Em dezembro, de acordo com o IBGE, houve uma alta de 0,96% – o mais alto �ndice em 13 anos, quando o IPCA do per�odo chegou a 2,10%. Diante desse cen�rio no pa�s, de estouro do teto da meta do governo de 6,5% para a infla��o, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, tem que se explicar em carta para o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Na explica��o do BC, deve haver uma descri��o detalhada das causas do descumprimento da meta inflacion�ria, as provid�ncias para assegurar o retorno da infla��o aos limites estabelecidos e o prazo para qual se espera que essas medidas produzam efeito.
Na quarta-feira, a presidente Dilma disse que seu objetivo para 2016 � a infla��o n�o ultrapassar o teto da meta de 6,5%. Ontem, com os �ndices divulgados, especialistas reconhecem que essa promessa de Dilma ser� um grande desafio. De acordo com o IBGE, o �ndice de 2015 � reflexo das altas do primeiro trimestre. “Nesse per�odo, houve uma concentra��o forte nas contas das pessoas. Esses aumentos fortes se alastraram ao longo do ano, como foi a energia el�trica, que impactou na alimenta��o fora de casa, nas produ��es e, com isso, os pre�os aumentaram”, comentou a coordenadora do IPCA, Eulina Nunes. Ela ressaltou ainda que o d�lar, que chegou a R$ 4,14 em setembro, tamb�m teve pesou na alta do �ndice, elevando os pre�os de muitos produtos, entre eles, os de limpeza.
NA TOMADA O maior impacto para a infla��o oficial do pa�s partiu da energia el�trica e dos combust�veis. A conta de luz do consumidor brasileiro ficou, em m�dia, 51% maior em 2014. Em Belo Horizonte e regi�o metropolitana foi de 41,85%. As cidades com maiores altas foram S�o Paulo e Curitiba, com reajustes de 70,97% e 69,22%. A gasolina na capital mineira e na Grande BH aumentou em 21,81%, e o etanol subiu para 23,42% em rela��o a 2014.
Pelo c�lculo do IBGE, a infla��o em BH (9,22%) foi a mais baixa entre as 13 capitais pesquisadas, o que, segundo o economista Ant�nio Braz, do IBGE em Minas, n�o � garantia de pre�os em baixa nos pr�ximos meses. “Por sorte ficou menor, mas neste m�s de janeiro na capital mineira h� muitos aumentos que v�o impactar no pr�ximo �ndice”, comenta. Como exemplo, ele cita o aumento das passagens de �nibus, que ocorreu em dezembro em BH e em outras capitais. Em BH, na maioria das linhas, a passagem passou de R$ 3,40 para R$ 3,70 (alta de 8,82%).
Em rela��o aos alimentos e bebidas, que tamb�m pesaram no bolso este ano, com alta de 9,69% no acumulado do ano na Grande BH, Ant�nio Braz explica que especialmente os alimentos sofrem varia��es por causa de quest�es clim�ticas. “Eles j� pressionam o �ndice de pre�o h� alguns anos. Tem ano que o vil�o � o tomate, outro � o lim�o e por a� vai”, afirma. Este ano, o alho, com alta de 49,17% foi o produto com maior aumento na Grande BH.
CAPITAL CARA Considerando somente a cidade de Belo Horizonte, a infla��o est� acima da registrada no pa�s, conforme dados da Funda��o Ipead. No acumulado do ano, segundo a funda��o, o �ndice de Pre�os ao Consumidor (IPC) a capital mineira registrou alta de 11,28%. Segundo a coordenadora de pesquisa do Ipead, Thaize Martins o �ndice � o maior registrado na s�rie hist�rica desde 1995, quando a infla��o foi de 24,4%. “Ao longo de 2015, a cada m�s houve uma alta. Diferentemente da metodologia do IBGE, consideramos apenas a cidade de BH, onde h� itens que n�o tem na Grande BH, como o Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). Assim, observamos que, em BH, de janeiro a junho, j� havia ultrapassado a meta do governo, a alta estava em 6,68%”, recorda Tha�ze.
