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Estado de Minas

Sobe e desce de pre�os nas feiras livres desafiam comerciantes

Maior dificuldade � manter vendas diante do vaiv�m dos mercados


postado em 15/05/2016 06:00 / atualizado em 15/05/2016 07:39

Aversão ao risco de gastar mais do que o orçamento afugenta consumidor e exige mais do comerciante Procópio Filho(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
Avers�o ao risco de gastar mais do que o or�amento afugenta consumidor e exige mais do comerciante Proc�pio Filho (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
As curvas hist�ricas desenhadas desde o fim do ano passado pelas a��es de empresas e o d�lar, ao sabor da crise pol�tica e da economia brasileira, parecem incompreens�veis do balc�o onde o comerciante Edson Umbelino de Ara�jo vende queijos, fatiados e enlatados entre variada gama de itens de latic�nio h� 27 anos. O sobe e desce de pre�os que ele conhece bem e administra com esfor�o jamais visto na experiente carreira de negociador de alimentos nem se assemelha aos sofisticados relat�rios analisados freneticamente pelos investidores e corretores da bolsa de valores, mas segue a mesma l�gica.


Corte de despesas com energia e atenção especial aos desejos da clientela ajudam Edson de Araújo a manter queijaria(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
Corte de despesas com energia e aten��o especial aos desejos da clientela ajudam Edson de Ara�jo a manter queijaria (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
Em economia, se h� dois fatores sens�veis �s turbul�ncias que o Brasil vem enfrentando, o bolso e a barriga seguem � frente e juntos, basta observar como pulsam os mercados livres de alimentos e bebidas, na mesma toada dos mercados de c�mbio e capitais, guardadas as especifidades de cada um. Por tr�s da gangorra que move os pap�is da Usiminas ou da Petrobras, determinantes nas varia��es do Ibovespa, o �ndice das a��es mais negociadas na Bolsa de Valores de S�o Paulo (Bovespa), a chamada lei da oferta e da procura dita as cota��es.

Regra id�ntica determina a tend�ncia dos pre�os do queijo canastra, do presunto e do milho comercializados pelo dono do Latic�nio Ara�jo no Mercado Novo de Belo Horizonte. Quanto maior for a oferta das a��es e dos alimentos, menores ser�o os pre�os e disso dependem os ganhos das empresas e de comerciantes como Edson Ara�jo. Com a crise econ�mica que fez as vendas ca�rem at� 50% no antigo mercado de BH, o desafio cresceu, assim como a destreza exige mais dos investidores para n�o perderem dinheiro no mercado financeiro.

“Hoje a gente faz o que o cliente quer para n�o deixar de vender. Os brasileiros sentem a incerteza do que vir� e nos sentimos como num atoleiro”, desabafa Edson Ara�jo. Para reverter a baixa das vendas e manter o neg�cio, ele passou a conceder descontos aos clientes, diversificou o estoque para atender vendedores ambulantes de cachorro-quente e lan�ou uma cruzada pela redu��o das despesas. O foco principal foi a conta de luz, que encareceu de R$ 1.100 em dezembro de 2015 para R$ 2,7 mil em mar�o �ltimo.

A realidade dos pap�is na Bovespa tamb�m � de queda neste m�s, que na sexta-feira havia alcan�ado 3,91%, influenciada pela desvaloriza��o de a��es de grandes companhias. A volatilidade dos pre�os que tem acompanhado essas a��es n�o � diferente na rotina do comerciante de hortali�as e frutas Leonardo Santos Silva, que comanda com o pai, Josias, a empresa Rei do Tomate, tamb�m instalada no Mercado Novo. “Os clientes tentam enxugar o or�amento e s� compram o b�sico para a mesa. Querem pre�o melhor, qualidade e prazo para pagar. Se n�o oferecemos n�o h� venda”, afirma.

Al�m de enfrentar tempos bem distantes do burburinho de 3 mil consumidores que frequentavam todo dia o andar t�rreo ocupado pela feira livre no estabelecimento, preocupa Leonardo a dificuldade de lidar com a varia��es dos pre�os de alimentos considerados carros-chefes do com�rcio. A batata-inglesa, que h� tr�s meses custava R$ 2 o quilo, j� � vendida a R$ 7 o quilo. Tomate de boa qualidade � encontrado na banca a R$ 5 o quilo, quando em fevereiro era comercializado entre R$ 1,50 e R$ 2.

O desafio vale tamb�m para o consumidor, de fazer boas escolhas em momentos de tempestade, crise econ�mica e crise h�drica, que apesar da chuva de ver�o ainda reflete nos pre�os dos alimentos. O aumento do desemprego tamb�m mudou o perfil dos clientes. Eles est�o mais desconfiados e avessos aos riscos, como boa parte dos investidores, sobretudo os pequenos aplicadores no mercado de a��es. Em consequ�ncia, optam por frutas e legumes da �poca, por queijos mais baratos e pela pesquisa de pre�os, que vale para praticamente tudo, dos cereais, frutas secas aos doces.

PREG�O NA FEIRA  No Mercado Central de Belo Horizonte, o barulho vindo das bancas avisa que o preg�o est� aberto para negocia��o com os clientes, o que inclui convites para degusta��es, apresenta��o de produtos frescos que acabaram de chegar e a simpatia de sempre para ganhar a prefer�ncia. Aos 80 anos, o comerciante Ant�nio Proc�pio Filho completou 63 no centro de compras. Depois de tanta experi�ncia, ele garante que na Frutas Proc�pio pode ser encontrado um dos mais doces abacaxis de Belo Horizonte. Tanto a fruta de polpa amarela e suculenta como a melancia s�o vendidas tamb�m em fatias.

