
A quest�o central nos munic�pios que t�m alta depend�ncia da renda e do emprego gerado por um �nico neg�cio ou empresa � o tema da terceira reportagem da s�rie “Cidades dependentes”, que o Estado de Minas publica desde domingo. Ha iniciativas que tentam dar um passo adiante, na esperan�a de sair da sombra. Diversificar, no entanto, n�o � uma medida simples, e sim uma busca contra a tend�ncia do capital, que tende a se concentrar.
Com o futuro de m�dio prazo amea�ando a sustentabilidade, S�o Gon�alo deu um passo importante para fugir de uma esp�cie de sina anunciada, que pode condenar a cidade ao abandono a m�dio prazo. Em 2010, o munic�pio criou um minidistrito industrial, que come�ou com 42 mil metros quadrados e em cinco anos j� multiplicou a �rea, alcan�ando 211 mil metros. Na vizinhan�a, um segundo distrito foi implementado e tem o dobro do tamanho do primeiro empreendimento. A proposta � uma a��o para tentar diversificar a economia local, drama que, em Minas, pode atingir cerca de 100 cidades, que vivem ref�ns de uma �nica atividade econ�mica.
Para atrair ind�strias, a Prefeitura de S�o Gon�alo do Rio Abaixo n�o economizou nos benef�cios, oferecendo isen��o de impostos, �rea por 30 anos e, no in�cio do projeto, chega a fornecer tamb�m o galp�o. Os benef�cios fiscais valem por 10 anos. “Nossa perspectiva � de que 21 empresas se instalem em S�o Gon�alo, seis j� est�o funcionando e outras cinco v�o ser inauguradas neste ano”, diz Breno Starling, secret�rio municipal de Desenvolvimento Econ�mico.

O fantasma da depend�ncia, como um domin�, atinge o emprego, derruba as vendas do com�rcio e a presta��o de servi�os. No ano passado, a arrecada��o prevista em R$ 330 milh�es caiu para R$ 240 milh�es com a derrubada dos pre�os do min�rio de ferro no mercado internacional. Neste ano, a perspectiva � de uma queda de outros 25% na receita do munic�pio, onde cerca de 90% do que entra no caixa est�o ligados � Samarco.
F�brica fechada Ouro Preto, que j� tem sua receita baseada em mais fontes de arrecada��o – al�m da minera��o de ferro, conta com os servi�os gerados em torno da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e o turismo –, enfrentou h� dois anos o drama do desemprego, com o fechamento da f�brica de alum�nio prim�rio da Novelis, sucessora da Alcan. Os pr�dios que abrigaram a produ��o durante 80 anos e que mantinham, no fim de 2014, cerca de 800 empregos diretos e indiretos resistem ao tempo e animam representantes da Frente em Defesa de Ouro Preto envolvidos num projeto para dar destina��o aos im�veis.
Segundo o diretor do sindicato local dos metal�rgicos, Roberto Wagner de Carvalho, ideia � adequar os galp�es � implanta��o de pequenas empresas, formando uma esp�cie de arranjo produtivo de empreendedores. “Trabalhamos com a possibilidade de incentivar a economia criativa. Ouro Preto enfrenta a falta de empregos. Come�amos a elaborar o projeto para uso das instala��es industriais, que ser� apresentado ao governo estadual”, afirmou. A elabora��o da proposta dever� se estender por cerca de seis meses.
Em janeiro do ano passado, a Novelis firmou acordo com o sindicato prevendo indeniza��es em valor aproximado de R$ 22,2 milh�es aos trabalhadores. Como parte do acordo, a empresa anunciou que financiaria um estudo sobre as voca��es da economia de Ouro Preto para servir como ponto de partida da atra��o de neg�cios.
Investimento Resultados surgem em S�o Gon�alo do Rio Abaixo. Instalada em uma �rea de 31 mil metros quadrados, a Citr�leo, f�brica especializada em �leos essenciais, chegou � cidade em 2012, atra�da pelos benef�cios fiscais, pela oferta do terreno no Distrito Industrial 2, onde a planta foi instalada, e pela proximidade da candeia, principal mat�ria-prima. A empresa gera 47 empregos diretos, sendo 24 no munic�pio. O gerente-geral Michel Luis Pimenta conta que no per�odo de tr�s anos foram feitas tr�s amplia��es. “Come�amos produzindo 500 quilos de �leo por m�s, hoje s�o duas toneladas.” Segundo Pimenta, o que fez a empresa optar por S�o Gon�alo, entre outros tr�s pontos que estavam sendo avaliados, foram os atrativos do distrito industrial.
