
Em tempos de or�amento apertado, o h�bito do consumidor de reciclar aquela roupa que j� n�o vinha sendo usada com frequ�ncia ganha for�a na troca do figurino e aos poucos mais brasileiros abandonam o preconceito de comprar pe�as usadas. Sorte para o com�rcio de usados, os populares brech�s, agora estimulados, a despeito da crise econ�mica por que passa o pa�s. Dados do Servi�o Brasileiro de Apoio �s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostram aumento, desde janeiro, de 8% do n�mero de empresas que vendem artigos usados. A expans�o � observada tanto no ambiente das lojas f�sicas quanto no mundo da internet. Segundo levantamento da Loja Integrada – plataforma para cria��o de lojas virtuais –, o universo de empreendimentos que comercializam itens usados cresceu 54% neste ano, em rela��o aos registros de 2014.
“Ganham o empreendedor que ter� investimento inicial praticamente nulo e o consumidor, que poder� comprar um bom produto por um valor cerca de 80% mais acess�vel”, afirma Wilsa Sette, coordenadora nacional de Varejo da Moda do Sebrae. Ela destaca que a procura de profissionais por t�cnicas para tornar o neg�cio mais competitivo no ramo subiu nos �ltimos anos. Tanto � assim que o com�rcio varejista de artigos usados brasileiro avan�ou 210% nos �ltimos cinco anos em n�mero de pequenos neg�cios, que passaram de 3.691 em 2007 para 11.469 em 2012. Os pequenos empreendimentos s�o classificados com faturamento at� R$ 3,6 milh�es por ano.
“� um mercado que se movimenta bastante, as pessoas podem trabalhar da pr�pria casa”, diz Wilsa Sette. “O neg�cio tamb�m chama a aten��o por causa do crescente interesse em pr�ticas de p�s-consumo e conscientes”, completa. Em dezembro de 2014, havia 13,1 mil empresas do ramo em funcionamento no Brasil, n�mero que evoluiu para 14,1 mil em 17 de outubro, sendo 1.623 empresas em Minas Gerais. H� 12 anos no mercado de usados, Raquel Fernandes, dona do Brilhantina Brech�, na Savassi, contabiliza crescimento de 8% a 15% ao ano.
“As pessoas compraram muito no passado com o cr�dito mais f�cil e, agora, querem vender e recuperar o que gastaram”, diz a empreendedora. Para fidelizar a clientela num cen�rio de apelo � sustentabilidade do meio ambiente e necessidade de economizar, Raquel aposta em pe�as exclusivas e garimpadas no exterior a pre�os acess�veis. “Os brech�s ajudam a movimentar a economia num momento em que � importante usar a criatividade para consumir”, afirma.
Para Filipe Belmonte, especialista em com�rcio eletr�nico da �rea estrat�gica da Loja Integrada, a busca por uma fonte de renda extraordin�ria faz esse movimento aumentar m�s a m�s. “Diante da crise, fica o receio de adquirir um produto novo e as pessoas partem para o usado, que � mais vantajoso para quem busca economia”. Somente neste ano, segundo a empresa, o faturamento de lojas virtuais que comercializam produtos usados aumentou 375% em rela��o ao mesmo per�odo do ano passado. “� um volume que nos impressiona. As lojas est�o se especializando no e-commerce de nicho, que tem potencial de crescimento”, observa Belmonte.
Com�rcio eletr�nico No pa�s, o com�rcio de produtos usados cresce na esteira de um setor que movimentou R$ 39,5 bilh�es no ano passado, alta nominal de 22% na compara��o com 2013, de acordo com a Associa��o Brasileira de Com�rcio Eletr�nico (ABComm). Para 2015, a expectativa � de alta de 22% em rela��o a 2014, num total de R$ 48,1 bilh�es. “Em tempos de crise, o e-commerce ainda consegue se beneficiar da percep��o do consumidor de que comprar on-line � sempre mais barato”, observa Mauricio Salvador, presidente da ABComm.