�rdua t�tica de convencer

Rosymeire Albergaria nunca viu turbulência igual e adota medidas como promoções de preços (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
Rosymeire Albergaria nunca viu turbul�ncia igual e adota medidas como promo��es de pre�os (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
Nos �ltimos seis meses, Proc�pio tem percebido que a maior parte dos clientes que frequenta a banca tem mostrado avers�o ao risco, preferindo apostar em frutas tradicionais, que oferecem retorno garantido. Proc�pio Filho sente que a crise aumentou o conservadorismo e muitos evitam investir um pouco mais que o previsto no sacol�o.

H� mais de seis d�cadas no mercado, o comerciante calcula que essa � pior crise que enfrentou, “pela sua longa dura��o.” Especialista nos meandros do mercado financeiro, o consultor e professor Paulo Vieira explica que os mercados de alimentos e bebidas, assim como os de c�mbio e de capitais, partem do princ�pio b�sico da oferta e da demanda. “O risco que o comerciante e o cliente enfrentam quando o tomate estraga no transporte e os pre�os s�o afetados por isso � como o risco da varia��o cambial (a valoriza��o do real) quando um investidor recorre a empr�stimos no exterior para aplicar os recursos no pa�s.

Se as perspectivas duvidosas para a economia chinesa, a cota��o internacional das commodities (produtos agr�colas e minerais cotados no mercado internacional) e a turbul�ncia que tomou conta do cen�rio pol�tico brasileiro deixam o cora��o da bolsa se transformar em um eletrocardiograma, a seca, a infla��o e a crise que aperta o bolso do consumidor ditam os pre�os nas feiras livres e muitas vezes transformam a ida ao mercado em um susto. Nas bancas, os pre�os s�o capazes de subir em velocidade espantosa, assim como podem despencar com a sazonalidade ou uma boa not�cia na produ��o. Para o comerciante que sempre enfrentou os altos e baixos da agricultura, o desafio � ter novas estrat�gias para convencer o cliente.

Rodrigo Oliveira come�ou a trabalhar na loja do Itamar, seu pai, aos 18 anos e l� se v�o 22 de experi�ncia. Al�m de doces, ele vende os mais variados queijos de Minas, com direito a produtos de origem certificada e paladar sofisticado. “Somos conhecidos pela qualidade, mas essa crise fez o consumidor ficar mais desconfiado, pesquisar mais e buscar pre�o, por isso diversificamos o nosso mix”, conta Rodrigo. Para fazer frente � queda do movimento desde o segundo semestre do ano passado, na ordem de 15%, Rodrigo expandiu a oferta oferecendo produtos com pre�os para todos os bolsos. “Foi uma medida contra a crise.”

Dona de um restaurante especializado na comida t�pica mineira, Rosymeire da Concei��o Albergaria n�o deixa a dever em nada ao dia agitado dos corretores de a��es e t�tulos. Para tentar equilibrar as contas e manter cinco empregados os dias s�o curtos. “A crise � violenta. Por mais que a gente trabalhe n�o tem sido f�cil pagar as despesas, mas o problema est� a� e temos de enfrentar a situa��o”, afirma. O faturamento caiu cerca de 70% neste ano, enquanto os gastos com luz e g�s dobraram no �ltimo ano. Para driblar o mau tempo nos neg�cios, ela colocou o famoso tropeiro da casa em promo��o e se prepara para fornecer marmitex.

Maria Luzia dos Santos, dona da Mercearia Santo Ant�nio, acredita que a maior press�o dos custos vem dos produtos industrializados, que sofrem menos os benef�cios da sazonalidade, que muitas vezes tem um vi�s positivo, ajudando a frear a alta de gr�os como o feij�o. Guiomar L�cia de Almeida, de 85, tem 70 anos de experi�ncia em feiras livres, e h� 41 est� no mercado do Cruzeiro, na regi�o Sul da capital. O carro-chefe do neg�cio � o tomate, bem vermelho e sadio, mas nem o tempo e a experi�ncia conseguem driblar os pre�os e acalmar o sobe e desce desse gr�fico.

“O tomate � complicado, sol estraga o tomate e o frio n�o o deixa amadurecer.”  No mesmo mercado, Carlos Magno Freitas, de 55, mais conhecido como Catatau, esteve a tempo de fechar as portas no ano passado. O faturamento caiu de R$ 3 mil ao dia para R$ 200. Foi a� que ele teve a ideia de se trancar no quarto at� pensar em algo para driblar a crise. Decidiu comprar frutas, verduras e legumes direto do produtor, o que lhe deu espa�o para colocar diversos itens em promo��o e movimentar a banca. “A estrat�gia deu certo, estou evitando os atravessadores. No �ltimo ano abri duas outras lojas, uma em Santa Luzia e outra no Bairro Funcion�rios.”

A pol�tica de Catatau tem dividido opini�es. Entre os seus colegas de profiss�o h� quem aprove a medida e quem n�o gostou da t�tica usada para reduzir pre�os em tempos de crise. “Entre os produtos que mais oscilam no sacol�o est�o a batata, a cebola e o tomate, at� mesmo esses itens eu consigo colocar em promo��o”, avalia Catatau.
 


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