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Estado de Minas

Crise e concorr�ncia levam a preju�zo com food truck em Belo Horizonte

Aqueles que apostaram nas empresas sobre rodas na capital agora lamentam a decad�ncia do mercado


postado em 03/07/2016 07:00 / atualizado em 03/07/2016 07:45

Leonardo Schettini, do Te dei um bolo, confirma que as dificuldades aumentaram, mas ele vai
Leonardo Schettini, do Te dei um bolo, confirma que as dificuldades aumentaram, mas ele vai "persistir" (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Tinha tudo para dar certo: sem aluguel, comida de qualidade e a possibilidade de ir at� o p�blico, aonde ele estiver. Mas, no momento em que a economia n�o vai bem, muitos empreendedores d�o marcha � r� no sonho de ter um food truck em Belo Horizonte. A febre, que come�ou h� cerca de dois anos, acompanhou a moda de S�o Paulo e a tend�ncia dos Estados Unidos e, agora, est� saturada em BH, segundo reclama quem se aventurou no ramo. Tanto � que, atualmente, s�o, em m�dia, 160 ve�culos com o servi�o nas ruas da capital, sendo que, destes, 50 est�o � venda. Quem d� adeus � �rea se queixa da concorr�ncia, do trabalho �rduo (das 6h � meia noite, todos os dias) e reconhece que � ilus�o o retorno financeiro r�pido. Com a crise, houve queda de cerca de 40% da clientela e at� a venda dos ve�culos de quem quer recuperar os gastos est� estacionada.

Com o desemprego – mal que atinge 11 milh�es de pessoas no pa�s e 1 milh�o em Minas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) –, muitas pessoas apostaram na novidade do restaurante sobre rodas e na oportunidade de “surfar na onda” do que, na teoria, era o potencial do momento. “Mas essa ‘onda’ passou e agora est� em decl�nio”, comenta o analista do Sebrae-MG, Haroldo Santos Ara�jo.

Esse “desencanto” � constatado pelo presidente da Associa��o Mineira de Food Trucks, Felipe Corr�a. Segundo ele, h� uma procura grande de pessoas desempregadas, interessadas pelo ramo. Por�m, o que se esperava com o servi�o mudou. “Aumentou a procura para abrir o neg�cio, ao mesmo tempo em que caiu a demanda por esse tipo de alimenta��o. S�o 160 food trucks em BH, sendo que, destes, 50 est�o � venda”, revela. Apontando que a ilus�o com o trabalho � um dos impulsos que atrai quem busca novas formas de renda.

“Pensam que o trabalho � f�cil e que se ganha muito, mas n�o � a realidade. Quem trabalha com isso tem que se dedicar, pelo menos, 17 horas do dia. N�o � colocar o carro na pra�a e vender. Os empreendedores mal dormem para conseguir ter lucro”, comenta Corr�a. Ele diz que, no auge do servi�o, houve quem dissesse ganhar R$ 40 mil por m�s e que, na verdade, o lucro l�quido, atualmente, tem sido de R$ 4 mil. “� se dedicar de segunda a segunda. Acordar cedo, ir �s compras, fazer toda a produ��o e, depois, ir para a rua vender. O food truck n�o � a salva��o de ningu�m”, avisa, comparando a situa��o brasileira com a dos EUA. “L�, desempregados foram para as ruas e montaram esse tipo atividade. Por�m, eles s�o organizados e deu certo. Aqui, a hist�ria � outra.”.

Nos Estados Unidos, com a crise de 2008, muitos chefs fecharam seus restaurantes e foram para as ruas oferecer comida sofisticada. “Mas l� deu certo por uma quest�o cultural. O norte-americano n�o almo�a, lancha. Aqui, temos o h�bito do arroz com feij�o”, comenta Haroldo Santos. Quem est� ou esteve nas ruas sabe disso. H� dois anos, quando estourou a febre do servi�o em BH, Lucas Lincoln criou o Pasteleiro Maluco, um food truck especializado em pastel. “Na �poca, consegui beber a �gua limpa. Eram, no m�ximo, 20 carros em BH e era poss�vel vender R$ 2 mil por noite. Hoje, na pra�a do Bairro Castelo, por exemplo, s�o 65 carros e se voc� consegue vender R$ 1 mil na noite tem que dar gra�as a Deus”, diz.

Lincoln diz que o servi�o deu certo no come�o, mas, agora, ele est� vendendo o seu food truck e pensa em ter uma loja para comercializar os past�is. “As pessoas est�o perdendo o emprego e pegando o acerto para investir no ramo. Mas a realidade � mais dura do que parece”, garante. Ele acorda todos os dias �s 8h e s� volta a dormir � meia noite, quando j� desmontou todo o ve�culo. “Fico ref�m desse trabalho e n�o estou vendo a minha filha crescer. Al�m do mais, o lucro j� n�o � mais o mesmo. Tudo aumentou no supermercado: a mu�arela que comprava a R$ 12, hoje est� a R$ 19. E n�o podemos repassar para a clientela, porque a demanda j� est� caindo”, diz.