As empresas v�em potencial ainda para expans�o do neg�cio, j� que milh�es de brasileiros acessam a internet sem nunca terem feito uma �nica compra on-line. “Em 2015, ser�o quatro milh�es comprando pela primeira vez na internet. Esses dois fatores oxigenam o setor e reduzem o impacto da crise”, diz Maur�cio Salvador.A publicit�ria Tha�s Veneroso conta que j� comprou muitas vezes em brech�s virtuais, mas que d� prefer�ncia para pe�as novas. “A vantagem � que esses sites tamb�m vendem pe�as novas pelo pre�o de usada. �s vezes, o vendedor usa apenas uma vez ou nem chega a usar. Vale a pena”, garante.

Espa�o para neg�cio crescer
De olho num mercado de grande potencial, surgem mais sites que apostam no com�rcio virtual com canais e metodologias simples, mas, ao mesmo tempo, interativas. Basta fotografar, detalhar o produto, postar e esperar as propostas.
“Os produtos que s�o listados n�o s�o apenas itens de venda. Todos eles t�m sua hist�ria. � poss�vel sentir e perceber que, por tr�s da imagem, existe calor humano e uma emo��o”, detalha Juliana Perlingiere, diretora de Planejamento Estrat�gico e Marketing do Enjoei, site que prega o desapego, com mais de 1,5 milh�o de clientes cadastrados.
As fotos s�o produzidas pelos usu�rios, o que torna a experi�ncia de navega��o algo �nico, com um elemento “surpresa”, de acordo com a executiva. Com crescimento sustent�vel ano a ano, Juliana conta que o investimento anjo inicial para formalizar o neg�cio foi de R$ 300 mil em 2012 . “Em 2013 e 2014 recebemos fundos direcionados para alavancar o crescimento, somando um valor total de R$ 22 milh�es”, afirma. As irm�s Gabriela e Daniela Carvalho, por sua vez, tamb�m colhem os frutos de um atraente mercado de consumo. H� quatro anos e meio, elas criaram o Peguei Bode, site de vendas on-line de pe�as seminovas. Mais conhecido por oferecer marcas de grife, a plataforma conta hoje com 30 mil clientes cadastrados.
“A crise n�o nos atingiu; pelo contr�rio, estamos na contram�o dela, vendendo pe�as mais baratas que aquelas oferecidas pelas lojas f�sicas", diz Gabriela Carvalho. Segundo Leandro Soares, diretor de Marketplace do MercadoLivre Brasil, produtos usados s�o significativos dentro da plataforma de vendas on-line. No primeiro semestre deste ano, o aumento do com�rcio desses produtos foi de 145%, comparado ao mesmo per�odo de 2014.Na empresa OLX, o volume de vendas cresceu 37% de mar�o a agosto, informou seu presidente Andries Oudshoorn.
O executivo observa que recente pesquisa do Ibope indicou que, em m�dia, os brasileiros – com mais de 16 anos – t�m mais de R$ 1,8 mil em produtos usados em casa que poderiam ser comercializados pela internet. “Isso equivale a um potencial financeiro de R$ 105 bilh�es em vendas de usados, o que � mais de tr�s vezes o mercado de e-commerce no pa�s em 2014", ressalta.
Todo o cuidado � pouco
Toda compra exige cuidados para evitar dor de cabe�a e golpes. A coordenadora do Procon de Belo Horizonte, Maria L�cia Scarpelli, alerta que, por se tratar de um produto usado, o consumidor n�o pode exigir a troca em raz�o de defeitos que n�o comprometerem o seu funcionamento. Segundo ela, antes de comprar, � preciso testar o produto, em caso de itens eletr�nicos, e avaliar os defeitos, que s�o pass�veis de ocorrer. “Geralmente, itens de segunda m�o n�o costumam ter garantia ou possibilidade de troca”, explica.
Nas compras feitas pela internet, a aten��o deve ser redobrada. No ambiente virtual, a venda de itens usados � permitida, desde que os produtos n�o sejam pirateados. “O lojista deve descrever a proced�ncia da mercadoria, o tempo que ela foi utilizada, quais s�o suas principais fun��es e evitar comercializar produtos com defeitos, quebrados ou com pre�o igual ou superior � mercadoria nova”, conclui Adriano Caetano, especialista em com�rcio eletr�nico e diretor da Loja Integrada.
