
Prancheta e planilhas para levantamento de pre�os em m�os deram um sentido especial na manh� de ontem � rotina de visitas a supermercados de Belo Horizonte das donas de casa Darcy Mattos de Azevedo, de 78 anos, Cassilda Maria de Almeida, de 73, e Doroty Gomes Brand�o, 74. Em grupo, elas retomaram neste m�s o trabalho volunt�rio de pesquisadoras de pre�os e o papel de fiscais da infla��o, 30 anos depois de terem sa�do �s ruas com objetivo semelhante. �quela �poca, tentaram frear o custo de vida que levou ao lan�amento do Plano Cruzado em 1986, envolvendo congelamento de pre�os por um ano e a promessa da nova moeda de estabilizar a economia.
Experi�ncia n�o falta ao MDC-MG e nem a elas, que naquela sexta-feira de fevereiro de 1986 ouviram o ent�o presidente Jos� Sarney apelar para que os brasileiros se tornassem fiscais dos pre�os, e desde ent�o “fiscais do Sarney”, como ficaram conhecidas as donas de casas que atenderam ao apelo. “A infla��o de hoje est� muito alta, Deus nos livre”, afirma Darcy Mattos, uma das fundadoras do movimento e respons�vel pela a��o conjunta da institui��o que resultou em alguns acordos com redes de supermercados nos anos seguintes ao fracasso do Plano Cruzado para conter reajustes dos pre�os.
“N�o vamos nos esquecer de que a infla��o pode come�ar pequeninha. Temos hoje a necessidade de conter os pre�os, inclusive porque o desemprego est� alto e a renda diminuiu”, disse Darcy, enquanto se preparava para seguir ontem no grupo de cinco donas de casas encarregadas de fazer a coleta dos pre�os de 13 itens de material de limpeza para a pesquisa, que dever� ser publicada ainda nesta semana no site do MDC-MG. Cassilda Almeida, tamb�m aposentada, n�o se esqueceu de uma das grandes dificuldades de cumprir a fun��o de fiscal do Sarney. “Naquele tempo, muita gente que nos via logo mandava que f�ssemos para o tanque de lavar roupa ou o fog�o. Havia um preconceito”.
Nos pr�prios supermercados, conta Doroty Gomes Brand�o, o relacionamento com a dire��o das empresas era complicado, a despeito do solene pedido feito por Sarney no an�ncio do programa de estabiliza��o. “Cheg�vamos �s lojas e �ramos barradas. Tempos depois, quando conseguimos fazer acordos de cavalheiros com as redes eles valeram durante tr�s meses, mas conseguimos esse controle mais voltado para o p�o de sal”, diz. No cen�rio atual da economia, a preocupa��o delas vai al�m da alta em si da infla��o, passando pelas varia��es encontradas entre supermercados de mesmo padr�o e as promo��es travestidas de oferta. Em janeiro, o IPCA alcan�ou 1,27%, medido pelo IPCA, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�sitca (IBGE).

Sa�das
A leitura que o grupo de donas de casas e pesquisadoras faz do papel de fiscais da infla��o � de que a pesquisa de pre�os � a principal arma do consumidor num Brasil que n�o mais comportaria medidas como o congelamento ou tabelamento de pre�os, observa a professora aposentada, dona de casa e pesquisadora do MDC-MG Maria das Gra�as de Castro, 71. O congelamento de pre�os adotado h� 30 anos se mostrou malsucedido, resultando no sumi�o de produtos dos supermercados, a exemplo das carnes.
“As pessoas estavam nos cobrando nas ruas e pelo telefone que volt�ssemos ao trabalho ativo de pesquisa e orienta��o nas lojas e nas ruas”, afirma Maria das Gra�as. Doroty Brand�o, por sua vez, vai logo avisando: “Quem tem pregui�a de pesquisar acaba pagando muito mais caro.” Darcy Mattos est� convencida de que a �nica solu��o para o consumidor, agora, � pesquisar os pre�os para fugir dos aumentos.
As dicas para a pesquisa s�o simples, mas certeiras, de acordo com o grupo. Antes de comprar, o ideal � levantar os pre�os em tr�s a quatro supermercados, al�m de consultar as pesquisas disponibilizadas na internet por institui��es de defesa do consumidor e especializadas no segmento. O resultado s� � v�lido se comparados produtos e marcas com n�veis pr�ximos de qualidade.
O cuidado para identificar se as promo��es oferecidas s�o vantajosas implica verifica��o da data de validade, do estado de conserva��o da mercadoria e a checagem se outros bens comercializados na loja n�o exibem pre�os mais altos que os da concorr�ncia, o que, de fato, eliminaria a vantagem da oferta se o consumidor precisar comprar uma lista de itens. Denunciar e reclamar dos abusos na pr�pria loja � outro caminho importante para conter os pre�os.
