
A chegada do d�lar a R$ 4 pode ser s� come�o, como prev� o editor da Moneyou e economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira. Segundo ele, a tend�ncia � de que a moeda norte-americana se mantenha nesse patamar, por�m, com pico de R$ 4,30 no decorrer do ano. “Fatores como a sa�da de dinheiro do Brasil, com a falta de confian�a no pa�s, s�o um dos motivos para essa varia��o. Estamos vivendo um momento de incerteza, o que espanta os investidores e a entrada de d�lar”, afirma o especialista, acrescentando que os conflitos no mundo, como a tens�o entre o Ir� e Ar�bia Saudita, tamb�m influenciam na valoriza��o da moeda.
A preocupa��o com os rumos da economia chinesa, locomotiva mundial do consumo e, ontem, a declara��o da Coreia do Norte de que realizou, com sucesso, seu primeiro teste com bomba de hidrog�nio s�o tens�es que levam os mercados a procurarem ativos considerados mais seguros – como o d�lar – fazendo a cota��o da moeda subir. Por aqui, o impacto � inevit�vel. Al�m da alta do c�mbio, a crise econ�mica brasileira tem deixado empres�rios arredios e com receio sobre como vai ser 2016.
“Esse impacto do d�lar � uma inje��o na veia. O trigo usado na panifica��o consumido no Brasil � quase todo importado. Por isso, a desvaloriza��o do real � algo completamente danoso para a ind�stria”, comenta o presidente da Associa��o Brasileira da Ind�stria de Panifica��o, Jos� Batista de Oliveira. Segundo ele, o pre�o do p�o est�, em m�dia R$ 12 o quilo e a previs�o da entidade � de que, com os custos mais altos, as padarias repassem at� 11% de aumento aos clientes. J� a Associa��o Brasileira da Ind�stria de Massas, Biscoitos, Bolos e P�es Industrializados estima que haja um reajuste de 12% nesses produtos.
O impacto � grande e h� outros componentes que pesam no caixa dos empres�rios, como a energia el�trica, que � um dos maiores custos na panifica��o. O insumo encareceu 51% em 2015, al�m do aumento do sal�rio da m�o de obra. Diante desse cen�rio, as empresas alegam que o reajuste � inevit�vel. “Mat�ria prima, energia el�trica e m�o de obra s�o os maiores custos para o setor”, justifica.
Irani Magalh�es, dono da padaria Pedro Padeiro, no Bairro Santa Tereza, sabe bem o que isso significa. Ele conta que o pre�o da farinha de trigo subiu sistematicamente no �ltimo ano e, com a varia��o cambial, praticamente toda semana ele paga um valor novo pelo insumo. “Para se ter uma ideia, de julho at� dezembro, houve aumento de 20% no pre�o do trigo. H� um ano, estamos segurando o pre�o do quilo do p�o em R$ 13, 67. Mas, a nossa conta de energia passou de R$ 4 mil para R$ 10 mil, e este m�s, temos o diss�dio coletivo dos trabalhadores”, comenta Magalh�es. Ele diz que em 22 anos no ramo, nunca atravessou fase t�o tenebrosa.

O c�mbio a R$ 4 tamb�m n�o � o �nico vil�o para empres�rios de outros setores. Al�m da alta da moeda, tributos tamb�m aumentaram nos �ltimos meses, lembra Andr� Martini, um dos s�cios da Casa do Vinho. Ele diz que, com o d�lar variando desde o ano passado, conseguiu manter estoque de bebidas, o que ajuda a enfrentar as poss�veis novas altas da moeda em 2016. No entanto, o maior impacto � o novo modelo de tributa��o para vinhos, espumantes, u�sques, vodcas, entre outras.
“Desde 1º de dezembro, passaram a valer as novas al�quotas do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), que variam de 10% a 30% sobre o pre�o da garrafa na ind�stria ou importador”, destaca Martini. Al�m disso, pesa a al�quota do Imposto de Circula��o de Mercadorias e Servi�os (ICMS) sobre bebidas (exceto cacha�a), de 27%. “� impressionante o volume de tributos que os governantes est�o impondo ao com�rcio e tudo isso vai impactar no valor final dos produtos. O impacto do IPI � maior que o c�mbio e n�o vemos nenhum incentivo governamental para tentar alavancar os neg�cios”, critica.
IND�STRIA
O chefe do Departamento de Economia da Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Le�o, explica que a desvaloriza��o do real tem efeitos diferentes na ind�stria e depende das estrat�gias de cada empresa. “Uma desvaloriza��o forte como essa � mais prejudicial para a economia como um todo do que para um setor espec�fico. Para a economia h� um agravante de pressionar a infla��o, as empresas, principalmente aquelas com d�vidas em d�lar, sofrem mais”, avisa.
Le�o aponta que empresas que exportam produtos se beneficiam neste momento, como o segmento de celulose. “J� uma companhia a�rea que tem toda a estrutura e investimento em d�lar, com despesas como combust�vel e manuten��o das aeronaves tem as receitas prejudicadas”, diz, apontando que os setores que tendem a sofrer mais agora s�o a de eletroeletr�nicos, tecnologia da informa��o e ve�culos automotores, que s�o �reas extremamente dependentes do c�mbio. “As ind�strias que podem se beneficiar s�o a de extrativismo mineral, o segmento de alimentos que tem uma parcela voltada para a exporta��o, al�m da metalurgia. Para esses n�o � s� pela exporta��o, com a desvaloriza��o do real, esses setores ganham parte do mercado”, diz.
Enquanto isso...
...Fluxo cambial � positivo
Mesmo em um ano de desconfian�a pol�tica e de indicadores ruins da economia, que levaram o Brasil a perder o selo de bom pagador por duas ag�ncias de classifica��o de risco, o fluxo cambial total de 2015 ficou positivo em US$ 9,414 bilh�es. O resultado � o melhor para o pa�s desde 2012, quando o volume de entradas de d�lares superou o de sa�das em US$ 16,753 bilh�es. Nos dois �ltimos anos, o envio de recursos foi maior do que os ingressos. Em 2014, o resultado ficou negativo em US$ 9,287 bilh�es e, em 2013, em US$ 12,261 bilh�es. De acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central, a �rea financeira pode ser avaliada como o lado ruim dessa conta, assim como j� havia ocorrido em 2014.