
O d�lar atingiu ontem o maior pre�o da hist�ria ao encerrar o dia cotado a R$ 4,054, uma alta de 1,83%. � a maior cota��o nos 21 anos do Plano Real – antes, o pico ocorreu em 10 de outubro de 2002, quando a moeda dos EUA, entre o primeiro e o segundo turnos das elei��es presidenciais, fechou a R$ 3,99. A crise pol�tica que assola o pa�s e as amea�as � execu��o do ajuste fiscal – com a possibilidade de derrubada de vetos pelo Congresso Nacional que aumentam as despesas p�blicas – levaram os investidores a buscar prote��o na divisa norte-americana. A falta de previsibilidade em rela��o � economia brasileira tamb�m levou a Bolsa de Valores de S�o Paulo (BM&FBovespa) a encerrar o preg�o em queda de 0,7%, aos 46.264 pontos.
A cota��o do d�lar turismo chegou a R$ 4,270. Nem mesmo as interven��es do Banco Central est�o freando a disparada da moeda dos Estados Unidos frente o real. Ontem, o BC n�o fez interven��es extras no mercado. Na segunda-feira, a autoridade monet�ria havia promovido leil�es de linha (venda de d�lares com compromisso de recompra) de at� US$ 3 bilh�es, que contiveram a alta do d�lar por apenas quatro minutos.
No mercado, os analistas temem que a poss�vel eleva��o de gastos do Executivo tenha como consequ�ncia o rebaixamento da nota de cr�dito do pa�s por mais uma ag�ncia de classifica��o de risco. Caso isso ocorra, haver� uma fuga de capitais para mercados maduros, e a moeda estrangeira encarecer� ainda mais. Os brasileiros sentir�o no bolso essa alta do d�lar na hora de viajar para outros pa�ses ou at� mesmo quando forem � padaria comprar um p�o. O trigo, mat�ria-prima para fazer o p�o franc�s, subir�, em m�dia, 5% e isso ser� repassado aos consumidores.
Em meio �s incertezas pol�ticas, o real j� desvalorizou 52,6% em rela��o ao d�lar desde o in�cio do ano. Essa deprecia��o s� � menor do que a do rublo, moeda oficial da R�ssia, que j� perdeu mais de 60% do valor ante a divisa norte-americana. Sem a certeza de que o pa�s conseguir� executar os ajustes para equilibrar as contas p�blicas, os agentes econ�micos preferem comprar a moeda estrangeira para se proteger do que investir diretamente no Brasil.
Dados do Banco Central comprovam que n�o h� falta de d�lares no pa�s. De janeiro a agosto, o fluxo cambial � positivo em US$ 11,2 bilh�es e nos primeiros 18 dias de setembro, de US$ 383 milh�es. O gerente de C�mbio da Fair Corretora, M�rio Batistel, explicou que h� oferta da moeda norte-americana na economia brasileira, mas as incertezas em rela��o ao futuro levam os investidores a desconfiar d� capacidade do governo de ajustar as contas p�blicas para tornar o pa�s atrativo para receber investimentos.
“O pre�o do d�lar est� totalmente atrelado ao cen�rio de crise pol�tica. Sem previsibilidade para os pr�ximos meses, os investidores montam posi��es em d�lar para se proteger de qualquer problema maior. Nesse ambiente, o mercado toma uma posi��o defensiva. Todos temem que ocorra uma ruptura maior, que levar� o pa�s para o buraco”, comentou. Os investidores agora v�o na dire��o oposta � que o ent�o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pregava em outubro do ano passado. “Vai quebrar a cara quem apostar na alta do d�lar”, disse ele quando a cota��o comercial da moeda dos EUA estava em R$ 2,43.
Efeitos Na opini�o do s�cio da Rosenberg Partners Marcos Mollica, al�m da crise pol�tica, o mercado questiona a capacidade do governo de executar as medidas anunciadas para equilibrar as contas p�blicas. Conforme ele, poucos cortes de despesas foram anunciados e o ajuste passa pelo aumento de receitas por meio do aumento de tributos. “H� uma preocupa��o com a falta de �ncora fiscal”, disse. Para Mollica, o encarecimento do d�lar aumentar� as press�es inflacion�rias nos pr�ximos meses.
Na opini�o dele, se nos �ltimos meses os repasses da alta da divisa norte-americana para os pre�os foram moderados em meio � recess�o econ�mica, a tend�ncia � de que aumentem daqui para frente. “Se o d�lar permanecer nesse patamar, os empres�rios ter�o que reajustar os valores de mercadorias e servi�os. E o BC ser� obrigado a aumentar juros, porque h� um efeito carregamento para o pr�ximo ano”, destacou. O economista-chefe da GO Associados, Alexandre Andrade, afirmou que a tend�ncia � de que o d�lar termine o ano pr�ximo de R$ 4 e que em 2016 ultrapasse esse patamar em virtude da crise pol�tica.
An�lise da not�cia
Inje��o direta na taxa de infla��o
Marc�lio de Moraes
Mais do que encarecer as viagens ao exterior, a disparada do d�lar vai pesar no bolso de todos os brasileiros. � uma inje��o direta na taxa de infla��o do pa�s no curto prazo, capaz de anular a desacelera��o provocada pela redu��o dos pre�os dos alimentos. Com a economia desaquecida, o repasse da alta da moeda dos Estados Unidos para os pre�os internos n�o ser� imediato, mas ser� inevit�vel. Do trigo importado aos componentes eletr�nicos para os mais diversos aparelhos, passando pela gasolina, o Brasil ampliou nos �ltimos anos o grau de inser��o dos importados na sua economia e o pre�o a ser pago vir� agora. Com forte influ�ncia da crise pol�tica e sem sinais claros de que ela se dissipar�, o d�lar seguir� sua trajet�ria de alta. J� h� quem aposte que ele chegue a R$ 4,50. Ben�fica para as exporta��es, uma cota��o nesse patamar vai ser danosa para a grande parte da sociedade brasileira.