No ano de 2006, Reinilda Maria dos Santos e Silva tinha 35 anos e estava desempregada com um filho de apenas 4 anos. Mineira da cidade de Jana�ba, mudou-se jovem para Santo Andr� (SP), em busca de vida melhor, mas ficou desamparada, depois que o marido foi preso.
“Cheguei a um ponto de meu filho me pedir leite e s� ter �gua para dar a ele. Fui na assist�ncia social e pedi ajuda. Eles me deram R$ 50. Com R$ 40 comprei alimentos para o meu filho. Com os R$ 10 que sobraram comprei uma barra de chocolate, uma farinha e fiz p�es de mel para vender na rua por R$ 0,99. Vendi tudo e voltei para casa com R$30”, conta.
Da� em diante, Reinilda n�o parou mais. Comprou revistas para aprender novas receitas e variou a oferta. “Foram dois anos de luta, vendendo os doces de porta em porta, nas feiras, e com meu filho a tiracolo. Passei fome, porque deixava de comer para n�o faltar nada para ele”.
Reinilda n�o sabia na �poca, mas tornara-se uma microempreendedora. Com muito esfor�o, conseguiu juntar R$ 200 e teve a ideia de comprar uma m�quina de crepe, puxar uma extens�o da casa onde morava e vender crepes na rua. Mas a m�quina custava R$ 500. Foi quando soube por uma amiga do Banco do Povo - Cr�dito Solid�rio, uma organiza��o n�o governamental (ONG) que faz empr�stimos a juros baixos para empreendedores de baixa renda.
Ela conseguiu um empr�stimo de R$ 300. Com o dinheiro, comprou uma fritadeira, uma chapa e materiais de cozinha. Meses depois, a fama da confeiteira espalhou-se pela cidade e as coisas come�aram, finalmente, a melhorar para Reinilda.
Em 2013, ela ganhou o pr�mio Pequenas Gigantes: Desafio S�o Paulo para Microempreendedoras, de R$ 5 mil, promovido pela organiza��o social Alian�a Empreendedora. “Fomos tr�s eleitas entre 140 mulheres microempreendedoras. Com o dinheiro reformei meu com�rcio, que ficou bem mais bonito”, conta.
Mulheres como Reinilda representam quase a metade dos pequenos empres�rios brasileiros (47,4%), segundo o Servi�o Brasileiro de Apoio �s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). No entanto, apenas 24% delas solicitaram empr�stimo banc�rio em nome da empresa no primeiro semestre de 2015. O estudo do Sebrae aponta ainda que as mulheres costumam pedir valores cerca de 50% menores que os homens.
De acordo com o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, dos 5,6 milh�es de empres�rios cadastrados na categoria Microempreendedor Individual (MEI), 77% querem crescer e se tornar micro ou pequena empresa. Entretanto, menos da metade se relaciona com bancos como pessoa jur�dica. “Cerca de 80% utilizam financiamento que n�o passa por institui��es financeiras, como negocia��o com fornecedores e cheque pr�-datado. Nos �ltimos cinco anos, apenas 40% dos empreendedores individuais obtiveram empr�stimo em bancos. Isso mostra que existe espa�o enorme de cr�dito para os microempreendedores individuais. E os empreendedores fogem dos bancos por causa das alt�ssimas taxas de juros”, explica Afif Domingos.
Reinilda � exce��o nesse universo in�spito para os pequenos empres�rios. Abriu a lanchonete Sabor e Cia, onde vende doces, lanches e salgados, em Santo Andr� (SP), faz encomendas para festas em diferentes cidades de S�o Paulo e costuma receber pedidos de bolos de artistas do mundo televisivo.
Ela continua pegando empr�stimos no banco, mas agora no limite do teto – cerca de R$15 mil –, para garantir capital de giro. Prestes a concluir um cursos de confeitaria e panifica��o e com certificados internacionais na �rea, a empres�ria n�o tem descanso. Faz em m�dia um bolo por dia, com a ajuda de uma assistente, d� palestras e faz assessoria. Seu sonho agora � abrir um caf� para vender seus quitutes e abrir uma escola de confeitaria e passar seus conhecimentos para mulheres que como ela t�m talento, s�o empreendedoras, por�m n�o t�m recursos.
Para quem est� come�ando ela aconselha “a burocracia � muito cruel para os pequenos. Muitos acabam desistindo. Mas hoje h� v�rios cursos online sobre gest�o financeira, de assessoria, cursos do Sebrae gratuitos. H� cr�ditos solid�rios, basta juntar um grupo de amigas ou conhecidos”.
“N�o pode desistir. Comecei com R$ 10. N�o tenha vergonha de perguntar, bater porta, de ir atr�s do cliente. Fidelize seu cliente. E capacite-se”, aconselha.