Mem�ria
Bairro fantasma
Como uma cidade-fantasma o Bairro de Saramenha em Ouro Preto abriga o que restou da f�brica de alum�nio prim�rio que funcionou no local durante 80 anos. Ao fim de 2014 empregava cerca de 350 trabalhadores do quadro direto e mantinha ao redor de 450 empregos em empresas prestadoras de servi�os, na estimativa do sindicato local dos metal�rgicos. Sucessora da antiga Alcan, a multinacional Novelis, pertencente ao grupo indiano Aditya Birla, iniciou em dezembro de 2014 o processo de paralisa��o de fornos. Comunicado divulgado pela companhia em outubro daquele ano informou que a suspens�o das atividades era irrevers�vel, diante da crise que os fabricantes de alum�nio prim�rio enfrentavam, com baixa da produ��o devido aos altos custos, principalmente da energia el�trica, maior despesa nas f�bricas.
Esfor�o para fortalecer a cadeia setorial
Ciente do poder que a ind�stria tem de alavancar uma cadeia de fornecedores e prestadores de servi�os, al�m do peso da atividade em pequenos munic�pios do interior, a Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (Fiemg) est� trabalhando num programa para melhorar a capacidade desses setores considerados essenciais para o desenvolvimento regional. Outro ingrediente que n�o poderia ser esquecido � a crise da economia brasileira, com seus efeitos sobre a atividade. A proposta � fortalecer as ind�strias que s�o importantes em cada regi�o do estado, de acordo com Simone Porto Cavalcanti, gerente de Projetos Coletivos para a Ind�stria da Fiemg.
“Sem o olhar de que todos t�m de ser iguais, trabalhamos no mapeamento da ind�stria em cada regi�o, com �nfase na din�mica do setor de atividade. Como dizia Guimar�es Rosa, Minas s�o muitas”, afirma Simone Porto. Batizado de Programa de Competitividade Industrial Regional (PCIR), o projeto mapeou 21 setores que mais dinamizam as diversas regi�es de Minas. Informa��es completas sobre esse mapeamento j� est�o dispon�veis na internet num portal virtual do programa. Em mar�o, a Fiemg vai entregar planos de desenvolvimento industrial em cada regi�o.
Em S�o Gon�alo do Rio Abaixo, o secret�rio municipal de Desenvolvimento Econ�mico, Breno Starling, espera que, dentro de dois anos, o distrito industrial da cidade j� responda pela gera��o de 1 mil empregos em atividades que v�o da constru��o civil � extra��o de �leo de candeia e fabrica��o de doces. Ele conta que o processo de atra��o das empresas � promissor, mas n�o tem sido f�cil. A crise atropelou os projetos, atrasou investimentos e empresas, como a Petropasy, especializada em tubos para minera��o, que chegaram a se instalar no local foram embora deixando para tr�s investimentos e desempregados.
A paulista Petropasy tinha como meta gerar 250 empregos, mas longe de atingir o objetivo, acabou deixando para tr�s 30 desempregados. A an�lise de investimentos e a contrapartida que as empresas t�m para oferecer ao munic�pio � outro desafio da diversifica��o.
Organiza��o Mariana tenta atuar em duas frentes. A primeira delas � por meio do fomento ao empreendedorismo local, na gera��o de renda. Duarte Junior, prefeito de Mariana diz que a sa�da para as cidades mineradoras � se organizar para se proteger de crises profundas. Um come�o para Mariana pode ser o investimento em f�brica de materiais para constru��o, com a fabrica��o de 39 produtos a partir dos rejeitos da minera��o. “O rompimento da barragem da Samarco nos machucou mas tamb�m nos ensinou que precisamos nos defender.” Mariana busca a m�dio prazo ter uma alternativa para sua economia. A tarefa n�o � f�cil e o drama � vivenciado de Norte a Sul do estado.