Movimento pretende orientar consumidor
Em conv�nio firmado com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e o Fundo de Defesa de Direitos Difusos do Minist�rio da Justi�a, o Movimento das Donas de Casa de Minas Gerais (CDC-MG) vai organizar e processar 24 pesquisas de pre�os durante o ano, como parte de um projeto que inclui a realiza��o de oficinas sobre rela��es de consumo e produtos. Segundo a coordenadora da institui��o, com sede em Belo Horizonte, Solange Medeiros, ser� tamb�m organizada uma banca de advogados para atender � popula��o. Uma primeira bateria de consulta j� foi disponibilizada.
“O nosso objetivo � educar o consumidor”, afirma Solange. O projeto do MDC-MG, que foi aprovado pelo minist�rio, com recursos de R$ 300 mil, tem como mote o combate ao desperd�cio e ao que � desnecess�rio. O conv�nio possibilitou que a institui��o se aparelhasse para realizar as pesquisas, depois de cerca de 1,5 ano do �ltimo acordo do mesmo g�nero firmado pelo MDC-MG para financiar levantamento de pre�os.
A pesquisa realizada ontem teve como foco produtos essenciais de limpeza, entre eles, sab�o em p�, �gua sanit�ria, detergente l�quido e amaciante de roupas. O calend�rio come�ou neste m�s com levantamento dos pre�os de alimentos. De acordo com o grupo de donas de casa que foi ontem a supermercados das regi�es de Santa Efig�nia e Funcion�rios, houve aumentos de pre�os preocupantes desde outubro do ano passado entre 8% e 10%.
Outros dois problemas identificados s�o o baixo volume de promo��es nos supermercados e as varia��es muito pequenas dos pre�os de alguns itens, o que denota falta de concorr�ncia entre as redes supermercadistas. Nas lojas, as pesquisadoras observaram, ontem, com frequ�ncia, a inexist�ncia de pre�os nas g�ndolas e nos produtos.
Mem�ria
Pre�os congelados e desabastecimento
Lan�ado em 28 de fevereiro de 1986, o Plano Cruzado se prop�s a controlar e reduzir a infla��o, usando instrumentos como o congelamento dos pre�os de produtos e dos sal�rios, e uma nova moeda, o cruzado (Cz$), em substitui��o ao cruzeiro. O cruzado surgiu avaliado em 1 mil cruzeiros. Pela TV, o ent�o presidente Jos� Sarney convocou a popula��o para ajudar a conter os pre�os. “(...) este programa tem que ser um programa do povo brasileiro. (…) Cada brasileiro ou brasileira ser� e dever� ser um fiscal dos pre�os. E a� posso me dirigir a voc�, brasileiro ou brasileira, para investi-lo num fiscal do presidente, para execu��o fiel desse problema em todos os cantos deste Brasil”, pediu. No fim daquele ano, o plano j� fazia �gua. Apesar de os “fiscais do Sarney” (foto) denunciarem remarca��es de pre�os, meses ap�s o an�ncio, sem poder reajustar, produtores e comerciantes deixaram de entregar produtos, o que levou ao desabastecimento no pa�s. Nos dois anos seguintes, o governo tentou conduzir, da mesma forma sem sucesso, dois planos de estabiliza��o, Bresser, baixado em 1987, quando o ministro da Fazenda era o economista Luis Carlos Bresser Pereira, e Ver�o, lan�ado em janeiro de 1989, sob a gest�o na pasta de Ma�lson da N�brega.
Enquanto isso...
...Vendas caem nas g�ndolas da capital
O faturamento dos supermercados de Minas Gerais subiu 0,76% em janeiro ante o mesmo m�s de 2015. Com rela��o a dezembro, a receita bruta do setor em Minas recuou 18,58%. Os dados, deflacionados pelo IPCA, s�o do Term�metro de Vendas, pesquisa mensal da Associa��o Mineira de Supermercados (Amis) com empresas de todo o estado. O desempenho do estado na compara��o com o pa�s na rela��o anual foi melhor. Ontem, a Associa��o Brasileira de Supermercados (Abras) informou que as vendas reais dos estabelecimentos no pa�s diminu�ram 3,38%. J� ante dezembro, a queda foi de 19,64%. “A queda de janeiro ante dezembro � normal, pois dezembro � sempre o m�s de maior venda no ano motivado pela demanda ocasionada pelo Natal e ano novo”, explicou a Amis, em nota.