DECEP��O NOS EVENTOS o pequeno empres�rio critica ainda que, em eventos que re�nem uma grande quantidade desse carros, s�o cobrados percentuais sobre o lucro. “Pagamos, em m�dia, 30% do que lucramos no dia durante um evento no Mineir�o, por exemplo, sem contar que h� uma taxa de R$ 150 para estar l� dentro. Se voc� contar com a m�o de obra e os custos, lucra R$ 400 apenas”, diz Lincoln. Leonardo Tonidandel Schettini, dono do food truck Te dei um bolo, por exemplo, n�o vai mais em eventos. Ele conta que esses encontros s�o como loteria: nunca se sabe o n�mero certo de participantes e, muitas vezes, h� desperd�cio de comida. Ele � formado em telecomunica��es e, depois de desempregado, montou o neg�cio, h� um ano e meio. “No come�o �ramos oito restaurantes sobre rodas em BH. Nos eventos, com 2 mil pessoas, havia cliente para todo mundo. Hoje, n�o h� esse p�blico todo e s�o 70 food trucks no mesmo espa�o”, critica.

Ele conta que acorda todos os dias �s 5h e s� vai dormir meia-noite, por conta do trabalho. “As pessoas acharam que era ‘oba-oba’, mas n�o �. H� muita dedica��o, e, atualmente, com a crise, a queda nas vendas foi de 70%”, diz. Ele come�ou vendendo s� bolos, mas viu que seria necess�rio diversificar e passou a oferecer salgados, como p�o com lingui�a a R$ 10, p�o de queijo a R$ 2,50, entre outros. Para ele, s� vai sobreviver no ramo aquele que tiver diferencial. “Eu vou persistir”, garante.

Léo reduziu o valor do food truck. Mesmo assim, não consegue vendê-lo(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
L�o reduziu o valor do food truck. Mesmo assim, n�o consegue vend�-lo (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

Faltam compradores para os ve�culos

Com o mercado saturado, abandonar o food truck est� mais dif�cil. Aqueles que compraram ve�culos customizados e com cozinhas inteiramente adaptadas investiram entre R$ 70 mil e R$ 200 mil. Agora, os que querem vender os carros, recuperando o que foi gasto neles, est�o h� meses � espera de comprador. Tanto � que o valor da revenda, em alguns casos, est� saindo pela metade do que valeu tempos atr�s. Por isso que, sem conseguir uma boa negocia��o, os empreendedores se mant�m na rua para equilibrar as contas at� abandonar de vez o ramo.

O neg�cio de Welerson Cossenzo, mais conhecido como L�o, entra na estat�stica de 50 ve�culos � venda em BH. Ele trabalhou por mais de 20 anos na empresa de usinagem do pai, mas a crise econ�mica impactou o neg�cio da fam�lia e ele resolveu empreender. “Estudei muito sobre esse mercado e os n�meros eram mesmo muito bons”, recorda. Assim, h� um ano ele criou o Le Polentine Food Truck, que vendia sandu�che italiano, nhoque, polenta e pastel. Customizou o ve�culo em S�o Paulo e gastou mais de R$ 100 mil nele. “Mas nesse ramo tem que ter perfil e os n�meros n�o s�o t�o bons assim”, diz.

Sem conseguir se dedicar 100% � atividade, L�o conta que quando entrou no neg�cio contava com a parceria da esposa. “Mas ela quis se separar de mim, e eu n�o consegui ficar com o food truck sozinho. � necess�ria uma dedica��o exclusiva, de segunda a segunda”, diz. H� tr�s meses, ele resolveu sair do ramo e p�s o carro � venda. Pediu, a princ�pio, R$ 120 mil, com todo o maquin�rio, sendo dois fog�es industriais, duas fritadeiras uma a g�s e outra el�trica, exaustor paralelo, gerador silenciado e jogos de mesa. “Era comprar e sair para trabalhar. Mas o pessoal est� sem dinheiro e eu tive que reduzir o valor”, diz.

H� um m�s, o restaurante sobre duas rodas do L�o est� sendo vendido a R$ 65 mil. “N�o quero mais mexer com esse tipo de neg�cio. Sou consultor de vendas de lingerie. Vou investir nisso”, diz. Ele conta que muitas pessoas que se interessam pelo carro oferecem a troca por outro e, enquanto n�o o vende –  para equilibrar as contas –, ele continua rodando pelas ruas, pelo menos tr�s vezes na semana.

Quando conseguir vender seu Cine food truck, Larissa Malta e o marido v�o embora do pa�s para morar na Irlanda. H� cinco meses, ela entrou no segmento de alimenta��o e, como estava no furac�o da crise econ�mica, n�o sentiu tanto a queda da clientela. “Tinha uma empresa de salgados fitness. Por�m, vimos que no mercado n�o tinha tanta sa�da e o p�blico do food truck gosta de alimentos mais cal�ricos”, diz. Ela conta que teve um bom retorno, mas acha o trabalho cansativo e os empreendedores do ramo, desunidos.


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