A maior contribui��o para alimentar o drag�o na capital foi a energia el�trica. Segundo o Ipead, somente em BH, houve uma alta de 38,02%, o que, segundo ela, impactou no pre�o da alimenta��o fora de casa, que aumentou em 10,02%. O item foi o que mais contribuiu quando analisado o grupo aliment�cio. “Os custos do estabelecimento, com m�o de obra, energia el�trica, aluguel e condom�nio foram repassados aos consumidores”, esclarece.
SEM AL�VIO A coordenadora do Ipead avisa que vir�o altas para o m�s de janeiro, principalmente, de produtos administrados, como combust�vel – conforme mostrou o Estado de Minas esta semana, a gasolina pode chegar a R$ 4 ainda este ano em BH. “� preciso haver alguma queda nos pre�os, mas por enquanto, estamos vendo o contr�rio. Vai subir a tarifa do �nibus, gasolina, educa��o e impostos. No ano passado, o plano de sa�de aumentou em 15%, o que n�o � comum. Tudo isso foi fazendo a infla��o ficar mais dif�cil de ser controlada”, aponta. O Ipead mostrou tamb�m que, no acumulado do ano, a cesta b�sica sofreu um aumento 18,28% em BH, fechando o ano representando 48,96% do sal�rio m�nimo. O custo da cesta em dezembro foi de R$ 385,78 na capital.
A amea�a do descontrole
Marc�lio de Moraes
Erraram os que apostaram, dentro e fora do governo, que um pouco de infla��o justificaria o rescimento econ�mico. O pa�s n�o cresceu, pelo contr�rio, encolheu, e o custo de vida disparou. O Brasil hoje vive o que os economistas chamam de estagfla��o: recess�o (o PIB vai cair mais de 3%) associada � infla��o o IPCA passou de 10%). Mas o risco maior, neste momento, � a volta da espiral inflacion�ria vivida na d�cada de 1980 e que deveria n�o assustar mais. O risco ocorre porque sal�rios, pre�os p�blicos (energia, combust�veis, transporte etc) e tarifas como alugu�is s�o indexados (corrigidos pela infla��o). Com isso, a infla��o passada alimenta novos aumentos de pre�o, num ciclo vicioso. O desemprego em alta e a economia desaquecida devem conter reajustes, mas n�o afastam o risco de o pa�s ter mais um ano com infla��o alta corroendo a renda e apertando o or�amento das fam�lias.
Impacto forte na baixa renda
A infla��o da parcela mais pobre da infla��o, medida pelo �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor (INPC), foi mais cruel do que a dos mais ricos. O indicador da carestia para as fam�lias que ganham at� cinco sal�rios m�nimo saltou 11,28% em 2015, puxado pelos alimentos, que tiveram alta de 12,36% no ano passado, e pela energia el�trica, que avan�ou 68,95%.
A popula��o de baixa renda tamb�m perdeu poder de compra em rela��o � cesta b�sica, que subiu, em m�dia, 17,64% nas 18 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos (Diesse) no ano passado. Com isso, o trabalhador remunerado pelo sal�rio m�nimo dispendeu 101 horas e 11 minutos de sua jornada de trabalho de dezembro para conseguir comprar os alimentos essenciais no m�s.
As altas de pre�os mais expressivas foram registradas em Salvador (23,67%), Curitiba e Campo Grande (ambas com eleva��es de 22,78%), Aracaju (20,81%) e Porto Alegre (20,16%). As menores varia��es ocorreram em Goi�nia (11,51%) e, por �ltimo, Manaus (11,41%).
Levando em conta apenas o m�s de dezembro, a constata��o do Dieese tamb�m � de alta em todas as cidades. No m�s passado, as maiores eleva��es ocorreram em Bel�m (7,89%), Florian�polis (5,68%) e Fortaleza (5,58%).