselho a Levy Quando o ministro Joaquim Levy assumiu o desafio de trazer o pa�s de volta ao crescimento, Ozires Silva disse pessoalmente a ele: “N�o cometa o crime de resolver o problema financeiro do pa�s cortando verbas da educa��o”. Assim, pergunto a Ozires se ele acredita no potencial do Brasil para superar a crise atual. Ele diz que sim, mas responde que estranha a popula��o n�o se pronunciar a respeito de temas como o corte de recursos para �reas essenciais. “O Minist�rio da Educa��o � um fracasso, convive com n�mero de analfabetos funcionais que se aproxima dos 70%. O Brasil est� muito preocupado em resolver a quest�o financeira, que � importante. Mas n�o � s� isso. E depois?”
Na semana passada, o reitor da Unimonte voou de S�o Paulo para Belo Horizonte – onde participou de palestra da A��o Brasileira pela Cidadania e Democracia (ABCD). Veio em um avi�o da Azul, fabricado no Brasil. Olhando o iPhone usado na entrevista, inven��o da Apple de Steve Jobs, ele diz que as ideias de fabricar produtos n�o nascem do governo, elas v�m das pessoas “que est�o por a�, mas que precisam estudar.”
O mineiro Jo�o Camilo Penna, ex-presidente da Cemig, Furnas e Eletrobras, foi contempor�neo de Ozires Silva em diversas ocasi�es. Quando ele esteve � frente da Embraer, Pena era ministro da Ind�stria e Com�rcio. Mais tarde, quando Ozires dirigia a Petrobras, em 1988, Camilo Penna estava presidindo Furnas. “Ozires Silva � um dos grandes brasileiros. Ele � brilhante, mas tem humildade. Fez um trabalho imenso para o Brasil, na cria��o da Embraer. � frente da Petrobras, mostrou compet�ncia e flexibilidade. Ele � respeitado no exterior e faz grande promo��o do Brasil. Um homem patriota, importante neste momento”, diz Penna.
Membro da ABCD, institui��o rec�m-criada que tem por objetivo propor solu��es para o pa�s sair da crise, Ozires diz que “o pa�s deve ser o que o povo deseja e n�o o que o governo quer”.
Ideias e ideais A primeira ideia que inspirou a cria��o da Embraer nasceu em um banco na pracinha de Bauru. Aos 14 anos, Ozires e seu amigo insepar�vel, Zico, sonhavam com o futuro e tentavam entender como levariam adiante a ideia da f�brica. Entusiasmado, o adolescente acabara de ler o livro do austr�aco Stefan Zweig, Brasil, pa�s do futuro e n�o tinha d�vida de que aqui seria o lugar para se produzir alta tecnologia e export�-la para o mundo. Conversando com um imigrante su��o, em Bauru, descobriu que teria que ser engenheiro, estudar muito para construir aeronaves. A partir da�, seu foco nunca mudou.
T�o logo chegou ao ITA, deu in�cio ao seu projeto de reunir pessoas em torno do sonho de desenvolver a avia��o regional no Brasil. “N�o foi f�cil, foram muitos n�os, muitos momentos dif�ceis.” Mais tarde, j� na d�cada de 90, ele tamb�m conduziria o processo de privatiza��o da empresa. “Confesso que tive medo de uma companhia estrangeira comprar a empresa, mas buscar a capitaliza��o nacional era a �nica forma de salv�-la.” A companhia � a terceira maior fabricante mundial de jatos comerciais.
O diretor-presidente da empresa, Frederico Curado, diz que a companhia n�o existiria sem Ozires Silva. “Foi ele quem liderou o time que conduziu o processo de cria��o da empresa, em 1969, e se tornou seu primeiro presidente. Depois, retornou para levar a Embraer de forma segura e est�vel � privatiza��o, em 1994.” Recentemente a companhia Azul batizou com o nome dele o jato E 195. “S� chegamos at� aqui pelo trabalho desenvolvido por essas pessoas”, comentou Gianfranco Beting, um dos fundadores da Azul.
Ozires Silva foi casado com Therezinha Silva, � pai de tr�s filhos e hoje acredita que as sete netas e seus dois bisnetos correm s�rio risco de puxar sua veia inovadora.